sábado, 15 de dezembro de 2012

Armas matam pessoas, sim.

Vamos chegando no final de 2012 e somos surpreendidos, mais uma vez, por um atentado com armas de fogo nos Estados Unidos (mais uma vez). O sétimo só nesse ano. Se já não fosse terror o suficiente o último em que um maluco vestido de Coringa entrou atirando num cinema, matando 12 pessoas e ferindo 38, agora temos um atirador, numa escola primária, que matou 20 crianças e 6 adultos. Foi o segundo ataque com mais vítimas na história dos Estados Unidos (em 2007 um estudando coreano deixou 33 mortos numa universidade na Virginia), mas que choca ainda mais por ter sido cometido contra crianças.

Ataques como esse sempre levantam a questão da regulamentação das armas no país, que é próximo a 0. Obama comentou, emocionado, sobre o atentado de hoje, mas falou que não é hora de discutir o assunto. Na verdade, é o momento perfeito. As pessoas precisam falar sobre isso. A cada vez que o assunto não é discutido, é tarde demais. Às vezes é melhor discutir no calor do momento do que adiar indefinidamente a discussão enquanto inocentes morrem. E mais difícil do que entender como uma pessoa é capaz de matar crianças a sangue frio, é entender como, após tantos massacres como o de hoje, tem gente que consegue não defender um controle rigoroso de armas nos EUA. Desde Columbine, em 1999, estima-se que aconteceram 14 ataques a escolas em todo o mundo. Nos Estados Unidos, nada menos que 31. Mais que o dobro.

"Mas é um problema cultural lá, eles sempre tiveram armas". Já passou da hora dessas pessoas (a Direita, principalmente) pararem de pensar no próprio nariz. A mesma lei que as permite ter um monte de armas, incluindo armamentos militares, para "se defender" permite que esses psicopatas cometam esse tipo de atentato todo ano. Sempre têm aqueles que vão dizer: "Armas não matam pessoas. Pessoas matam pessoas". É como se quisessem tirar a responsabilidade da arma de fogo, quando o próprio objetivo dela é ferir ou matar — daí o nome, arma. Fora que é a mesma lógica que dizer que aviões não voam. Pessoas voam. Um é meio para o outro. Ok, pessoas matam com outros tipos de arma, mas não tem como comparar a letalidade. Hoje mesmo na China um homem foi preso depois de ferir 22 crianças com uma faca. Quantos mortos? NENHUM. Em 2010 teve uma série de atentatos com facas a escolas, também na China, com o total de 20 mortos. O número de vítimas fatais num atentado com armas de fogo é massivamente superior ao com facas, por exemplo. E o que a China fez: obrigou pessoas que compravam facas grandes a se registrar com suas carteiras de identidade. Não foi uma medida extrema (até porque facas não tem como o único objetivo matar), mas ajudou a controlar a situação na época.
E se alguém me responder por que um cidadão normal precisa desse tipo de arma para se defender, ajudaria nessa discussão:


Sim. Essa foi uma das armas usadas no Massacre na escola de Connecticut.

Aí vem um americano no twitter me perguntar: "Então você acredita que criminosos seguem leis de armas (no caso, de controle de armas)? Se uma lei para desarmar cidadãos fosse aprovada, apenas criminosos estariam armados. O quão seguro é isso?"

O que eu penso, e que foi mais ou menos a minha resposta: Aham, todo mundo portando armas é MUITO mais seguro... Quantos desses atiradores, foram parados por cidadãos comuns armados? Geralmente eles têm três fins: são presos (o mais raro), se matam, ou são mortos por policiais. Muitos criminosos nos EUA compram armas legalmente. Tendo um controle, criminosos não parariam de comprar armas, mas pelo menos dificultaria o processo de conseguí-las, e o Estado não estaria "patrocinando" essas tragédias. Como morador de um país violenta, onde cidadãos comuns não compram armas, tenho certeza absoluta que se tivéssemos armas, não adiantaria nada. E que uso teria pra mim um rifle automático com mira e o escambau?

Não só nos Estados Unidos é permitido que cidadãos comprem armas, mas é lá que a maior incidência de eventos violentos como o de hoje ocorre. Meu objetivo não é entrar na discussão do porquê que tantas pessoas fazem isso. Mas sim o porquê de tantas pessoas terem ferramentas para fazer isso.
Quando você tem um paciente suicida, a primeira coisa a fazer é tirar a faca (ou qualquer coisa que ele possa usar contra si mesmo) de perto. E então ele será tratado psicologicamente. Talvez esse seja o caminho a se tomar. Tirar, ou controlar, a ferramenta que causa a destruição, para então tratar a sanidade mental de uma nação onde pessoas têm sofrido tanto com guerras e tragédias.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Skyfall (e nova saga do 007 até aqui)

Em meados de 2005, depois de muita especulação, Daniel Craig foi anunciado como o novo intérprete de James Bond. Pierce Brosnan, seu último intérprete, não renovou o seu contrato após quatro filmes. A escolha não foi muito bem aceita pelo público já que Craig, loiro, baixo e não tão bonito, quebrava os estereótipos do 007 que foram criados ao longo da filmografia do agente secreto.
Essa nova fase seria um reboot da série, sem qualquer relação direta com os filmes anteriores. E os novos filmes, começando por "Casino Royale", seriam mais baseados na realidade, sem bugigangas tecnológicas, enquanto apresentariam um James Bond mais inexperiente.

Com o lançamento de "Skyfall", o 3º filme com Craig, aproveito para fazer um apanhado dessa nova etapa do 007 até aqui — mas com o foco no último, claro. A essa altura Daniel Craig se firmou no papel de Bond, afastando as dúvidas quanto a escolha por ele, e a série se consolidou como uma das mais lucrativas dos últimos anos ("Skyfall" vem batendo recordes de bilheterias ao redor do mundo).

Se você não viu os filmes, já aviso da presença de spoilers.

007 - CASINO ROYALE

★★★★☆
Ótimo

Com a missão de contar a origem do agente 007, "Casino Royale" já começa mostrando como James Bond ganhou o status de 00, e sua primeira missão como tal. E logo nesse início já dá pra perceber que veremos que o James Bond de Daniel Craig será bem mais "físico" que os anteriores. Isso se confirma na impressionante cena de perseguição em Madagascar. É até curioso ver o James Bond, todo bruto, tentando de qualquer jeito acompanhar o negão mestre no Le Parkour. Nessa sequência Bond prova que aqueles que dizem que "técnica é superior a força" podem estar errados. Bem errados.
Apesar de ter feito um estrago numa embaixada em Madagascar, o que colocou o MI6 e ele mesmo em capas de jornais, Bond consegue informações que eventualmente o levam a Le Chiffre, um banqueiro que financia organizações terroristas. Desesperado, depois de Bond o fazer perder mais de U$100.000.000, ele organiza um torneio de pôquer em que espera recuperar a fortuna perdida, e continuar vivo (já que o dinheiro que ele perdeu era, na verdade, de seus clientes). A pedido de M, o governo britânico aceita bancar a participação de Bond no torneio contando que, com a derrota de Le Chiffre, ele, sem opções, aceite virar um informante do serviço secreto britânico, em troca de segurança.

Apesar do filme focar bastante no torneio de pôquer, "Casino Royale" não deve nada em ação. Várias cenas são de tirar o folêgo, assim como a bond-girl Vesper, interpretada pela linda Eva Green. Ela é a designada pelo governo para garantir a segurança do dinheiro investido em Bond. Eles acabam se apaixonando, o que, com os eventos que se seguirão, será essencial no desenvolvimento desse "novo" James Bond.

O que mais chama atenção em "Casino Royale" é a humanização "sofrida" por Bond. Sempre o conhecemos como um espião charmoso e mulherengo, mas inalcançável, por assim dizer. Nunca o vimos tão passível de falhas e sentimentos. O James Bond de Daniel Craig é rebelde, quebra regras, apanha bastante (e bate ainda mais), se machuca durante as perseguições, se apaixona... Enfim, parece mais crível. Essa talvez seja a maior pretensão desse reboot da série. E essa característica estará presente e fará parte dos elementos principais nos filmes que seguirão "Casino Royale".

007 - QUANTUM OF SOLACE:

★★★☆☆
Bom

O filme começa quase exatamente onde "Casino Royale" terminou. Um James Bond furioso, para dizer o mínimo, vai atrás daqueles que causaram a morte de Vesper, que o traiu, mas também o salvou. E ele não mede esforços para encontrar respostas, destruindo tudo e todos no seu caminho. Sua busca pelo responsável pela morte de Vesper o leva a uma grande organização terrorista. Tendo apoio até da CIA, a Quantum é praticamente intocável, e Bond é o único que ousa ficar contra a organização, mesmo que isso signifique ficar contra a Agência americana e ao próprio MI6.

"Quantum Of Solace" peca por ser meio confuso. Desde o roteiro às cenas de ação — em certos momentos nem dá pra entender o que está acontecendo; resta-nos presumir que seja lá o que aconteceu seja realisticamente possível, e seguir o filme.

Mas, por outro lado, é um filme que parece que "precisava" ser feito. Trabalhar a forma como os eventos de "Casino Royale" influenciaram James Bond como pessoa/agente era essencial para a saga (além de aprofundar mais a relação dele com M), ainda mais a longo prazo. Olhando superficialmente, para nós pode ter sido apenas uma conclusão da história de "Casino Royale". Mas para Bond, foi uma conclusão da sua história com a Vesper. Passado o período de "luto", o sentimento de raiva e vingança, agora ele pode seguir em frente — e "Skyfall" mostra exatamente isso: um Bond mais maduro.

Para a mitologia do 007, Quantum Of Solace foi útil. Mesmo não tendo sido muito bem executado.

007 - OPERAÇÃO SKYFALL:

★★★★☆
Ótimo
[Pequenos spoilers do filme a seguir]

Muita expectativa se criou por Skyfall. Depois do não-tão-bom "Quantum of Solace", o 3º filme desse "reboot" da saga do 007 tinha o dever de retomar o bom cinema apresentado em "Casino Royale". Para isso, Sam Mendes, um diretor com mais bagagem, foi chamado para dirigir o filme — mesmo que o roteiro seja de Neal Purvis, o mesmo de Quantum. E Mendes cumpre o seu dever, nos entregando um belíssimo filme.

Embora "Skyfall" seja um maravilhoso filme de ação, ele se distancia um pouco dos filmes anteriores do espião mais famoso do mundo (falando desse jeito até fica engraçado). Enquanto a maioria dos filmes — seja da "era" Craig, Brosnan, Connery etc — tem um clima mais "thriller de espionagem" (com bastante ação, é claro), "Skyfall" parece abrir mão da espionagem e foca mais no clima de perseguição. Lá pela metade do filme já descobrimos quem é o vilão e seu objetivo. Ponto. A partir daí o filme se joga de cabeça numa caça de gato e rato (ou rato e rato, quem já viu entenderá). 
Apesar do clima de caça, é claro que existem mais elementos que compõe a trama de "Skyfall", como M respondendo pelos erros do MI6 (inclusive um que quase causou a morte de Bond) e a volta à ativa de Bond, após ser baleado e dado como morto. Porém, tudo serve mais de preparação para o arco principal.

Mas além das incríveis cenas de ação, "Skyfall" guarda como seus maiores trunfos a exploração do passado de James Bond e o seu vilão, atuado por Javier Bardem, que já vai juntando uma coleção de ótimos vilões (vide Anton Chigurh de "Onde Os Fracos Não Tem Vez"). Esses são os maiores diferenciais de "Skyfall" em relação aos seus dois antecessores. Em Casino e Quantum, algumas pistas sobre o passado de Bond são dadas, mas nunca exploradas, e os vilões não eram "pessoais" como Silva. Nele, "Skyfall" encontra um inimigo perfeito para Bond. Um ex-agente (e outrora pupilo de M), que consegue pensar e lutar como ele. A primeira vez que os dois se encontram já é um dos melhores momentos da nova saga, não só pela metáfora que vai comandar o filme, mas pelo humor que alivia o clima de tensão do momento.
São esses dois elementos que fazem de "Skyfall" o filme mais pessoal do 007 (pelo menos dessa nova fase) até aqui.

Numa série tão duradoura como 007 é normal que os novos filmes façam refererências aos antigos, mesmo que eles não se passem num mesmo universo/linha de tempo. Essas conexões, além de demostrarem respeito aos filmes anteriores, servem para atrair o público mais saudosista, fãs dos filmes mais antigos. E o que não falta em "Skyfall", lançado no ano em que a série completa meio século, é referências aos seus predecessores. As referências vão desde citações à bugigangas usadas em filmes anteriores (como caneta explosiva) à um novo "Q",  passando pelo famoso Aston Martin — "Vamos voltar no tempo" diz Bond á M ao ser perguntado para onde vão. Isso é mais um ponto interessante de "Skyfall". Enquanto é o filme que menos se assemelha ao "modelo 007", é o filme que mais parece querer se conectar com os outros. Talvez a escolha por fazer tantas referências seja exatamente simular uma conexão com a série, já que o roteiro não faz isso — não que isso seja defeito, apenas algo diferente. De qualquer forma, as várias referências, que podiam até acabar soando forçadas, se mostram um dos pontos altos do filme.

Não sei se é porque "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" ainda está muito fresco na minha cabeça, mas não pude deixar de notar algumas semelhanças entre as tramas de "Skyfall" e as dos filmes do Batman, de Christopher Nolan. "Skyfall" se passa um tempo depois dos dois filmes anteriores, provavelmente alguns anos, e mostra um herói mais maduro que tem que enfrentar as limitações físicas dos ferimentos e da própria idade. Outros elementos, como um vilão com senso de humor "curioso" e que está sempre a frente dos "mocinhos" (inclusive sendo preso de propósito), também remetem aos filmes de Nolan. Essas semelhanças podem ser apenas coincidências, mas parece que Skyfall bebeu um pouco da fonte de Batman.

Sendo uma história original ou não, o que importa é que "Skyfall" recupera o prestígio da saga. Sam Mendes, que pode voltar para a próxima continuação, faz um ótimo trabalho ao fazer um filme com bastante ação, sem esquecer do desenvolvimento dos personagens. Esse equilíbrio faz de "Skyfall" um dos melhores filmes recentes do 007.

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

O Segredo Da Cabana

★★★★★
Excelente


Apesar da primeira cena, que pode parecer fora de contexto pros desavisados, "The Cabin In The Woods" começa como um filme de terror normal, com a já batida história do grupo de amigos que vai passar uns dias numa cabana longe de tudo. Mas, não se engane, o filme pega essa premissa para fazer algo nunca visto nos filmes de terror e, aos poucos, a história se revela bem mais complexa do que parece.

O filme não chega a ser muito assustador, mas o que acaba conquistando o telespectador nem é o terror, mas a história (e o problema é que fazer uma análise do filme sem revelar detalhes da história é praticamente impossível). Você fica tentando adivinhar o que diabos está acontecendo naquele lugar e formulando várias teorias que vão mudando no decorrer do filme — desde o início dicas vão sendo dadas, mas não antes da metade do filme o espectador consegue ter uma idéia do que está acontecendo. E Joss Whedon mais uma vez não decepciona. Roteirista e produtor (ele deixou a direção para Drew Goddard que co-roteirizou o filme e, apesar de já ter uma boa carreira como roteirista, é novato na direção), ele consegue fazer uma homenagem — ou seria uma "paródia"? — aos filmes de terror ao mesmo tempo em que reinventa o gênero. Ponto para Whedon e Goddard que souberam construir um roteiro coeso, capaz de atiçar a curiosidade do espectador sem subestimar sua inteligência.


O humor negro e as referências à outros filmes de terror também são pontos altos do filme. Desde os esteriótipos dos pesonagens às situações. Marty implorando para Dana não ler a parte em latim de um diário sombrio pode remeter à Evil Dead (ou vários outros filmes, já que ler textos em latim NUNCA é uma boa ideia), enquanto um quebra cabeça em formato de esfera que invoca um monstro lembra Hellraiser, por exemplo. E ainda pequenas coisas, como o porquê de os personagens largarem uma ferramenta que acabaram de usar para matar quem ou o quê os perseguiam. Todas esses detalhes tornam o filme ainda mais divertido.

No elenco destacam-se (além das duas belas mulheres do grupo, claro) Fran Kranz (o maconheiro Marty) e Richard Jenkins (Sitterson). Eu até cheguei a pensar que Chris Hemsworth tinha entrado no filme por causa de "Thor" e "Os Vingadores" (principalmente o último, que foi dirigido por Whedon), mas provavelmente foi ao contrário, já que "The Cabin In The Woods", mesmo sendo lançado só agora, foi filmado em 2009, quando os dois filmes da Marvel nem tinham entrado em produção. O motivo do atraso do lançamento foi que o estúdio queria converter o filme para 3D, mesmo contra a vontade de Whedon e Goddard. O estúdio acabou desistindo e o filme ficou "engavetado" até ser lançado esse ano. Uma curiosidade é que Fran Kranz e Amy Acker trabalharam juntos com Whedon em Dollhouse.


Outra coisa legal é que Joss Whedon e Drew Goddard tiveram tudo para encerrar o filme de uma maneira que desse abertura para uma sequência, que é a tendência na indústria cinematográfica. Mas contrariando isso, eles escolheram terminar de um jeito que praticamente descarta uma continuação, o que achei corajoso. Mais um ponto pro filme (apesar que, confesso, gostaria se rolasse uma continuação).

"The Cabin In The Woods" está na minha lista dos melhores filmes do ano!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os Mercenários 2

★★★★☆
Ótimo

Em 2010 Sylvester Stallone reuniu vários astros de filmes de ação em "The Expendables", traduzido aqui no Brasil para "Os Mercenários". O filme fez sucesso e uma continuação foi confirmada para 2012. Stallone, agora com 66 anos, continua desafiando o tempo e a idade, e volta a liderar o seu grupo de Mercenários nessa continuação que, no geral, supera o original.

"Os Mercenários 2" é um filme sem muita frescura — e por frescura eu quero dizer coisas como direção, roteiro, compromisso com a realidade etc — que tem como único objetivo entreter os espectadores. E consegue com sucesso. Até mais do que o primeiro. O filme é capaz de fazer até a menos nostálgica das pessoas sentir saudade daqueles filmes de ação dos anos 80 e 90, principalmente. Ver astros como Sly, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Chuck Norris e os mais "novos" Jason Statham e Terry Crews juntos contra Jean-Claude Van Damme é um sonho para os fãs dos filmes de Ação assim como ver "Os Vingadores" foi para os fãs de HQ.


Se em "Os Mercenários" as presenças de figurões como Schwarzenegger e Willis eram apenas brindes, na continuação a presença deles é o carro chefe de divulgação, já que eles realmente entram em ação, e os elementos do filme funcionam em função deles. Se por um lado isso é bom — as piadas cheias de referências às carreiras dos atores são um dos pontos altos do filme — por outro isso é ruim, pois faz o filme se distanciar ainda mais da realidade. Porém essa distância é criada de uma forma divertida, que acaba funcionando a favor do filme. Um momento que comprova isso é quando o Chuck Norris aparece pela primeira vez. A cena é absurdamente engraçada. Não que o primeiro seja um exemplo de filme baseado na realidade, mas forçando bastante a imaginação até era possível pensar "até que isso poderia acontecer". Mas nessa sequência, qualquer base na realidade é divertidamente ignorada. E até dá pra entender. Não é uma coisa normal ver sessentões ou, no caso de Norris, setentões correndo e atirando por aí. Stallone pode estar lutando contra a idade, mas percebe-se que ela já chegou há um bom tempo para Schwarzenegger, por exemplo. Ou se faz um filme de ação menos realista ou coloca os "tiozinhos" apenas para dar ordens, de trás das mesas.


Outro ponto alto do filme é a trilha sonora. Ela já era destaque no original, e continua ótima.
O roteiro não é grande coisa, mas até melhora em relação ao primeiro filme. Os diálogos estão menos infantis e a história e os personagens, mesmo não muito originais, são menos clichês. Van Damme que tinha recusado um papel no original por achar que o personagem oferecido a ele não tinha profundidade, dessa vez entra no elenco pra fazer o vilão, Vilain. Não sei o que fez mudar de ideia, porque seu personagem não tem muita profundidade e nenhum tipo de background. Perguntas como "de onde ele veio?", "Por que ele faz o que faz?" são completamente ignoradas. Mas, ei, estamos vendo o filme dos sonhos de todo fã de Ação, who cares? Pedir profundidade nos personagens é a mesma coisa que querer que os brucutus atuem. E, sinceramente, se trancassem todos esses atores numa sala, com algumas armas, eu já pagaria para ver.
Mas, dentre tantos atores lendários, quem mais se destaca, mais uma vez, é Jason Statham. De longe é o mais carismático e o responsável pelas melhores cenas de luta (a participação de Jet Li nesse filme é pequena, que nem ele). Porém ver Van Damme com seus spinning kicks é sensacional. A luta dele contra Stallone é demais.


Alguns podem pensar "você apontou tantos defeitos no filme e ainda fala que gostou?". SIM! Posso até relevar os defeitos do filme, mas não posso ignorar que eles existem. "Os Mercenários 2" tem muitos problemas. Nem precisa procurar defeitos para achá-los. É um filme sem profundidade (e alcançá-la nem é o objetivo principal) que não dá para se levado a sério. E é exatamente aí que está o segredo: não levar o filme a sério. É para aproveitar a experiência, rir com os amigos, tentar sacar todas as referências. E o filme tem sucesso no que propõe: apresentar boas cenas de ação e lutas, reunindo um elenco espetacular.

Daqui a 10 anos "Os Mercenários 2" não será lembrado por seus defeitos e sim por ter reunido, pela primeira vez, os principais ícones da história do cinema de ação.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Arte não muda. Nós mudamos.

Você já mudou de ideia em relação a algum filme, música ou qualquer outra expressão de arte? Como se você não gostasse num momento e mais tarde começasse a gostar, ou vice-versa.
Isso acontece comigo com uma certa frequência. Músicas que eu eu não gostava e aprendi a gostar com o tempo. Ou filmes que, antes sem graça, agora parecem algo perto de uma obra prima. O contrário também acontece, claro.

Um exemplo recente disso é o filme "Inverno da Alma", que vi pela primeira vez para comentar aqui no blog, já que era um dos concorrentes ao Oscar de melhor filme de 2011 (a crítica pode ser lida aqui). Era o "underdog" daquela lista que continha filmes como "O Discurso do Rei" (que ganhou a estatueta), "Cisne Negro", "O Vencedor", "A Origem" etc. Foi o filme que "apresentou" Jennifer Lawrence ao mundo. Até então atriz desconhecida, ela foi indicada como Melhor Atriz pela bela atuação como Ree. Apesar da indicação, ela só foi estourar depois com "X-Men: Primeira Classe" e "Jogos Vorazes". O filme ainda contou com outro desconhecido, John Hawkes, que interpretou Teardrop, simplesmente um dos melhores personagens do ano. Mas a disputa na sua categoria (Ator Coadjuvante) era cruel e ele não teve a mínima chance contra Christian Bale (por "O Vencedor") — e ainda tinha Geoffrey Rush.

Por que estou "ressuscitando" "Inverno da Alma" aqui no blog? Porque um dia desses revi o filme e tive uma outra impressão sobre ele. Pelo que eu escrevi sobre o filme ano passado, dá pra perceber que eu achei um bom filme. E só. Nem digno de estar na lista de melhores filmes de 2011. Porém, revendo mais de um ano depois, vi o filme com outros olhos. Se antes eu o achava muito lento e com problemas no desenvolvimento da história, dessa vez achei que o ritmo não poderia ter sido melhor. O filme continua sendo meio lento, porém coeso com o modo de vida daquele lugar, que parece parado no tempo (em nenhum momento você vê uma televisão na casa das pessoas da comunidade, por exemplo).

O que eu quero ilustrar com esse exemplo é como nós mudamos nossa percepção da Arte com o tempo, seja por enxergarmos aspectos técnicos antes não vistos, ou simplesmente relacionarmos o que estamos vendo ou ouvindo à alguma experiência vivida. Algo no meu modo de ver mudou de lá pra cá. Para pior ou para melhor. Pessoalmente eu gosto de pensar que amadureci um pouco o meu "faro" para a 7ª Arte (rs) — algo que venho tentando fazer nos últimos anos. Isso não acontecerá com todos os filmes, é claro, mas existem certos elementos que você vai enxergar de maneira diferente com o passar do tempo. Não porque eles mudarão, mas porque você mudará. A Arte é imutável e independente do tempo. Mas a mente humana não. Por isso tantas obras (filmes, músicas, quadros, poesias etc) que foram subestimadas na época em que foram criadas hoje são adoradas. Van Gogh, que só vendeu um quadro durante sua vida, hoje é reconhecido como um gênio da pintura. O Homem mudou de lá pra cá. Sua ideia de Arte evoluiu — e está em constante evolução.
E a capacidade do Homem, que hoje mais do que nunca vive em função do tempo, criar algo atemporal como a Arte é uma das contradições mais lindas que existem.


"O filme nunca muda. Não pode mudar. Mas cada vez que você vê parece diferente porque você mudou. Você vê coisas diferentes." - James Cole (Os 12 Macacos)

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge

★★★★☆
Ótimo

Sou fã declarado do Christopher Nolan. Acho um dos melhores diretores de sua geração. Ele sabe como poucos criar e dirigir filmes dos temas mais variados sem soarem bobos e desnecessários, sejam filmes mais modestos ("Amnésia", "O Grande Truque") ou blockbusters ("A Origem", trilogia Batman). É um diretor que sabe muito bem trabalhar com o orçamento que tem. Se tem pouco, faz um trabalho simples e direto, e com muito dinheiro, faz um espetáculo.
Tendo sucesso nos seus últimos filmes, Nolan teve carta branca da Warner Bros para usar 250 milhões de dólares no desfecho da trilogia do Batman. E ele apresenta um filme épico que encerra a jornada do Guardião de Gotham com perfeição, ou quase isso.

Assim como em "O Cavaleiro das Trevas", o filme começa com um prólogo incrível (completamente gravado em IMAX) onde o vilão é apresentado. No filme anterior foi um tenso assalto a banco planejado pelo Coringa. Em "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" temos a espetacular fuga de Bane de um avião, após ter sido capturado pela CIA. O mais impressionante dessa cena é que a fuga foi toda gravada sem efeitos digitais. Dois aviões são utilizados (um é destruído), vários dublês, câmeras IMAX (que pesam mais de 100 Kg) e uma montanha de dinheiro, sem dúvida.

Onde o filme fica em relação a trilogia

"The Dark Knight Rises" fecha muito bem a trilogia. Não diria que é melhor que "The Dark Knight". Na verdade é até meio difícil comparar pois "Ressurge" tem um clima diferente do anterior. Aqui é algo mais político, uma história mais densa, com mais camadas. Gotham é mais uma vez feita refém, mas é uma situação sem precedentes. O terror causado por Bane é mais alarmista que o de Coringa. Enquanto Coringa queria aterrorizar as pessoas (com muita dinamite, pólvora e gasolina), Bane quer destruir a cidade, até não sobrar nada.  E apesar de ser sequência de TDK, o filme tem mais ligações com "Batman Begins". De TDK apenas elementos do final do filme são lembrados (principalmente a morte de Harvey Dent), mas de Begins, toda a história da Liga das Sombras é revisitada.

O desafio de superar o Coringa

Em TDK tínhamos o Coringa, um agente do caos que queria apenas implantar terror, sem "segundas intenções". Já em TDKR, Bane é um mercenário terrorista que quer literalmente destruir a cidade de Gotham, desde a sua economia (fazendo um link com a situação econômica atual no mundo) até a cidade em si, explodindo uma bomba nuclear.
Cabe ao Batman, que desapareceu desde que assumiu a culpa pelos crimes e pela morte de Harvey Dent, há 8 anos, a tarefa de parar Bane, um gigante que não sente dor e que tem um exército de mercenários ao seu comando. Só que Bruce Wayne carrega na pele (e nos ossos, cartilagens, músculos etc) as marcas da época em que enfrentou o Espantalho, Ra's Al Ghul, Coringa e Duas Caras. Ele se vê forçado a sair do seu exílio e arrumar um jeito de "ressurgir" o Batman, apesar das limitações físicas. E isso custará muito caro. Alfred, que sempre o apoiou, teme pelo pior e tenta mostrar a Bruce que o corpo dele não é o mesmo de 8 anos atrás e que Gotham não precisa mais do seu alter ego. Bruce não o ouve e acha que esse talvez seja o momento para que Batman volte à ativa — e vale mencionar que a reaparição do Morcego é sensacional, em grande estilo.

A escolha pelo Bane foi sábia. Pra fechar a história, tinha que ser alguém que fosse fisicamente páreo para o Batman. Um inimigo que significaria um perigo real, que teria o poder de matá-lo. No início, antes do filme começar a ser gravado, rumores diziam que o vilão seria o Charada (inclusive que Johnny Depp o interpretaria). Mas o desafio com o Charada seria algo mais intelectual. Além disso, o Coringa de Heath Ledger já tinha um tom de mistério e usava artifícios enigmáticos (as formas como ele revelava as suas próximas vítimas, por exemplo). Com o Charada o filme correria o risco de repetir um elemento utilizado no filme anterior. E Bane era o inimigo perfeito. Não só forte, mas inteligente. Um vilão com ideologia, mesmo que deturpada. Isso lembra de algo, não? Ra's Al Ghul e a Liga das Sombras, que no início de "Batman Begins" pareciam legítimos, até conhecermos suas verdadeiras ideologistas extremistas. E ideologia é algo contagioso. Ao contrário de Coringa, Bane é alguém que tem um plano maior, de longo prazo (só a preparação de seu plano para Gotham levou meses, no mínimo) e o mais importante: seguidores dispostos a se sacrificar por ele e para que seu plano fosse concretizado — isso é bem mostrado no prólogo, quando um dos seus "irmãos", como ele mesmo o chama (o que mostra ainda mais uma relação baseada na fidelidade), aceita morrer de bom grado sabendo que eles já tinham "começado o incêndio". Já Coringa — que, ao contrário do que disse para enganar Harvey Dent, planejava, sim, mas não a longo prazo — agia por conta própria, não tendo seguidores, no máximo alguns capangas que o serviam por medo. E aí fica a dúvida: É pior um louco com ideologia, ou um louco que apenas quer ver o mundo pegar fogo, pela diversão, sem compromisso? O que é certo é que o Coringa devia estar se sentindo em casa no meio do caos criado por Bane.


Inclusive, a princípio, estava nos planos de Nolan a volta do Coringa no desfecho da trilogia. E seria sensacional se isso acontecesse. Se a cidade foi aterrorizada "apenas" com o Bane, imagine como seria com o Coringa à solta? Mas, como o Heath Ledger resolveu tomar algumas dezenas de remédios e morreu de overdose "acidental", os planos foram por água abaixo.

Tom Hardy não consegue ter uma atuação tão espetacular como a de Ledger — e com uma máscara de metal na cara, nem dava — mas mesmo assim ele está ótimo como Bane. Com sua expressão facial limitada, ele só poderia usar três elementos na sua atuação: o olhar, a postura e a voz. E ele tem sucesso em pelo menos dois desses três elementos. Seu olhar sempre consegue transmitir o que ele sente no momento. Seja raiva, tranquilidade, ou até vulnerabilidade, como numa cena mais pro final do filme, onde é revelado uma parte importante de seu passado. Com sua postura corporal, ele passa um ar de superioridade, de autoridade, mostrando que Bane é alguém para ser temido. Tom Hardy não é muito alto, apenas musculoso (se você já o achava musculoso em "Guerreiro", vai se surpreender mais ainda). Mas, com todo o seu trabalho de postura, auxiliado pela fotografia, que sempre se preocupa em filmar Hardy de baixo para cima com o objetivo de fazê-lo parecer maior, o 1,78m de Hardy parece se transformar em quase 2 metros. Já a voz é um fator que incomoda. Muito criticada nas primeiras exibições do filme por não dar para entender o que Bane dizia, sua voz sofreu mudanças e redublagens até chegar na que ouvimos hoje. Mas o que me incomodou não foi o efeito da voz, que achei que ficou bem legal, mas sim o modo de falar do Tom Hardy, ou o sotaque. Pelos trailers, sua voz parecia ser mais forte, imponente. No filme, como já ouvi de algumas pessoas, parece a voz de um velho ofegante. É compreensível que o motivo do som ofegante é por ele estar sempre respirando um gás que faz sua dor desaparecer. Mas é inegável que causa estranheza.

Hans Zimmer e Wally Pfister: essenciais na trilogia de Nolan

A fotografia, sempre destaque nos filmes de Christopher Nolan, é maravilhosa. Gotham, ainda mais do que em "Begins" e "O Cavaleiro das Trevas", ganha vida através das lentes de Wally Pfister, diretor de fotografia de praticamente todos os filmes de Nolan. Além de "truques" mais simples (como filmar Tom Hardy com um ângulo mais baixo), a fotografia do filme tem sucesso em cenas muito mais complexas, como as de ação, que são muito bem filmadas, além de ter quase uma hora de cenas gravadas em IMAX.

A trilha sonora de Hans Zimmer, mais uma vez, é primorosa. Um espetáculo a parte. Cria tensão quando é pra criar e emociona quando é pra emocionar. Mas, ironicamente, no momento de maior tensão (a primeira luta entre Batman e Bane) e de maior emoção (a conversa "definitiva" entre Bruce e Alfred) a trilha sonora para. É nula. A tensão e emoção são apenas apoiadas nas atuações. Principalmente quando Alfred abre o jogo com Bruce. Christian Bale e Michael Caine dão um show. Provavelmente é o momento mais emocionante de toda a trilogia. É de cortar o coração. Michael Caine, em especial, merece até uma indicação ao Oscar por Melhor Ator Coadjuvante. Sempre que ele aparece (mesmo aparecendo menos dos que nos filmes anteriores) o filme ganha qualidade. Até que não ganhe, mas um reconhecimento pelo seu trabalho seria justo.

Uma nova leva de personagens

Confesso que tinha receio quanto à Anne Hathaway. Mas ela faz um trabalho excepcional como Selina Kyle. Sua atuação com nuances inesperados fazem a personagem ser imprevisível. Os modos como ela muda suas expressões faciais e corporais são de quem sabe muito bem o que está fazendo. Ela passa de garota indefesa a femme fatale em um segundo. Muita gente vai continuar tentando compará-la com a Michelle Pfeiffer, mas são personagens, histórias e universos diferentes. Tirando a roupa preta e o nome, não há nenhuma semelhança entre as duas personagens. A gatuna de Anne Hathaway é uma espécie de Robin Hood moderno. O olhar e toda a expressão e entonação de voz da Selina Kyle quando ela fala para Bruce Wayne que os ricos de Gotham logo vão imaginar como eles pensaram que podiam viver com tanto e deixar tão pouco para o resto das pessoas, revela o ódio, o nojo, que ela tem dessa forma de viver dos ricos, ostentando o que tem enquanto muitos passam fome. Isso mostra bem que ela faz o que faz por um motivo, ao contrário da Mulher Gato de Pfeiffer, que apenas faz o que dá na telha, além de procurar vingança.
Uma coisa interessante é que em nenhum momento Selina Kyle é referida como Mulher Gato. Mas as referências estão sempre lá. No baile de máscaras, após conversar com Bruce (e avisar da vindoura tempestade), ela sai da festa e o seu acompanhante fala pra Bruce que ele a "afugentou", como muitas vezes acontece quando uma pessoa tenta se aproximar de um gato, ou qualquer animal desconfiado. Esses tipos de metalinguagens e piadinhas estão sempre presentes em filmes do Batman, principalmente nos de Nolan.

Inclusive, no mesmo baile de máscaras Bruce Wayne é o unico a ir sem máscara. Como se ele próprio fosse a máscara do Batman, a verdadeira natureza de Bruce. Importante lembrar que isso já foi utilizado em "Batman Returns" quando o Bruce de Michael Keaton também se encontra com Selina Kyle num baile de máscaras e ambos são os únicos sem máscaras. É lá que um descobre a identidade do outro.


Outro pesonagem que vinha sendo bastante esperado pelos fãs é o Blake, interpretado por Joseph Gordon Levitt. Ele é um policial idealista que logo conquista a confiança do Comissário Gordon (Gary Oldman, mais apagado que em TDK, mas ainda assim muito bem) e vai crescendo ao decorrer da história. Assim como Miranda Tate, que começa apenas como uma possível parceira de Bruce Wayne na luta para melhorar a cidade e se transforma numa personagem importantíssima. Marion Cotillard está mais linda do que nunca, mesmo que a sua atuação seja burocrática.

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Interessante notar que todo o conceito do "Rise" do título, que foi traduzido como "Ressurge", mas na verdade é algo como "Ascende", é utilizado não somente na figura do Batman ao longo do filme. Logo antes do Bane derrubar o avião na sua fuga ele fala que o fogo "subia" (the fire rises), tinha começado; O Batman ascende duas vezes no decorrer do filme (a 2ª bem mais simbólica); Os policiais, que ficaram presos no túnel durante um bom tempo, ascendem no final e vão, praticamente sem armas, combater o exército de Bane. Eles sabiam que poderiam morrer, mas queriam lutar pela cidade e pela suas famílias, não importando o que acontecesse; E, por fim, depois de quase ser destruída, é a esperança que ressurge quando todos pensavam que tudo estava perdido e que Batman não voltaria mais.
O que eu quero dizer é que Christopher Nolan (que não só dirigiu, mas roteirizou toda a trilogia, junto com o seu irmão, Jonathan) faz questão de conectar tudo. Desde o título, até temas usados nos dois filmes anteriores que são revisitados aqui de alguma forma. Com outros diretores isso poderia ser usado de um jeito errado, fazendo parecer repetitivo, mas Nolan usa isso para aprimorar a história. E aí, mais uma vez, percebe-se como ele é um diretor diferenciado.



A trilogia de Christopher Nolan é o que sempre quisemos ver em filmes do Batman — e, por que não, filmes de super herói, em geral? Os dois Batman de Tim Burton tem seus méritos, mas não chegam aos pés do mundo que Nolan criou nesses três filmes. Muito menos aquelas duas bombas de Joel Schumacher. Esse universo de Batman é crível. É um mundo violento, corrupto, e nada colorido (ao contrário dos filmes antigos). E ao longo desses três filmes, aprendemos a nos importar com os personagens e suas histórias e, principalmente, com Gotham, que é a maior personagem nessa trilogia. "O Cavaleiros das Trevas Ressurge" não é um filme perfeito. Tem defeitos, sim, e alguns incomodam. Mas eles não chegam a comprometer o resultado final. O final é digno de aplausos (literalmente, nas duas sessões que fui o pessoal aplaudiu) e o filme fecha com louvores essa saga do Homem Morcego.

terça-feira, 24 de julho de 2012

[Esse é clássico!] O Último Tango Em Paris

★★★★☆
Ótimo

Paul, um americano de meia-idade que acabou de perder a esposa, procura um apartamento para alugar em Paris. Ele acaba encontrando acidentalmente Jeannie, uma jovem francesa, em um apartamento aberto para locação e eles logo sentem uma atração mútua. Os dois começam um romance com apenas uma regra: não revelar um ao outro nada sobre suas identidades.

"O Último Tango Em Paris" nasceu das fantasias sexuais do próprio diretor, Bernardo Bertolucci, que uma vez sonhou que viu uma bela mulher anônima na rua e teve relações sexuais com ela sem saber nada sobre a mesma.
Partindo dessa ideia (vazia, diga-se de passagem), Bertolucci construiu um roteiro simples e forte que, apoiado nas atuações de Marlon Brando e Maria Schneider, deu muito certo e marcou o cinema na década de 70.
O filme foi muito contraditório, com cenas pesadas, como a famosa "cena da manteiga" que foi adicionada de última hora por Bertolucci e Brando sem consultar Schneider, que chorou de verdade na gravação. Mais tarde ela declarou que seu único arrependimento na vida foi fazer o filme, de tão humilhada que se sentiu.

Mas o mais interessante, e é no que eu gostaria de focar, é como a presença E a atuação de um ator podem fazer a diferença num filme.
Explico:
1- A presença porque, vamos combinar, se não fosse pelo Marlon Brando "O Último Tango Em Paris" não teria metade do peso que tem hoje no Cinema. Se o papel dele tivesse sido dado a um ator de menor expressão, o filme não seria o clássico que é;

2- A atuação porque, mesmo com a presença do Marlon Brando, se ele não estivesse tão inspirado, o filme poderia ser lembrado apenas por um erotismo vazio. Mas a densidade de sua atuação (com vários improvisos), a dor que ele passa, mostra que o que Paul busca naquele romance (inicialmente) puramente sexual é suprimir a dor pela perda da esposa. É como se quando ele entrasse naquele quarto ele tentasse esquecer tudo o que estava vivendo e tentasse, ao menos por alguns instantes, ter controle sobre a vida — notem como ele trata Jeanne (Maria Schneider, equilibrando perfeitamente inocência e sensualidade), sempre sendo o superior, o Alpha da relação — já que, fora daquele quarto, ele não tinha controle sobre nada, nem sobre a esposa que o traía e resolveu tirar a própria vida. O modo dele agir na sua relação com Jeanne, sempre tentanto estar no controle, é a forma dele dizer que não quer perdê-la. [SPOILER A SEGUIR] E, ironicamente ou não, quando ele não tinha controle, a sua mulher se matou e, quando ele tentou assumir o controle, Jeanne acaba o matando.


Pra falar a verdade, da primeira vez que assisti, achei "O Último Tango Em Paris" um pouco superestimado. Mas em outro dia vi novamente e, refletindo sobre o filme, comecei a gostar mais porque fui percebendo a profundidade do personagem do Marlon Brando, que é o que (e quem) comanda o filme. Quando você analisa a personalidade de Paul, o jeito como ele esconde suas emoções se fazendo de durão, e como ele as expressa (como no seu monólogo, diante do corpo de sua esposa), você começa a ver que toda a nudez e sexo, para o espectador, é um detalhe; mas, para Paul, é um refúgio para a devastação em que ele vive, mentalmente e emocionalmente. Sua relação com Jeanne não é sadia, mas é o que o mantém vivo e evita um colapso.

O sexo como forma de combater o luto e a culpa já foi discutido outras vezes no Cinema, como em "Anticristo" (2009), usando um exemplo mais novo. Só que no filme de Lars Von Trier, a dor (como o sexo) é muito mais explícita, principalmente através da Mulher (Charlotte Gainsbourg). Já em "O Ultimo Tango" é mais implicito, e manifesto na figura masculina. Você nem sempre vê o sofrimento de Paul, mas ele está ali. E ele é maior do que qualquer sensação que o sexo pode trazer.

Muita gente se incomoda em ver um filme com tantas cenas picantes, mas vale a pena tentar enxergar o que há além disso. Bernardo Bertolucci transformou uma fantasia sexual numa bela e densa análise sobre o luto, e a luta de um homem contra sentimentos incompreensíveis causados pela perda. E por tudo isso, e graças a inspiração de Marlon Brando, "O Último Tango Em Paris" é reconhecido como um dos melhores filmes dos anos 70 e uma obra prima que até hoje emociona.

Ultimo Tango A Parigi
França/Paris , 1972 - 136 min.  

Drama
Direção: Bernardo Bertolucci

Roteiro: Bernardo Bertolucci; Franco Arcalli
Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Novidade no blog: "Esse é Clássico!".

Estou preparando uma novidade no blog. Eu geralmente posto críticas de filmes novos, mas vou começar a comentar de vez em quando alguns filmes antigos numa "seção" temporariamente chamada "Esse é clássico!". O primeiro filme será "O Último Tango em Paris", no qual vou comentar principalmente a diferença que o Marlon Brando fez no filme e como o filme trata do sexo como forma de combater o luto.

Eu sei que todos vocês vão ler e gostar! [leia-se, "eu sei que ninguém vai ler e gostar"]

Stay tuned!

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Prometheus (2012)

★★★☆☆
Bom

Prometheus era um dos 3 filmes que eu mais queria ver em 2012, junto com "Os Vingadores" e "O Cavaleiro das Trevas Ressurge". Desde o início, quando saíram as primeiras notícias que falavam que o filme poderia ser um prelúdio de "Alien", a cada trailer que era lançado, e a cada especulação feita, a ansiedade só aumentava, ainda mais sabendo que Ridley Scott ("Alien", "Blade Runner") estava à frente do projeto.
Há quase um mês, estando louco para saber o que as primeiras pessoas que assistiram o filme acharam, eu conversei com 2 ingleses que foram na pré estreia em Londres. Ambos acharam o filme incrível. Já eu, infelizmente, não compartilho da mesma opinião.

Eu queria muito chegar aqui e falar que Prometheus é sensacional... Mas não é. Sim, é um bom filme de ficção científica, mas uma decepção como prelúdio de "Alien", um dos maiores filmes de sci fi/terror da história do cinema.
O filme às vezes parece querer ter uma alma própria, mas também não quer se distanciar muito de "Alien". Acaba não conseguindo nem um, nem outro. É uma pena.

Na história, exploradores descobrem uma "pista" sobre a possível origem da vida na Terra. Seguindo essa pista, uma equipe viaja até um distante planeta procurando encontrar respostas para os mistérios da humanidade. Só que o que eles encontram pode colocar em perigo não apenas eles, mas toda a Terra.

Uma coisa problemática no filme é o roteiro. Não sei se é culpa do Damon Lindelof, mas é sabido que ele mexeu bastante no roteiro afim de fazer com que o filme tenha sido menos um prelúdio propriamente dito de Alien e mais "ficção". O fato é que o desenvolvimento dos personagens ficou comprometido. Como a Vickens (Charlize Theron), que é uma personagem importante, mas mal desenvolvida. Não sabemos praticamente nada sobre ela, além de ser uma "boss bitch", que só aparece para se mostrar superior e dar ordens. Ou a real motivação do andróide David (Michael Fassbender, mais uma vez perfeito), que não fica bem explícita. Dos personagens principais, só a cientista Elizabeth Shaw (Noomi Rapace, a Lisbeth de "Os Homens Que Não Amavam As Mulheres") é satisfatoriamente desenvolvida.
O visual do filme é espetacular. Os cenários, a fotografia, direção de arte. É um filme agradável aos olhos, mas não tão agradável ao cérebro. A necessidade de descrever tudo o que quer dizer é por vezes irritante. É como se o filme precisasse "desenhar" para que o espectador entendesse. E filmes bonitos por fora e vazios por dentro já não são novidade na filmografia recente de Ridley Scott, que tem em "Falcão Negro em Perigo" — filme tecnicamente perfeito, mas com roteiro fraco, diálogos amadores e uma necessidade sem vergonha de exaltar o "heroísmo" norte americano — um belo exemplo disso.

Mesmos com seus defeitos, Prometheus não é um filme ruim, porém tinha potencial para ser muito mais, pois acaba esbarrando na sua pretensão de ser grandioso e fica no meio do caminho. Ridley Scott já expressou desejo de fazer uma continuação. Ele terá que se esforçar mais se quiser que seu nome volte a ser tão relevante como já foi no cinema de ficção científica.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

O ano até aqui (Cinema)

Depois do Oscar dei uma sumida, mas vou voltar às críticas. Eu queria ter escrito uma sobre "Os Vingadores", mas ia escrevê-la depois de ter visto o filme pela 2ª vez, o que não consegui (os poucos horários legendados do filme contribuiram para isso.

Quem me conhece sabe que em 2012 três filmes tinham a minha total atenção e expectativa: "Os Vingadores", "Prometheus" e "O Cavaleiro Das Trevas Ressurge".

"Os Vingadores" correspondeu às minhas expectativas. Foi um dos melhores filmes de super herói que já vi, e um blockbuster como deve ser. "Prometheus" (como, vocês verão no próximo post) foi uma "semi" decepção. É um bom filme, mas um "não tão bom" prelúdio de "Alien". Agora minhas esperanças se voltam ao Christopher Nolan e a forma como ele fechará a trilogia do Batman. Por mim nem precisa superar "O Cavaleiro das Trevas" (o que acho difícil), se ele igualar já vai estar bom. Mas o Nolan é um dos melhores diretores da sua geração dele e, com certeza, vai nos presentear com um final digno na trilogia do Homem Morcego.

Chegamos no meio do ano e vou falar outros filmes bons que vi até aqui:

Poder Sem Limites (Chronicle)
Protegendo o Inimigo (Safe House)
Projeto X (Project X)
Virada no Jogo (Game Change)
God Bless America
Precisamos Falar Sobre Kevin (We Need To Talk About Kevin)
Shame
Um Método Perigoso (A Dangerous Method)
50% (50/50)
O Despertar (The Awakening)

Bem, fiquem ligados no blog. E me sigam no twitter (estou sempre comentando lá os filmes que vejo). Também estou no Facebook e no Filmow.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A Invenção de Hugo Cabret - Oscar 2012

★★★★★
Excelente

Martin Scorsese é um figura recorrente no Oscar. Apesar de ser um dos maiores diretores vivos, só teve sua genialidade reconhecida em 2007, com "Os Infiltrados" - que nem é o melhor filme dele. O responsável por "Os Bons Companheiros" e, do mais recente, "A Ilha do Medo" aparece esse ano com um dos seus melhores filmes da sua fase atual. Filme esse que tem o maior número de indicações ao Oscar 2012 - 11, no total.

"A Invenção de Hugo Cabret" (ou apenas "Hugo", no original) faz o espectador viajar na Paris dos anos 30. O filme se passa na sua maior parte numa estação onde Hugo vive. Ele é um menino solitário que, por ser órfão, vive escondido entre as "paredes" da estação, observando cada personagem daquele lugar, onde ele foi morar depois da morte de seu pai (Jude Law), um relojoeiro que lhe ensinou tudo o que sabia. Se ele for descoberto pelo guarda da estação (Sacha Baron Cohen, sempre dando seu toque cómico), será mandado imediatamente para um orfanato. Georges Méliès (Ben Kingsley), um dos comerciantes da estação, pega um caderno de anotação de Hugo, como castigo pelos constantes roubos de ferramentas praticado pelo garoto. Esse caderno pertencia ao seu pai e continha informações para fazer um autômato (uma espécie de robô inteiramente mecânico), achado por ele, funcionar. Antes do pai de Hugo morrer, os dois trabalhavam no conserto desse autômato e consertá-lo virou a obsessão de Hugo, afinal, era a única coisa que ainda o ligava ao pai. Só que o que Hugo não imaginava, é que esse autômato guarda um segredo que vai mudar não só sua vida, mas de outras pessoas.

A atuação do menino Asa Butterfield é emocionante. O potencial que ele já tinha mostrado no ótimo "O Menino do Pijama Listrado" agora é confirmado em Hugo. Chloe-Grace Moretz está encantadora como Isabelle, a garota aventureira (afilhada de Méliès) que vira a amiga e aliada de Hugo na busca da solução do "mistério do autômato". Ben Kingsley, como já é esperado, dá o tom dramático necessário, perfeito, sem exageiros e tem uma bela atuação. E ainda tem Emily Mortimer e Christopher Lee em papéis menores, mas importantes para o desenvolvimento da história.
E não só na bela história e no roteiro impecável que vemos o capricho que Scorsese teve com "Hugo". Em todos os momentos, em cada ângulo em que as cenas foram filmadas, na trilha sonora, edição, tudo foi pensado, cuidadosamente, nos mínimos detalhes.

"A Invenção de Hugo Cabret" provavelmente não vai levar o Oscar de Melhor Filme, mas com certeza é um dos melhores (senão o melhor) da lista - e do ano. É um filme que homenageia o cinema (assim como O Artista), emociona e te faz pensar - sem parecer forçado (como acontece com "Histórias Cruzadas", por exemplo).

"Eu imaginava que o mundo inteiro era uma máquina enorme. As máquinas não vêm com peças a mais. Elas sempre vêm com a quantidade exata. E se o mundo inteiro é uma máquina, eu não sou uma peça a mais. Tenho um motivo para estar aqui. E você também tem."

Essa fala dita por Hugo, um garoto que sempre viveu entre máquinas, representa bem a essência do novo filme de Scorsese. Todos os personagens no filme, estão a procura do seu lugar, do motivo ou propósito que faça a vida deles fazer sentido. Desde o próprio Hugo até Georges Méliès que, mesmo uma vez já tendo encontrado o seu lugar, acabou o perdendo no meio do caminho. E, de uma forma ou de outra, os destinos dos dois estão ligados.
E, assim como os personagens do filme, o que somos nós senão peças procurando nosso lugar nessa grande máquina? Alguns já acharam, outros continuam procurando, outros desistiram de procurar. Mas todos nós temos um propósito. Cabe a nós achá-lo.

Hugo
EUA , 2011 - 126 min.
Aventura/Drama/Mistério
Direção:
Martin Scorsese Roteiro: John Logan
Elenco: Asa Butterfield, Chloë Grace Moretz, Ben Kingsley, Sacha Baron Cohen, Emily Mortimer, Christopher Lee, Ray Winstone, Helen McCrory, Jude Law, Michael Stuhlbarg, Frances de la Tour, Richard Griffiths
 
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor diretor, Melhor roteiro adaptado, Melhor trilha sonora original, Melhores efeitos visuais, Melhor fotografia, Melhor figurino, Melhor direção de arte, Melhor montagem, Melhor edição de som, Melhor mixagem de som.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Artista - Oscar 2012

★★★★☆
Ótimo

Numa época em que os filmes em 3D e cheios de efeitos especiais cada vez ganham mais força (e dinheiro), dominando as salas de cinema, o diretor Michel Hazanavicius nada contra a corrente ao fazer um filme preto e branco e, ainda por cima, mudo. E essa coragem de fazer o diferente pode significar a consagração não só dele, mas de toda sua equipe. "O Artista", além de ser o favorito ao Oscar, recebeu 10 indicações - só fica atrás de "A Invenção de Hugo Cabret", com 11.

O filme segue a trajetória de glória e decadência de George Valentin (Jean Dujardin), um famoso ator do cinema mudo que vê sua carreira fracassar com o começo do cinema falado. Ainda no auge da cerreira, ele conhece a fã Peppy Miller de forma inusitada. Esse "encontro" impulsiona a carreira de Peppy (Bérénice Bejo), que também é atriz. Eles até chegam a fazer um filme juntos, mas quando o som chega ao cinema, os destinos deles se separam (ao menos temporariamente). Enquanto George é muito orgulhoso para entrar nessa nova "onda", Peppy entra de cabeça e acaba virando uma grande estrela.

Desde o primeiro filme com som, em pouco tempo o cinema mudo foi "engolido" pelo cinema falado - em 2 anos a esmagadora maioria dos filmes produzidos em Hollywood tinha som. E muitos atores que não acompanharam essa mudança acabaram ficando pelo meio do caminho. E isso que acontece com George Valentin. Junto com o seu emprego, George também perde sua identidade - dilema muito parecido com o de Norma Desmond, de "Crepúsculo dos Deuses" (1950). Para um artista decadente, o profundo anonimato é o pior dos pesadelos. E esse pesadelo acaba virando realidade. Essa questão é muito bem representada quando George vai ver o novo filme de Peppy e, na saída, uma mulher o para. Mas por causa do cachorro dele e não por tê-lo reconhecido. Esse drama de George também dá origem a uma das cenas mais interessantes do filme; após ter tido contato pela primeira vez com o som num filme, ele parece reagir com descrença, e zomba do que acabara de ver. Mas na verdade isso mexe com ele e o deixa inseguro. E ele sonha com tudo ao seu redor começando a fazer barulho, menos ele, que até tenta gritar, mas nenhum som sai de sua garganta. Simbolismo perfeito para a fase que ele vai viver a partir daquele momento. O mundo que ele fazia parte mudou, e ele acabou ficando obsoleto, ultrapassado, sozinho - em uma cena ele passa por um cinema onde tem escrito "Lonely Star" (estrela solitária), mas um detalhe que ajuda na compreensão do personagem.

A direção de arte do filme capricha bastante nos detalhes para recriar as décadas de 20/30, e todo o charme do cinema mudo. E ver como eram feitas as gravações - como a cena em que vários takes são repetidos, até ficar bom - também é interessante.
Os atores estão muito bem, com destaque para Jean Dujardin, que parece que nasceu para o cinema mudo. As expressões faciais fortes e até seu jeito de se mover casam muito bem com a proposta de "O Artista". É um forte candidato ao Oscar de melhor ator - ele já ganhou o BAFTA, entre outros prêmios.

"O Artista" é o favorito ao Oscar, o que não quer dizer que é o melhor, mas, no geral, é um ótimo filme. Pode parecer estranho por ser algo bem diferente do que estamos acostumados a ver, mas isso é uma coisa boa. Filmes com tiroteios, carros, vampiros, super heróis, robôs, aliens etc temos aos montes. Mas um filme que resgata e homenageia o cinema de quase 100 anos atrás é um raridade, que merece ser vista e prestigiada.

The Artist
França/Bélgica, 2011 - 100 min.
Comédia/Drama

Direção:
Michel Hazanavicius Roteiro: Michel Hazanavicius
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor diretor, Melhor atriz coadjuvante, Melhor roteiro original, Melhor trilha sonora original, Melhor fotografia, Melhor figurino, Melhor direção de arte, Melhor montagem.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O Homem Que Mudou o Jogo - Oscar 2012

★★★☆☆
Bom

Quais as chances de um filme sobre beisebol ser bem recebido por brasileiros? Nos Estados Unidos é um dos esportes mais populares, já no Brasil ocupa uma posição bem baixa na lista de preferência, bem perto do hóquei, por exemplo. Mas "O Homem Que Mudou o Jogo" ("Moneyball") contraria as probabilidades e consegue ganhar o espectador do Brasil - pelo menos aquele que gosta de cinema. Grande parte graças à forma como o personagem principal, Billy Beane, é introduzido (e desenvolvido) e como a história  (real) é conduzida - não sendo necessário ser conhecedor do esporte para curtir o filme.

Se apoiando no carisma de Brad Pitt, Bennett Miller sabiamente não foca apenas no esporte, mas explora bem os dramas de Billy Bean, uma ex-promessa do beisebol que acabou não vingando. Com a carreira de jogador encerrada, Billy se dedica a um outro cargo no esporte: o de general manager, ou "gerente geral" (cargo aparentemente mais importante que o de técnico). A função do manager basicamente é cuidar da negociação de jogadores. O problema é que Billy trabalha para o Oakland Atlethics, um time que não tem muita grana, e que vinha de uma derrota vergonhosa para o Yankees na última temporada. Numa tentativa de negociação com um outro time, Billy conhece Peter Brand (Jonah Hill), um jovem economista, que logo chama a sua atenção pelo jeito diferente de enxergar o esporte e as negociações - usando estatísticas dos jogadores, ele faz uma equação que define se o investimento vale ou não a pena. Billy contrata Peter e os dois começam a (re)formar o time (que já tinha perdido alguns jogadores importates) para a próxima temporada. Billy começa a sofrer resistência dos olheiros, do técnico e do próprio presidente do clube quando, baseado nos conhecimentos de Peter, começa a contratar jogadores desacreditados - seja por serem indisciplinados, com problemas de saúde ou outros motivos - e os resultados favoráveis não acontecem. Com seu emprego e sua reputação em risco, ele tem que decidir se vai continuar apostando no sistema de Peter ou se vai se render a pressão dos dirigentes do clube.

Brad Pitt está bem no papel, mas acho que ele está ainda melhor em "A Árvore da Vida". Só que em "Moneyball", Pitt é o centro do filme, o que já não acontece no filme de Terrence Malick. Já a indicação de Jonah Hill ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante é uma das coisas mais bizarras da premiação nos últimos anos, mesmo ele já tendo sido indicado pra outras premiações, como o Globo de Ouro. É um bom ator fazendo provavelmente seu papel mais sério na carreira mas que, mesmo assim, ainda destoa dos outros indicados. Nomes como Robin Wright e Philip Seymour Hoffman, que interpreta muito bem o técnico do time (e opositor ferrenho de Billy), ainda compõe o elenco.

"O Homem que Mudou O Jogo" estreou em poucas salas no Brasil e não deve fazer muito sucesso (pelo menos na telona), mas mesmo assim é capaz de fazer com que um amante do futebol pare por 2 horas e curta um filme sobre um esporte que, pra nós, é tão difícil de entender. Mérito não do beisebol, mas do filme em si, que é bom, muito bem feito e não se limita ao campo (trabalhando os dramas dos personagens), prendendo a atenção de quem assiste.

Moneyball
EUA , 2011 - 133 min.
Drama
Direção: Bennett Miller 
Roteiro: Steven Zaillian, Aaron Sorkin
Elenco: Brad Pitt, Jonah Hill,
Philip Seymour Hoffman, Robin Wright, Chris Pratt, Stephen Bishop, Brent Jennings, Ken Medlock, Tammy Blanchard, Jack McGee, Kerris Dorsey 
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor ator, Melhor ator coajuvante, Melhor roteiro adaptado, Melhor montagem, Melhor mixagem de som

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Histórias Cruzadas - Oscar 2012

★★★☆☆
Bom

Estados Unidos. Década de 60. Uma América racista tratava os negros como se fossem uma raça inferior, os privando de direitos básicos de uma sociedade livre. A segregação racial levantava muros entre brancos e negros - patrões e empregados.
A recém-formada jornalista Skeeter Phelan (Emma Stone) via essas injustiças e não suportava. Ela então decide escrever um livro com relatos de empregadas domésticas denunciando os maus tratos de seus patrões brancos. Tarefa nada fácil, já que as empregadas resistiam em dar os depoimentos, temendo perderem o emprego ou até sofrerem outras formas de represálias - naquela época, o movimento pelos direitos civis crescia, e negros eram mortos e presos sem nenhuma razão. Mas Skeeter consegue convencer Aibileen (Viola Davis) - empregada de Hilly (Bryce Dallas Howard) - e, mais tarde, Minny (Octavia Spencer), a dar os depoimentos.
Skeeter meio que vivia uma vida dupla. Sua família e amigas faziam parte dessa sociedade opressora. Mas, por outro lado, ela ouvia e escrevia as histórias das mulheres negras, tentando ajudá-las a sair dessa situação exploratória.

O elenco, quase todo feminino, está muito bem. Viola Davis é a única que pode tirar o Oscar de Melhor Atriz de Meryl Streep (por "Dama de Ferro), e Octavia Spencer provavelmente ganhará por Melhor Atriz coadjuvante. O filme não vinha tendo muitas apostas para ganhar o prêmio principal do Oscar mas, depois de ter faturado o SAG Awards, ganhou um novo fôlego.

"Histórias Cruzadas" fala de um tema já muito explorado, mas ainda atual. O racismo continua presente na sociedade nos dias de hoje, embora em menor proporção. O filme, mesmo tendo bastante de diálogos, mostra em algumas cenas detalhes que traduzem o dia a dia e o pensamento daquela época. Como, por exemplo, o bairro onde as "pessoas de cor" moravam. Todas as mulheres saíam, como um bando, com a mesma roupa, para trabalhar como empregadas - ou procurar uma casa que as aceitassem como empregadas. Era como se as mulheres negras nascessem apenas para esse propósito - servir os brancos. Outro exemplo é a bandeira dos Estados Confederados do Sul (união de Estados escravocratas, que perderam a Guerra Civil) vendidas nas mesmas lojas onde os livros de Skeeter eram vendidos. Até hoje essa bandeira é símbolo de racismo nos Estados Unidos. E os livros serem vendidos nas mesmas lojas que visitadas por racistas, retrata uma mudança que já estava começando a aparecer nos Estados Unidos.

Mas a impressão que fica é que o filme peca por mostrar demais, tendo um clima quase que didático. Todos sabem que racismo é ruim, e os negros foram muito explorados naquela época. Apesar de ter imagens que falam por si só (como já foi citado), se a mensagem fosse um pouco mais implícita poderia ser melhor.
É um bom filme. E do tipo que a Academia gosta. Emociona, tem momentos de descontração, um elenco forte e uma história de superação. Mas parece faltar algo.

The Help
EUA , 2011 - 146 min.
Drama
Direção: Tate Taylor
Roteiro:
Tate Taylor
Elenco: Viola Davis, Emma Stone, Octavia Spencer, Bryce Dallas Howard, Jessica Chastain, Ahna O'Reilly, Allison Janney, Anna Camp, Sissy Spacek, Chris Lowell, Mike Vogel, Cicely Tyson
Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Atriz (Viola Davis), Melhor Atriz Coadjuvante (Octavia Spencer e Jessica Chastain)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A Árvore Da Vida - Melhores Filmes de 2011/Oscar 2012

★★★★★
Excelente

"O coração de um homem tem duas formas de encarar a vida. A forma da natureza. E a forma da graça. Você deve escolher qual das duas seguir. A graça não tenta agradar a si mesma. Ela aceita ser desprezada, esquecida, rejeitada. Ela aceita insultos e machucados. A Natureza apenas tenta agradar a si própria."

Eu costumo (e prefiro) analisar os filmes apenas como espectador, de uma maneira impessoal. Mas não sei se conseguiria fazer isso com "The Tree Of Life", no original. Acho que é uma experiência em que cada um vai entender - e reagir - de uma forma.

Uma coisa é certa: é impossível não gostar muito, ou gostar apenas um pouco de "A Árvore da Vida". Esse é o tipo de filme que causa profunda admiração ou ódio. Conheço pessoas que amaram o filme, outras que odiaram, e outras que nem tiveram paciência para ver até o final.
Realmente, é um filme um tanto difícil de digerir. Muitos simbolismos, filosofia, questionamentos, poucos diálogos, ritmo meio "lento" e imagens aparentemente aleatórias que podem, a primeira vista, cansar quem está assistindo. No começo eu cheguei a pensar algo como: "estou vendo um filme ou um documentário do Discovery Channel?" Parece que Terrence Malick pegou um monte de imagens (lindas) aleatórias e foi colocando no filme, sem nenhum critério. Mas ao decorrer do filme eu fui percebendo que as imagens não são tão aleatórias e sem sentido assim.

Na sua origem, "A Árvore da Vida" é um filme sobre família, infância e dor da perda. Até aí tudo bem, nada de muito novo. Mas quando tudo isso é misturado nós temos uma história mais complexa. A família O'Brien  por fora parece ser perfeita, mas na verdade é oprimida por um pai (Brad Pitt) que, apesar de amoroso, é intolerante e comanda a casa com mãos de ferro. Na figura desse pai que é representado um coração que escolheu seguir a "forma da natureza", citado no início dessa crítica. Já na figura da mãe, a "forma da graça". A morte de um dos 3 filhos, afeta a todos (o pai em menor escala, que parece tentar esconder seus sentimentos), e vemos toda essa situação pelo olhar de Jack (Hunter McCracken), o filho mais velho, que tenta lidar com a dor da perda do irmão, além do seu crescente rancor que vai guardando pelo seu pai - rancor esse que, em certo momento, o faz pedir a Deus para matar o pai. Uma mistura capaz de marcar uma criança pelo resto da vida. E é isso que acontece.
O filme não segue uma linha temporal e, logo somos apresentados a um Jack 40 anos mais velho (Sean Penn), que ainda não se desprendeu do passado e questiona Deus pela morte de seu irmão. E é com base nos questionamentos de Jack e de suas lembranças que o filme funciona. Com poucos diálogos até nas suas lembranças, os pensamentos de Jack é que vão guiando o telespectador pelas imagens que vão sendo apresentadas.

Apesar de ter um tom religioso, "A Árvore da Vida" não faz questão de pregar nenhuma mensagem, dando espaço a várias formas de interpretação. Num dos questionamentos de Jack, ele pergunta a Deus: "Onde você estava (quando o irmão morreu)"? Quem somos nós para Você?"; E então somos apresentados a uma das cenas mais comentadas: a da origem de tudo. Mais de 10 minutos com lindas imagens do Universo, logo na primeira parte do filme - o que pode afastar os mais apressadinhos que querem explicações de tudo logo. No mesmo momento em que alguns podem interpretar que Deus criou tudo desde o início, assim como Ele nos criou e tem um propósito para tudo (como aponta o versículo da bíblia que abre o filme), outros podem interpretar a cena como a demonstração da insignificância do Homem diante do Universo e de tudo que aconteceu para que ele (o homem) existisse; ou seja, talvez Deus não ligue, talvez Ele não exista. E essas são apenas duas das muitas maneiras de se interpretar.

O filme acerta também no aspecto técnico. Mallick dirige bem seus atores, a trilha sonora quase constante é sensacional e, num filme com poucos diálogos, ajuda a passar as emoções dos personagens; e a fotografia é belíssima. Os planos usados na filmagem, com ângulos na maioria das vezes de baixo pra cima (mesmo nas cenas de Jack adulto), dão a impressão de estarmos vendo o filme sempre pela perspectiva de uma criança.

Com tantos detalhes e cenas abertas para interpretação, seria impossível comentar tudo aqui nesse espaço, mas "Árvore da Vida" é uma experiência que te impossibilita de ficar indiferente. Pode não ser o melhor filme do ano, mas, com certeza, é o mais diferente, o "mais único".

E na cena final, mesmo sem ter muita certeza do que se tratava - talvez o encontro no Paraíso, talvez um misto das memórias de Jack, vai da interpretação de cada um -, senti um estranho nó na garganta. E percebi que "Árvore da Vida", por mais piegas que soe, é um filme que você sente, não apenas vê.

The Tree Of Life
EUA , 2011 - 139 min.
Drama
Direção: Terrence Malick
Roteiro: Terrence Malick
Elenco: Brad Pitt, Sean Penn, Jessica Chastain, Hunter McCracken
Indicações ao Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Fotografia.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Melancolia - Melhores Filmes de 2011

★★★★☆
Ótimo

Dá pra ver que Lars Von Trier não se livrou totalmente dos demônios que o levaram a escrever "Anticristo". Apesar das histórias não terem a ver, muitos elementos do seu filme anterior continuam presente em "Melancolia". A dor é sentida nos dois filmes quase na mesma proporção, mesmo não sendo o mesmo tipo de dor.

Dividido em duas partes - Justine e Claire -, o filme começa com um casamento de luxo. Os noivos são Justine (Kirsten Durst) e Michael (Alexander Skarsgård, o vampiro Eric de True Blood.), aparentemente um casal normal e feliz. Aparentemente. Justine se revela uma maníaco-depressiva que parece tentar achar no casamento uma forma de felicidade, ou pelo menos a esperança de se sentir normal. Mas não consegue achar. Já não bastasse a família problemática, Justine começa a ter uma crise depressiva, o que faz com que cerimônia fique por um fio. Michael faz de tudo para agradá-la, mas não parece ser o bastante. Sua irmã Claire e seu cunhado John (Charlotte Gainsbourg e Kiefer Sutherland, respectivamente), que pagaram o casamento, tentam ao máximo fazer com que Justine se sinta bem, e salvar a festa que cada vez mais parece que vai dar errado.

A segunda parte é mais centrada em Claire, que acolhe Justine em sua casa por uns dias, após mais uma de suas crises. Nem a presença de seu sobrinho, adorado por Justine, a faz comer ou se levantar da cama.
Nesse momento todos já sabem que o planeta Melancolia já está a caminho da Terra, o que faz com que John  fique animado e Claire preocupada. O interessante nessa segunda parte é justamente ver como cada um reage a aproximação do Planeta. John, admirador da astrologia, tem certeza que o Melancolia apenas passará pela Terra, e fica ansioso pela oportunidade única de ver um evento dessa magnitude. Claire, se enche de dúvidas e de medo diante de uma possível colisão. Já Justine, mesmo sem entender muito do assunto, sabe que esse será o fim da Terra. E esse, é o único evento no filme todo que põe uma certa "alegria" no coração dela. A esperança do fim. Do fim da tristeza, do sofrimento, da vida. E a cada dia que se passa e que o Planeta se aproxima, Justine volta ao estado "normal".

Como o próprio nome deixa a entender, "Melancholia" (no original) é um filme sofrido, melancólico. Em alguns momentos pode até chegar a ser um pouco maçante pelo fato do drama dominar do início ao fim, sem dar espaço para nenhum elemento fora do gênero. O que mais chega perto de sair um pouco do drama, é o suspense em volta da colisão ou não do Planeta Melancolia com a Terra. Porém, em se tratando de Lars von Trier, não é muito difícil adivinhar o final. Mas não se enganem, é um ótimo filme.

Um ponto positivo que não pode deixar de ser citado é a fotografia. É de cair o queixo de tão linda. Cada cena é um espetáculo - e já começa na introdução, uma das mais belas dos últimos anos. Arrisco dizer, que gostei mais dos aspectos técnicos do que da história em si. Von Trier e sua equipe conseguem fazer da dor uma coisa linda, seja através da fotografia, da trilha sonora etc.

Por último, muita gente tem comparado "Melancholia" com "A Outra Terra". Achei o primeiro tecnicamente melhor e visualmente mais bonito - o orçamento explica (Melancholia custou 7 milhões, enquanto Another Earth, 200 mil), mas, em história, Another Earth me tocou mais. Ele trata, dentre outras coisas, de uma possível segunda chance, enquanto Melancholia se limita a mostrar a própria melancolia em seu estado mais puro, sem nenhuma esperança.
Mas recomendo ambos, sem sombra de dúvida.

Melancholia
Dinamarca / Suécia / França / Alemanha - 136 min.
Drama
Direção: Lars von Trier

Roteiro: Lars von Trier
Elenco: Kirsten Dunst, Charlotte Gainsbourg, Alexander Skarsgaard, John Hurt, Stellan Skarsgaard, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling

Oscar 2012 - Indicados/Comentários


E saíram os indicados para o Oscar. Na lista rolou algumas surpresas (não tão boas), mas nada que espante muito:


  • Melhor Filme
O Artista (The Artist)
Os Descendentes (The Descendents)
Cavalo de Guerra (Warhorse)
O Homem Que Mudou o Jogo (Moneyball)
A Árvore da Vida (The Tree Of Life)
Meia-Noite em Paris (Midnight In Paris)
Histórias Cruzadas (The Help)
A Invenção de Hugo Cabret (Hugo)
Tão Forte e Tão Perto (Extremely Loud And incredibly Close)


  • Melhor Diretor
Martin Scorsese (A Invenção de Hugo Cabret)
Michel Hazanavicius (O Artista)
Alexander Payne (Os Descendentes)
Woody Allen (Meia-Noite em Paris)
Terrence Malick (A Árvore da Vida)


  • Melhor Ator
Demián Bichir (A Better Life)
George Clooney (Os Descendentes)
Brad Pitt (O Homem Que Mudou O Jogo)
Gary Oldman (O Espião Que Sabia Demais)
Jean Dujardin (O Artista)

  • Melhor Atriz
Glenn Close (Albert Nobbs)
Viola Davis (Histórias Cruzadas)
Rooney Mara (Millennium - Os Homens Que Não Amavam As Mulheres)
Meryl Streep (A Dama de Ferro)
Michelle Williams (Sete Dias Com Marilyn)


  • Melhor Ator Coadjuvante
Kenneth Branagh (Sete Dias Com Marilyn)
Jonah Hill (O Homem Que Mudou O Jogo)
Nick Nolte (Guerreiro)
Christopher Plummer (Toda Forma De Amor)
Max von Sydow (Tão Perto E Tão Forte)


  • Melhor Atriz Coadjuvante
Bérénice Bejo (O Artista)
Jessica Chastain (Histórias Cruzadas)
Melissa McCarthy (Missão Madrinha De Casamento
Janet McTeer (Albert Nobbs)
Octavia Spencer (Histórias Cruzadas)


  • Melhor Animação
Chico & Rita
Rango
Um Gato em Paris
Gato de Botas
Kung Fu Panda 2

  • Melhor Documentário em Longa-Metragem
Hell and Back Again
If a Tree Falls: A Story of the Earth Liberation Front
Paradise Lost 3: Purgatory
Pina
Undefeated

  • Melhor Documentário em Curta-Metragem
The Barber of Birmingham: Foot Soldier of the Civil Rights Movement
God Is the Bigger Elvis
Incident in New Baghdad
Saving Face
The Tsunami and the Cherry Blossom

  • Melhor Filme Estrangeiro
Bullhead - Bélgica
Monsieur Lazhar - Canadá
A Separação - Irã
Footnote - Israel
In Darkness - Polônia

  • Melhor Direção de Arte
O Artista
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
Meia-Noite em Paris
Cavalo de Guerra

  • Melhor Fotografia
O Artista
Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
A Árvore da Vida
Cavalo de Guerra

  • Melhor Figurino
Anonymous
O Artista
A Invenção de Hugo Cabret
Jane Eyre
W.E. - O Romance do Século


  • Melhor Montagem
O Artista
Os Descendentes
Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
O Homem Que Mudou o Jogo


  • Melhor Maquiagem
Albert Nobbs
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
A Dama de Ferro


  • Melhor Curta-Metragem
Pentecost
Raju
The Shore
Time Freak
Tuba Atlantic


  • Melhor Curta-Metragem de Animação
Dimanche/Sunday
The Fantastic Flying Books of Mr. Morris Lessmore
La Luna
A Morning Stroll
Wild Life


  • Melhor Roteiro Adaptado
Os Descendentes
A Invenção de Hugo Cabret
Tudo Pelo Poder
O Homem Que Mudou o Jogo
O Espião Que Sabia Demais


  • Melhor Roteiro Original
O Artista
Missão Madrinha de Casamento
Margin Call - O Dia Antes do Fim
Meia-Noite em Paris
A Separação

  • Melhor Canção Original
Man or Muppet (Os Muppets) - música e letra de Bret McKenzie
Real in Rio (Rio) - música de Sergio Mendes e Carlinhos Brown e letra de Siedah Garrett

  • Melhor Trilha Sonora
As Aventuras de Tintim - John Williams
O Artista - Ludovic Bource
A Invenção de Hugo Cabret - Howard Shore
O Espião que Sabia Demais - Alberto Iglesias
Cavalo de Guerra - John Williams

  • Melhor Edição de Som

Drive
Millennium -
Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
Transformers 3: O Lado Oculto da Lua
Cavalo de Guerra

  • Melhor Mixagem de Som
Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres
A Invenção de Hugo Cabret
O Homem Que Mudou o Jogo
Transformers 3: O Lado Oculto da Lua
Cavalo de Guerra

  • Melhores Efeitos Visuais
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 2
A Invenção de Hugo Cabret
Gigantes de Aço
Planeta dos Macacos: A Origem
Transformers 3: O Lado Oculto da Lua

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Alguns comentários sobre as indicações:
- 9 indicados a Melhor Filme e Tudo Pelo Poder não entrou na lista? poderiam ter indicado esse ótimo filme (que concorreu em outras premiações) e fechado logo as 10 indicações, como nos dois últimos anos.
- O tal de Demián Bichir tirou a indicação do Leonardo DiCaprio (por J. Edgar) em Melhor Ator. No one saw that coming!
- A ausência da Tilda Swinton como Melhor Atriz (por "Precisamos Falar Sobre o Kevin) também é surpresa.
- Jonah Hill indicado como Ator Coadjuvante
(mesmo tendo sido indicado também ao Globo De Ouro) é uma das coisas mais bizarras dos últimos anos. Por outro lado, Nick Nolte foi lembrado pela bela atuação em Warrior.
- Muita gente comentando a ausência de As Aventuras de Tin Tin como melhor animação. Eu não vi o filme ainda, mas realmente isso soa estranho (até por ter ganho o Globo de Ouro na categoria e ter sido indicado em outras premiações).
- Melancholia fora em Melhor Fotografia = RIDÍCULO.
- O excelente Drive só foi lembrado em Edição de som. Mais uma injustiça.