terça-feira, 24 de julho de 2012

[Esse é clássico!] O Último Tango Em Paris

★★★★☆
Ótimo

Paul, um americano de meia-idade que acabou de perder a esposa, procura um apartamento para alugar em Paris. Ele acaba encontrando acidentalmente Jeannie, uma jovem francesa, em um apartamento aberto para locação e eles logo sentem uma atração mútua. Os dois começam um romance com apenas uma regra: não revelar um ao outro nada sobre suas identidades.

"O Último Tango Em Paris" nasceu das fantasias sexuais do próprio diretor, Bernardo Bertolucci, que uma vez sonhou que viu uma bela mulher anônima na rua e teve relações sexuais com ela sem saber nada sobre a mesma.
Partindo dessa ideia (vazia, diga-se de passagem), Bertolucci construiu um roteiro simples e forte que, apoiado nas atuações de Marlon Brando e Maria Schneider, deu muito certo e marcou o cinema na década de 70.
O filme foi muito contraditório, com cenas pesadas, como a famosa "cena da manteiga" que foi adicionada de última hora por Bertolucci e Brando sem consultar Schneider, que chorou de verdade na gravação. Mais tarde ela declarou que seu único arrependimento na vida foi fazer o filme, de tão humilhada que se sentiu.

Mas o mais interessante, e é no que eu gostaria de focar, é como a presença E a atuação de um ator podem fazer a diferença num filme.
Explico:
1- A presença porque, vamos combinar, se não fosse pelo Marlon Brando "O Último Tango Em Paris" não teria metade do peso que tem hoje no Cinema. Se o papel dele tivesse sido dado a um ator de menor expressão, o filme não seria o clássico que é;

2- A atuação porque, mesmo com a presença do Marlon Brando, se ele não estivesse tão inspirado, o filme poderia ser lembrado apenas por um erotismo vazio. Mas a densidade de sua atuação (com vários improvisos), a dor que ele passa, mostra que o que Paul busca naquele romance (inicialmente) puramente sexual é suprimir a dor pela perda da esposa. É como se quando ele entrasse naquele quarto ele tentasse esquecer tudo o que estava vivendo e tentasse, ao menos por alguns instantes, ter controle sobre a vida — notem como ele trata Jeanne (Maria Schneider, equilibrando perfeitamente inocência e sensualidade), sempre sendo o superior, o Alpha da relação — já que, fora daquele quarto, ele não tinha controle sobre nada, nem sobre a esposa que o traía e resolveu tirar a própria vida. O modo dele agir na sua relação com Jeanne, sempre tentanto estar no controle, é a forma dele dizer que não quer perdê-la. [SPOILER A SEGUIR] E, ironicamente ou não, quando ele não tinha controle, a sua mulher se matou e, quando ele tentou assumir o controle, Jeanne acaba o matando.


Pra falar a verdade, da primeira vez que assisti, achei "O Último Tango Em Paris" um pouco superestimado. Mas em outro dia vi novamente e, refletindo sobre o filme, comecei a gostar mais porque fui percebendo a profundidade do personagem do Marlon Brando, que é o que (e quem) comanda o filme. Quando você analisa a personalidade de Paul, o jeito como ele esconde suas emoções se fazendo de durão, e como ele as expressa (como no seu monólogo, diante do corpo de sua esposa), você começa a ver que toda a nudez e sexo, para o espectador, é um detalhe; mas, para Paul, é um refúgio para a devastação em que ele vive, mentalmente e emocionalmente. Sua relação com Jeanne não é sadia, mas é o que o mantém vivo e evita um colapso.

O sexo como forma de combater o luto e a culpa já foi discutido outras vezes no Cinema, como em "Anticristo" (2009), usando um exemplo mais novo. Só que no filme de Lars Von Trier, a dor (como o sexo) é muito mais explícita, principalmente através da Mulher (Charlotte Gainsbourg). Já em "O Ultimo Tango" é mais implicito, e manifesto na figura masculina. Você nem sempre vê o sofrimento de Paul, mas ele está ali. E ele é maior do que qualquer sensação que o sexo pode trazer.

Muita gente se incomoda em ver um filme com tantas cenas picantes, mas vale a pena tentar enxergar o que há além disso. Bernardo Bertolucci transformou uma fantasia sexual numa bela e densa análise sobre o luto, e a luta de um homem contra sentimentos incompreensíveis causados pela perda. E por tudo isso, e graças a inspiração de Marlon Brando, "O Último Tango Em Paris" é reconhecido como um dos melhores filmes dos anos 70 e uma obra prima que até hoje emociona.

Ultimo Tango A Parigi
França/Paris , 1972 - 136 min.  

Drama
Direção: Bernardo Bertolucci

Roteiro: Bernardo Bertolucci; Franco Arcalli
Elenco: Marlon Brando, Maria Schneider

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Novidade no blog: "Esse é Clássico!".

Estou preparando uma novidade no blog. Eu geralmente posto críticas de filmes novos, mas vou começar a comentar de vez em quando alguns filmes antigos numa "seção" temporariamente chamada "Esse é clássico!". O primeiro filme será "O Último Tango em Paris", no qual vou comentar principalmente a diferença que o Marlon Brando fez no filme e como o filme trata do sexo como forma de combater o luto.

Eu sei que todos vocês vão ler e gostar! [leia-se, "eu sei que ninguém vai ler e gostar"]

Stay tuned!