domingo, 24 de fevereiro de 2013

Lincoln - Oscar 2013

★★★☆☆
Bom

Lincoln entrou na temporada de premiações como o favorito ao Oscar. O filme tinha tudo para faturar o prêmio esse ano: é o líder de indicações (com 12), traz um tema anti-racismo, exalta um herói americano e tem um grande diretor a frente do projeto. E não é um grande diretor qualquer, e sim Steven Spielberg, que já tem dois Oscars por Direção e teve 7 dos seus filmes indicados a Melhor filme, embora apenas "A Lista de Schindler" tenha ganhado por melhor filme junto com Spielberg, por Melhor direção..
Porém, enquanto as premiações foram acontecendo, Lincoln foi perdendo a força, enquanto Argo crescia. Hoje, o prêmio na categoria principal do Oscar está entre os dois filmes, mas Argo tem vantagem por ter ganhado premiações como SAG e PDA, onde os votantes também votam no Oscar.

A produção conta como o presidente Abraham Lincoln, em meio à Guerra Civil, travou sua própria batalha política para conseguir que a 13ª Emenda, que libertaria os escravos, fosse aprovada na Câmara.
Muitos pensavam no início que veríamos grandes cenas de guerra nos campos de batalha como as de "O Resgate do Soldado Ryan", mas o que Spielberg corajosamente nos entrega, é um filme extremamente político, que não agradará a muita gente.


Visualmente o filme é muito bom. A direção de arte, design de produção e figurinos fizeram um trabalho inegavelmente excelente. A fotografia de Januz Kaminski, que trabalha com Spielberg desde "A Lista de Schindler", tem tons sombrios, usando bastante iluminação natural, combinando com os ambientes fechados que o filme explora.
Spielberg também cria várias belas, e simples, cenas, como o sonho de Lincoln logo no início e a comemoração dele com o filho atrás de uma cortina após a aprovação da Emenda.

Mas é quando focamos no roteiro e direção do filme, que temos os maiores problemas. Além de ser um filme lento, com muitos termos políticos, comete um grande erro ao perder muito tempo explorando os problemas familiares de Lincoln. É esposa (Sally Field) que não superou a morte do filho, é o outro filho, Robert (Joseph Gordon-Levitt, mal utilizado), que quer se alistar contra a vontade dos pais. São sub tramas desintessantes, que tiram o foco da trama principal. E ver como o presidente mais famoso da história americano conseguiu passar essa Lei é muito interessante, até para quem não gosta de história ou política. Lincoln estava disposto até a oferecer "proprinas", em forma de empregos, a políticos que perderiam seus assentos na câmara com a nova gestão do governo. Em termos históricos, o filme faz muito bem o seu trabalho, mesmo cansativo.


Daniel Day-Lewis, como era de se esperar, tem atuação espetacular e provavelmente ganhará o Oscar de Melhor ator. Ele interpreta um Abraham Lincoln fisicamente cansado, com movimentos lentos e pesados e voz carregada, mas no auge de sua sabedoria. É uma figura agradável que as pessoas gostavam de ouvir. Mais um belo trabalho de um dos melhores atores da atualidade. Tommy Lee Jones também brilha no filme interpretando um político rabugento e irônico que compartilha dos ideais de Lincoln e o ajuda a conseguir os votos para passar a Emenda. Já Sally Field faz uma personagem caricata que tem momentos over acting. Sinceramente, se ela não fosse indicada a Melhor atriz coadjuvante, ninguém sentiria a falta do seu nome lá.

Falando de forma bem cru, "Lincoln" é o filme mais maçante dentre os 9 indicados a Melhor fillme (e isso é dito por alguém que adora história, inclusive a dos Estados Unidos.), mas isso não quer dizer que seja ruim. É um filme político, difícil, com problemas de ritmo... E mesmo assim suas qualidades são maiores que seus defeitos. A história do filme conta como a História foi feita — e não foi facilmente e de maneira tão limpa como a maioria pensa. O próprio Thaddeus Stevens (personagem de Tommy Lee Jones) afirma que foi uma medida aprovada por corrupção — ele fala ironicamente, mas se pensarmos, a frase tem fundamento.

"Lincoln" é uma bela e cansativa aula de história que vale a pena ser vista.

Lincoln
EUA, 2012 - 150 min.  
Drama
Direção: Steven Spielberg
Roteiro: Tony Kushner
Elenco: Daniel Day-Lewis, Tommy Lee Jones, Sally Field, David Strathairn, John Hawkes, Hal Holbrook, Joseph Gordon-Levitt, Jared Harris, Lee Pace, Jackie Earle Haley, James Spader
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor ator, Melhor ator coadjuvante, Melhor atriz coadjuvante, Melhor diretor, Melhor roteiro adaptado, Melhor trilha sonora original, Melhor fotografia, Melhor figurino, Melhor direção de arte, Melhor montagem, Melhor mixagem de som

*Em negrito os prêmios ganhos

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Os Miseráveis - Oscar 2013

★★★★☆
Ótimo

Meu primeiro contato com "Les Miserábles" não foi a obra original, romance de Victor Hugo, nem o premiado musical da década de 80, mas sim a versão cinematográfica de 1998, com Liam Neeson e Geoffrey Rush. O romance ainda teve mais duas adaptações cinematográficas, uma em 1935 e outra 1958, além de uma miniserie, com Gérard Depardieu e John Malkovich. Depois de 14 anos a obra do poeta e dramaturgo francês volta para a telona numa versão, agora musical, dirigida por Tom Hooper.

Tom Hooper começou sua carreira dirigindo episódios de séries britânicas, mas começou a aparecer mesmo ao ser escalado para dirigir os 7 capítulos da ótima minisérie da HBO "John Adams". A minisérie foi muito elogiada e faturou quatro Globos de Ouro. Porém, foi com "O Discurso do Rei" que ele foi realmente reconhecido em Holywood, sendo premiado com o Oscar de Melhor Diretor pelo filme.
Apesar de já ter um Oscar em mãos, o diretor está longe de ser unamidade na área. Suas manias visuais, como Dutch Angles (planos inclinados) e enquadramentos em que deixa seus atores em cantos da tela ou com bastante espaço sobre suas cabeças e, às vezes, tudo junto, incomodam muita gente. Da primeira vez que se assiste um filme assim, até pode soar interessante. Depois, só esquisito.

E em Os Miseráveis, primeiro filme após sua vitória no Oscar, essa linguagem própria reaparece, goste ou não. Sua direção é baseada na atuação, mostrando os atores em primeiríssimos planos (close ups), muitas vezes preterindo o cenário que, por mais grandioso que seja, é esquecido — e quando aparece, é fora de foco. Em poucos momentos temos a chance de ver uma parte real do cenário, ou ele como um todo, já que planos médios e gerais são raros.


Na trama, ambientada na França no século XIX, acompanhamos a incessante caçada do inspetor Javert a Jean Valjean (Russel Crowe e Hugh Jackman, respectivamente), que ficou 19 anos presos por roubar um pedaço de pão, e suas consequências na vida de pessoas próximas ao herói injustiçado.

O filme já começa com uma sequência que mostra que veremos uma produção de proporções épicas, digna da história. E, sem enrolação, somos apresentados ao nosso herói Valjean e seu antagonista, Javert. Importante notar que logo aí vemos um conceito que será trabalho durante todo o filme: a sequência chama atenção para o herói por baixo sendo oprimido pelo vilão, em cima. Esse detalhe já demonstra que é uma história sobre injustiça, e sobre os pobres sendo tratados como inferiores pelos ricos e homens da lei. Não só o enquadramento e a montagem da sequência mostram isso, como também a primeira música que ouvimos, "Look Down" — que tem duplo significado no filme, servindo tanto para os pobres não olharem para os olhos dos ricos, e quanto para os próprios ricos que se recusam a olhar para baixo e ver a miséria do povo.

A escolha de Hooper por gravar os atores cantando ao vivo nas cenas enquanto interpretam, realmente fez diferença. Normalmente em Musicais, os atores gravam as músicas previamente em estúdio e, durante a gravação de suas cenas, apenas dublam. Mas em "Os Miseráveis", todos os atores cantaram enquanto atuavam, o que passou uma noção maior de realidade e aprimorou suas atuações.
Hugh Jackman e Anne Hathaway, que no Oscar de 2009 já tinham mostrado ao mundo que se garantem em musicais (Hathaway ainda repetiu a dose dois anos depois), brilham no filme. Não só perfeitos nas atuações, mas também cantando. Ambos foram justamente indicados ao Oscar. Russel Crowe, mesmo cantando num tom alto, não chega a comprometer e também tem seus bons momentos. Amanda Seyfried faz bonito, assim como os Eddie Redmayne e Samantha Barks, que compõe o triângulo amoroso no filme.


Porém, mesmo os atores fazendo suas partes, o roteiro de William Nicholson vacila em não trabalhar bem alguns aspectos do filme, como o relacionamento de Cosette (Seyfried) e Marius (Redmayne). É normal que em Musicais o romantismo tenha um papel maior do que numa produção mais fiél à realidade, mas esse amor devastador à primeira vista soa bobo, diferente, por exemplo, da versão de Bille August, onde o relaciomento deles dois (assim como o de Valjean com Fantine) é melhor desenvolvido. Além de não trabalhar o relacionamento do casal principal devidamente, o filme perde muito tempo explorando a parte "complementar" do triângulo, representado no amor não correspondido de Éponine por Marius. Claro que é agradável ver a bela Samantha Barks atuar e cantar, mas é uma pena que o personagem dela acabou tendo mais importância que a própria Cosette.

E esse não é o único problema do roteiro, que parece ter pressa em contar algumas partes da história que poderiam ser contadas com mais cuidado — sim, mesmo o filme sendo longo. O encontro de Valjean com o Padre que o salvou, por exemplo, é corrido, como se aquele não fosse um dos acontecimentos capitais da história. Enquanto conta alguns eventos da história com pouco cuidado, outros, menos importantes, são mais explorados. Toda a participação de Helena Bonham Carter e Sacha Baron Cohem é um exemplo. As partes dedicadas à dupla (principalmente a apresentação de seus personagens), servem para quebrar o clima dramático que domina o filme, porém o fazem de maneira muito forçada. Fora que os atores se tornaram caricaturas de seus personagens. Ambos parecem ter saído de "Sweeney Todd - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet" — outro Musical que gosto, por sinal.

Mas não cabe apenas críticas ao trabalho de Tom Hooper. Mesmo com sua identidade visual questionável, e os problemas do roteiro (que ele não assina, mas, como diretor, tudo tem que passar por sua aprovação) é inegável que ele também teve seus acertos. Ele consegue criar belas cenas, fazer com que um Musical de 2 horas e meia não fique (tão) cansativo, extrair grandes atuações de seus atores e criar empatia entre personagens e audiência — também, depois de esfregar na cara do espectador cada expressão facial de seus atores, se não conseguisse, eu não conseguiria descrever o tamanho do fracasso.


Outro acerto foi saber trabalhar bem as personalidades de seus personagens principais. Mesmo conhecendo-os por pouco tempo, sentimos como já o conhecessemos há muito, tendo lido ou visto outras versões da obra, ou não. Um detalhe interessante é quando, no meio da revolução, Valjean tem a chance de se vingar de Javert. Naquele momento, visualmente, os próprios personagens trocam de papéis no universo diegético (do filme) e interpretam personagens que são completamente o contrário do que representam (pelo menos legalmente): Valjean, fugitivo da lei, se finge de soldado enquanto Javert, homem da lei, de revolucionário. Só que na hora da verdade, tanto Valjean quanto Javert não conseguem trair suas verdadeiras personalidades e convicções. Valjean não mata Javert, que por sua vez, jura continuar o caçando. Foi uma sequência muito bem montada, que até pode ter na obra original, mas, se não fosse pensada com cuidado, não teria o mesmo efeito numa obra cinematográfica — o inverso também acontece, já que há cenas que parecem não funcionar no filme.

Se a direção e o roteiro têm seus defeitos, não há dúvida que o departamento mais competente foi o de Arte. Todo o design e direção, com a cenografia e figurinos, são belíssimos, montando com muito cuidado a França do Século XIX. Mas Hooper, como não podeia deixar de ser, acaba sufocando esse trabalho.
A trilha sonora, estrela do filme, é um espetáculo à parte com suas músicas que se encaixaram bem na adaptação para o cinema. Elas reforçam o clima que a história pede no momento, seja épico, emocionante, romântico ou de algo iminente, como a revolução.


"Os Miseráveis" é um filme difícil por ser um Musical com duas horas e meia. O gênero já não é muito popular, e com a duração exagerada, pode afastar ainda mais potenciais espectadores. Mas independente da preferência cinematográfica, o filme vale a pena pela sua bela história. Ainda mais por ela abrangir vários temas como romance, redenção, e até questões sociológicas — como cada classe se comporta diante da outra e como a indiferença levou a revolução. Apesar de ter um clima cético durante a maioria do filme ("Here is the thing about equality/everyone's equal when they're dead") não tem como sair da projeção com uma sensação de bem estar. E eu duvido que até o espectador com o coração mais duro não ficará mexido com o lindo e poético final que não fecha apenas a saga de Jean Valjean, mas engloba toda a história.

É um bom filme, apesar de seu diretor.

Les Misérables
Inglaterra, 2012 - 158 min.
Drama/Musical
Direção: Tom Hooper

Roteiro: William Nicholson
Elenco: Hugh Jackman, Russel Crowe, Anne Hathaway, Amanda Seyfried, Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Eddie Redmayne, Samantha Bark, Daniel Huttlestone
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor ator, Melhor atriz coadjuvante, Melhor canção original, Melhor maquiagem, Melhor figurino, Melhor direção de arte, Melhor mixagem de som 

*Em negrito os prêmios ganhos

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Argo - Oscar 2013

★★★★☆
Ótimo

Apesar de já atuar desde 1981, Ben Affleck entrou definitivamente no radar de Hollywood em outra profissão: como roteirista. Junto com seu amigo Matt Damon, ele escreveu o longa "Gênio Indomável" em que também ambos atuaram. A estreia da dupla foi tão boa que eles foram reconhecidos com o Oscar de melhor roteiro em 1998. Até então Affleck só tinha atuado em papéis menores. De uma certa maneira, a sua carreira como ator se deve muito a sua de roteirista (o mesmo caso vale para Matt Damon).

A partir dali, Affleck se dedicou apenas a atuação, passando 10 anos sem se envolver com o que acontece por trás das câmeras. Porém, em 2007 ele voltou à atividade que catapultou sua carreira e roteirizou o filme "Medo da Verdade", que também foi sua estreia na direção. Três anos depois ele voltou a roteirizar e dirigir, com o filme "Atração Perigosa". Ambos os filmes foram muito bem recebidos pela crítica, colocando o seu nome entre os melhores diretores novatos.

Em "Argo", Ben Affleck dá mais um passo para se firmar no seleto grupo dos bons atores/roteiristas/diretores atuais. Dessa vez só dirigindo (o roteiro é de Chris Terrio), ele tem sido lembrado e premiado em várias premiações, porém foi "esnobado" no Oscar — seu nome, para a surpresa de muitos, não apareceu na lista de indicados a Melhor diretor. Em compensação, depois de ganhar premiações como o SAG e PDA, o filme desponta como favorito à estatueta de Melhor Filme.

O filme, baseado em fatos, conta a história de uma operação secreta da CIA para resgatar um grupo de americanos refugiados na casa do Embaixador do Canadá, no Irã, durante a revolução no País. O plano criado por Tony Mendez (Ben Affleck, que também protagoniza o filme) foi bem curioso e tinha tudo para dar errado: criar um falso filme do zero, entrar no Irã como desculpa de filmar lá e resgatar o grupo, que receberiam novas identidades com cidadania canadense, e seriam parte da equipe de filmagem do filme.


Uma das coisas mais legais em "Argo", é mostrar todo o processo de criação de um filme. Vemos a escolha de um roteiro, a burocracia na área ("Preocupado com o Aiatolá? Não conhece o Sindicato dos Roteiristas."), a produção, como os cartazes e storyboards, figurinos, e a divulgação na imprensa, inclusive com uma grande festa onde acontece um table-read (onde atores lêem o roteiro do início ao fim)tudo bancado pela CIA, vale dizer. Com 2 horas de duração e uma história que aborda um tema maior, obviamente não dá para entrar nos mínimos detalhes mas, mesmo assim, é divertido ver como o mundo Holywoodiano funciona.

Affleck tem uma atuação sóbria e contida, parecendo não querer que seu Tony Mendez apareça mais do que os outros personagens (afinal não há apenas um herói no filme, e sim vários) e a própria história. O seu elenco de apoio é de primeiro escalão. Os sempre excelentes Alan Arkin e Bryan Cranston estão ótimos, assim como John Goodman. O núcleo dos refugiados, embora composto por atores não tão conhecidos do grande público, também está muito bem, passando o clima de tensão e o estado de espírito dos personagens com perfeição.

Assim como em "Atração Perigosa" (nem tanto em "Medo da Verdade"), Ben Affleck tem sucesso em criar uma conexão entre os personagens e o público. O público consegue se importar até mesmo com personagens de menor expressão e entender o que eles sentem — mérito também dos atores, sem dúvida.
Numa sensível demonstração de ironia e olhar crítico, o diretor faz questão de mostrar rapidamente uma iraniana comendo no KFC, uma das redes americanas de fast food mais conhecidas, constrastando fortemente com o clima de perseguição a americanos. Porém, logo em seguida ele mostra uma pessoa enforcada em público, para lembar-nos que realmente ali realmente não é um dos melhores lugares para se estar.

Aliás, se há uma coisa que Affleck tem aprimorado em sua carreira como diretor é a forma como ele cria tensão em suas produções. A própria escolha por usar imagens de arquivo reais, para situar o espectador a cada desdobramento da história ajuda nisso, criando um clima de urgência, alarmismo. Esse recurso, quando bem utilizado, sempre dá mais credibilidade ao filme. E essa tensão impera durante todo o filme, desde seus primeiros minutos, atingindo o auge na sequência do aeroporto. Assim como os personagens, sabemos que cada minuto a mais que o grupo passa no Irã, eles estão mais próximos de um final não muito feliz. É claro que o filme provavelmente tem mais obstáculos que de fato ocorreu (a reserva da passagem que não aparece no sistema da companhia aérea na primeira vez, soa forçado), mas numa produção cinematográfica, isso é muitas vezes preciso. E ele cria esse clima como poucos. Mesmo já sabendo como o filme irá terminar, ficamos com o "coração na mão" ao testemunhar o que os personagens têm que passar até chegar aos seus conhecidos destinos na história.


Embora não ache que "Argo" seja o melhor entre os nove indicados a melhor filme, eu ficaria muito satisfeito se o filme levasse a estatueta. O filme é interessante, inteligente, tenso, tem seus momentos engraçados e, sem dúvida alguma, se conecta mais com o público do que o outro favorito, "Lincoln", que é um filme político, mais difícil.
A vitória de "Argo" significaria a quebra desse costume da Academia de premiar filmes mais artísticos, que não se conectam tanto com o público. Não seria a primeira vez que um filme popular ganharia, mas seria uma das poucas vezes. E numa premiação que cada vez perde mais audiência, a aproximação com o público é necessária. A Academia, que tem fama de ser conservadora, já começou a tentar falar a mesma linguagem da audiência ao aumentar a lista de indicados a melhor filme de 5 para até 10, tendo espaço para filmes mais populares. Porém, mesmo assim, continua coroando na maioria das vezes filmes "frios", que, muitas vezes, nem são os melhores.

Mesmo não tendo sido indicado a Melhor diretor, a vitória de "Argo" na maior premiação do Cinema seria um justo reconhecimento da ainda curta porém ascencional carreira de Ben Affleck.

Argo
EUA, 2012 - 120 min.
Suspense/Drama
Direção: Ben Affleck

Roteiro: Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arking, John Goodman, Victor Garber, Tate Donovan, Clea DuVall, Zeljko Ivanek
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor ator coadjuvante, Melhor roteiro adaptado, Melhor trilha sonora original, Melhor montagem, Melhor edição de som, Melhor mixagem de som

*Em negrito os prêmios ganhos 

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

[Curtas] Silent Hill: Revelation / Grave Encounters 2

Silent Hill: Revelação

★☆☆☆☆
Ruim
 
Se era pra fazer uma sequência do ótimo Silent Hill assim, como esse Revelation, era melhor nem ter feito. Filme muito fraco!
Não sei como um ator como o Malcolm McDowell aceitou participar disso. O Sean Bean até vai porque ele repete seu personagem (senti vergonha alheia naquela cena dele no espelho se "comunicando" com a esposa). E mesmo se ele entrasse apenas nesse filme não seria surpresa, porque ele já tem feito alguns filmes B.

A história é menos interessante do que a do primeiro filme, mas como é baseado na do 3º jogo da franquia, nem dá pra reclamar tanto com o roteirista. As criaturas feitas com maquiagem são legais, mas as de CGI são bem toscas.
Como o filme é em 3D foram feitos alguns efeitos para aproveitar o recurso que, normalmente seriam dispensáveis.
E, pra quem gosta de Game Of Thrones, temos o Ned Stark e seu batardo, Jon Snow.

Uma sequência que não faz juz ao original, que é um dos melhores filmes baseados em jogos já feitos, e um ótimo terror por si só.
________
Grave Encounters 2

★★☆☆☆
Razoável
 Se essa sequência fosse mais do mesmo, poderia ter sido melhor. Parece que tentaram levar o filme para o "next level" e fracassaram. O filme começa bem, as partes assustadoras, dos fantasmas, realmente são legais. Gostei da ideia da discussão sobre o filme "Grave Encounters" ser real ou não que deu o "ponta pé inicial" na trama. E [Spoiler] (Selecione o texto a seguir com o mouse para ler) deixar o grupo sair do hospício apenas para voltar novamente também foi interessante.
Mas fora isso não curti muito. Os fantasmas que, não satisfeitos em usar o carteiro (no 1º filme),
agora usam a internet... Como assim?
E os personagens agora são mais burros... Tipo: 1- se acreditavam que o lugar realmente era mal assombrado, e que pessoas morreram lá, por que diabos o cara aceitaria se encontrar com alguém lá (ainda mais no meio da madrugada), e tentar se comunicar com os espíritos que mataram essas pessoas??? 2- Brincar com o tabuleiro espírita: SEMPRE uma boa ideia. 3- O grupo se separar, mais uma boa ideia.
E o cara ainda é fã de filmes de terror. Ele quebra todas as cartilhas possíveis de sobrevivêcia em filmes do tipo...
Outra coisa. (Seleciona o texto a seguir para ler o Spoiler) A volta do Lance Preston foi totalmente dispensável. O overacting do ator foi vergonhoso.
Irônico é o personagem que queria tanto fazer um filme de terror diferente, fazer parte de um filme que explora os mesmos clichês do gênero.
Eu curti o primeiro filme, mas esse foi bem inferior.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Django Livre - Oscar 2013

★★★★★
Excelente


"Django Livre" é o filme mais difícil que Quentin Tarantino já fez. O filme já estreou sob fortes polêmicas por mostrar de forma tão crua e realista a escravidão, uma ferida que até hoje não cicatrizou perfeitamente na população americana. Em sua obra anterior, "Bastardos Inglórios", ele já tinha mexido num tema sensível como a II Guerra Mundial, porém com um olhar bem mais cômico do que é usado em "Django". Em "Bastardos" há poucas cenas dramáticas. Tudo ali é criado para exorcizar todos os sentimentos que temos em relação ao Nazismo e os atos praticados pelo movimento.
Na figura de Shosanna ou de Aldo Raine e seus subordinados nos sentimos justificados, mesmo que nosso senso de justiça condene a violência que Tarantino tanto exalta. Mas a arte tem esse efeito. Ela é capaz de subverter o nosso super ego por alguns instantes e nos fazer apreciar algo que não faríamos na vida real.

Já em "Django", antes desse "exorcismo" (iconizado na vingança do escravo liberto), somos obrigados a testemunhar uma grande dose da face mais selvagem desse período tão obscuro da história.
Durante as cenas dramáticas, Tarantino fez questão de não esconder nada. Com ações, palavras ou gestos, nós somos testemunhas dos maus tratos sofridos por pessoas que eram consideradas menores apenas por causa da cor da pele. Algumas cenas com os escravos chegam a ser incômodas de tão "cruas". Sabiamente, o diretor e roteirista trata o tema com seriedade, e guarda os seus já famosos exageros para as sequências de ação que, aí sim, são divertidas e surreais, com bastante sangue jorrando pela tela, tiros certeiros, etc.

Na trama, o escravo Django (Jamie Foxx) é liberto por King Schultz (Christoph Waltz), um caçador de recompensa que precisa dele para reconhecer suas próximas vítimas, três irmãos a quem Django servia. Terminado o serviço, Django decide ficar mais um tempo com Schultz, que o treina e os dois viram sócios no "negócio". Juntos ele bolam um plano para resgatar a esposa de Django, Broomhilda (Kerry Washington), que foi vendida ao cruél Calvin Candie (Leonardo DiCaprio).


Muita gente tem criticado o filme por supostamente "exaltar" a escravidão. Essas pessoas não vêem que é exatamente o contrário. O filme conta uma incrível história de ascensão de um escravo liberto. As cenas fortes estão ali para criar um sentimento de revolta no espectador, para que a vingança de Django seja mais "justificável", para que o público se sinta vingado. E Tarantino faz isso com muita competência — assim como no já citado "Bastardos Inglórios".
Inclusive, é interessante notar a inversão de papéis nesses dois filmes. Se em "Bastardos", o vilão (Landa) era o alemão caçador de judeus, e o americano sulista (Aldo) era o herói, em "Django" o alemão (Schultz) contra a escravidão passa a ser o herói e o americano sulista (Candie, principalmente), o vilão.
Sem dúvida algo feito propositadamente, já que o diretor já disse que os dois fazem parte de uma trilogia (ainda inacabada) de filmes históricos.

A já famosa linguagem visual de Tarantino está presente no filme, como não poderia deixar de ser. O zoom in rápido que foca na face do personagem, conhecido como Shaw Brothers's Zoom ou Eye Popping Quick Zoom (quando o personagem de DiCaprio é apresentado, por exemplo), assim como seus closes em detalhes de uma ação comum, como encher um copo com cerveja, são utilizados mais de uma vez. Os longos planos, tais como sua forma não linear de contar histórias, com vários flashbacks, também.
A trilha sonora é bem eclética. Vai desde o famoso compositor de trilhas westerns Ennio Morricone até o hip hop de Rick Ross. A mesclagem de músicas antigas com novas deu bastante certo, e todas elas muito bem escolhidas, funcionando como uma extensão direta do que é narrado.


Outra marca presente do diretor é fazer da violência uma coisa divertida e até bonita em alguns casos (como o sangue espirrando numa plantação de algodão) e sempre criar vilões carismáticos. E Leonardo DiCaprio, que interpreta um vilão pela primeira vez, está espetacular na pele de Calvin Candie. O personagem é capaz tanto de ser cativante, educado e bom anfitrião, como de ser extremamente violento e brutal. DiCaprio levou tão a sério o papel que durante a cena do jantar com Django e Schultz, ele realmente machucou a mão e, mesmo sangrando, continuou atuando. É uma pena que, de prêmios com grande reconhecimento, ele só tenha sido lembrado no Globo de Ouro.

Além de Calvin Candie, temos um outro personagem igualmente carismático e mau, interpretado perfeitamente por Samuel L. Jackson, um dos atores preferidos de Tarantino. Ele faz com perfeição o negro racista Stephen (braço direito de Candie), talvez um dos melhores personagens já criados pelo diretor.


Mas não só de bons vilões um filme vive. Tarantino também costuma criar (anti) heróis icônicos. E Jamie Foxx faz um bom trabalho como o escravo liberto, nos mostrando um Django violento, porém de certa forma inocente. Em alguns momentos, mesmo sem falar, ele consegue passar o que o personagem sente apenas com o olhar ou linguagem corporal. O modo, por exemplo, como ele se comporta e fala quando ouve a lenda alemã de Broomhilda contada por Schultz, remete ao de uma criança curiosa. Só que essa ingenuidade vai se perdendo no decorrer do filme, quando os acontecimentos da trama vão moldando sua personalidade, o tornando mais violento e sedento por vingança.

Já Christopher Waltz parece repetir o seu "Hans Landa" de Bastardos Inglórios, só que agora numa versão "boazinha", ou quase isso — quem mata um pai na frente de seu filho não é tão bom assim. A atuação é muito parecida, com os mesmos trejeitos, entonação de voz e até o jeito de falar, sempre muito cordial e eloquente. Não achei justo ele receber tantas indicações (inclusive para o Globo de Ouro, que ganhou, e Oscar) enquanto DiCaprio, que faz um personagem bem mais difícil e complexo foi esquecido. Porém, mesmo assim, é impossível não gostar de ver Waltz atuando. É um dos melhores personagens do filme.


Percebe-se que ao longo dos anos Tarantino evoluiu a sua forma de contar histórias. Em "Django Livre" isso se confirma. Ainda que em algum momentos a narrativa pareça ficar um pouco arrastada (algo normal num filme de quase três horas), ele consegue trazer o espectador para dentro do filme e fazê-lo ficar interessado durante o tempo todo. Não há nenhuma cena que eu lembre que não faça sentido, ou que pareça ser encheção de linguiçaa única, talvez, seja a do grupo que ataca Schultz e Django, mas serve como escape cômico. E ele ainda cortou mais de 30 minutos de cenas que adicionariam mais à trama. Com tanto material filmado e editado, fica a pergunta se teremos uma versão do diretor lançada para o mercado de Home Video.

Com o seu famoso timing perfeito, Quentin Tarantino mais uma vez tem sucesso em equilibrar bem drama, comédia e suspense. Em nenhuma cena uma piada corta um clima mais denso dramaticamente, parecendo forçado. Os risos fluem naturalmente, e muitas vezes causados por situações constrangedoras, recursos visuais, ações inesperadas, etc, sem necessidade de punchlines. Com todos os seus recursos narrativos e visuais, não é a toa que ele é um dos diretores mais aclamados da atualidade.

"Django Livre" realmente é um filme longo, mas vale cada minuto. E, no final das contas, mesmo tendo que aguentar muitas cenas pesadas e revoltantes, a sensação que fica é de satisfação. Sentimos que tudo que testemunhamos o personagem passar foi recompensado — e com uma boa dose de balas e muitos litros de sangue. Por mais absurdo que seja, nos sentimos bem com isso. E essa é a especialidade desse grande artista que é Quentin Tarantino.

Django Unchained
EUA, 2012 - 165 min.
Western/Aventura
Direção: Quentin Tarantino

Roteiro: Quentin Tarantino
Elenco: Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor ator coadjuvante, Melhor roteiro original, Melhor edição de som

*Em negrito os prêmios ganhos

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

[Curtas] O Homem da Máfia / O Voo


O Homem da Máfia

★★★☆☆
Bom

 "Killing Them Softly" (título bem mais legal do que o que recebeu  aqui) é prejudicado um pouco pelo ritmo lento. O filme tem uma das cenas de assassinato mais legais que já vi no cinema. Chega a ser quase romântica.

Fora que o roteiro peca ao [Spoiler] (selecione o texto a seguir com o mouse para ler) dar uma grande importância ao personagem do James Gandolfini, parecendo que será importante... e descartam ele depois. Ele some e é só citado o que aconteceu com ele. [\spoiler]

Mas não é um filme ruim. Até gostei. Só que queria ter gostado mais.
O Brad Pitt está muito bem.
Gostei muito também dessa desilusão que o filme apresenta, indo completamente contra ao discurso de unidade e esperança do começo do governo de Obama e mostrando que a "América" é só um negócio.
 __________

O Vôo

★★★☆☆
Bom


O Voo é um bom filme que aborda bem o alcoolismo... assim como muitos outros. A já conhecida trajetória do "herói" perturbado está toda ali. Seus altos e baixos, e finalmente a redenção (antecipada por mais um baixo).
E o Denzel Washington passa isso tudo com muita competência. Ele faz uma belo trabalho e mereceu ser lembrado no Oscar.

A sequência do acidente é sensacional. Toda a forma como foi construída, a edição, os efeitos sonoros e visuais, o trabalho dos atores... Tudo excelente. O resultado é bem tenso.

O filme repete a mesma fórmula de muitos outros. Ele não vai mudar a sua vida. Mas mesmo assim é bem legal.