terça-feira, 30 de abril de 2013

Paraty - Pousadas e Gastos.

Nós aqui em casa viajávamos de vez em quando na década de 90 — quando eu e meu irmão éramos menores. Mas, salvo alguns retiros da igreja em sítios, desde os anos 2000 não viajamos mais, por eventuais problemas financeiros e, principalmente, por termos nos acomodado. Sempre pensávamos em ir a algum lugar, mas só ficava na intenção. Até que em 2010 decidimos ir à Paraty. Não lembro o porquê de escolhermos esse lugar, mas contrariando nosso histórico de esperarmos as coisas acontecerem por si mesmas, tomamos todas as providências e fomos para um lugar que nunca tínhamos ido.

Já voltamos lá mais duas vezes e a cidade se tornou algo como nosso "refúgio", o lugar preferido. Sempre que aparece um feriado longo, ou o meu irmão tira férias, pensamos em ir para Paraty. Eu até falo para a gente ir em outros lugares, mas a decisão não é só minha. Se antes ficamos acomodados em ficar em casa, parece que agora estamos nos acomodando a viajar para um lugar conhecido, onde já nos sentimos "seguros". Isso é até um reflexo psicológico da minha família, inclusive eu, que passei por depressão e me considero em recuperação até hoje. O seguro sempre parece ser mais "acolhedor" que o desconhecido. Por isso que termos ido para da primeira vez foi um evento tão importante.

Mas nesse texto, eu queria focar nas diferentes pousadas que ficamos nessas 3 visitas a cidade, e talvez ajudar a alguém que pensa em ir para lá. Principalmente, quero deixar claro que as minhas avaliações são pessoais. Outras pessoas podem ter gostado do que não gostei e não gostado do que gostei. E mesmo falando dos defeitos de cada uma (uma em especial, como vocês irão ver), nenhuma eu NÃO gostei. Apenas gostei MENOS. Outra coisa, ficamos em quartos simples, não em suítes, por exemplo.
Muito bem, eu vou focar em 6 itens, dando nota de 0 a 5: Localização, Conforto, Acomodações, Café da Manhã, Serviço e Preço.
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Em 2011 e 2012 ficamos na Eclipse que fica logo no início de Paraty. Saindo da Rodovia Rio-Santos, entra-se na Avenida Roberto Silveira, a avenida principal da cidade. Logo na entrada da avenida é possível ver a Eclipse, uma grande pousada amarela (que na verdade fica na rua dos Ingás). Como a última vez que fui lá foi há dois anos, das três pousadas que vou comentar, essa é a que mais posso esquecer de citar alguma coisa (e as coisas que vou citar podem ter mudado).
O que não mudou é a localização, que se você não tem carro, é o principal defeito da pousada. Ela fica no já citado início da avenida principal da cidade, isso quer dizer 1 Km até o centro comercial e 2 Km até o Centro Histórico — ou seja, uns 20 minutos a pé. Você pode pegar um ônibus, mas, além da espera, vai gastar dinheiro na passagem. Se você tem carro, ou vai alugar um, o problema diminui consideravelmente.
Em frente da pousada há uma quadra de tênis que sempre quis jogar, mas se eu não me engano a quadra era pública e na pousada não tinha raquetes e bola. Posso estar enganado.
Localização: Nota 3

A pousada é bem confortável e tem um ambiente gostoso. Tem uma boa piscina e wi-fi (não lembro se pega nos quartos). Mas uma coisa que falta em relação a outras duas é um salão ou sala com sofás e TV para se poder ficar, conversar etc.
Conforto: Nota 4

Os quartos são ótimos. Das três que fiquei, acho que é a que tem o maior quarto. Tem ar condicionado, ventilador, e TV de tubo com alguns canais a cabo (não tinha tantos canais). O banheiro, como todas, não é grande, mas não se fica apertado. O chuveiro, se me lembro bem, é com aquecimento central.
Acomodações: Nota 4

O serviço é bom. Às vezes não saíamos de manhã e as roupas de cama eram trocadas à tarde (o que não aconteceu na Canoas). Algo que é muito bom é que se pega as garrafas de água, e quantas quiser, logo na recepção. Não precisamos fazer um pedido lá e esperar que levem no nosso quarto. Porém, das vezes que eu fui, a cantina não fazia janta (como na Canoas e do Príncipe), apenas lanche como sanduíches.
Serviço: Nota 4

O café da manhã é excelente. Tem de tudo. Bolos, pães, frios, biscoitos, frutas, sucos, leite, café e iogurtes. Café da manhã: Nota 5

Das três, a Eclipse é a mais barata. Talvez por conta de sua localização, mais longe do centro.
Preço: Nota 5

Site: http://www.pousadaeclipse.com.br/
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Na nossa última viagem ficamos em duas pousadas: 4 dias na Canoas e 1 dia na do Príncipe.

Não querendo desmerecer o Hotel Pousada das Canoas, foi o que eu menos gostei de cara. Logo que fomos lá para pegar informações há dois anos, achei o lugar meio "fechado" e escuro por conta das muitas árvores e plantas que encobrem o local. Eu gosto da natureza tanto quanto você que está lendo, mas eu tive uma impressão negativa. Eu nem queria ir para lá, mas acabei indo. Mesmo sendo a que eu menos gostei, de maneira nenhuma digo que não voltaria lá — e nem desencorajo alguém a ir. EDIÇÃO: Retornamos a Paraty e passamos 4 dias na pousada, e a impressão foi completamente diferente, tanto do quarto, como do serviço.

A pousada (ou hotel pousada como se definem) é pertinho da rodoviária. Dá pra ir andando com as malas. Ela fica muito bem localizada bem no centro comercial e a 5 minutos do Centro Histórico. Indo para qualquer direção, você terá uma imensa quantidade de restaurantes e lojas.
Localização: Nota 5

Ao contrário da Eclipse, a Canoas tem uma sala de jogos com TV e sofás, onde o sinal Wi-fi é bem forte. Além disso, a pousada tem um computador disponível para os hóspedes de graça, 24 horas por dia. É um diferencial em relação as outras. Apesar da conexão não ser tão rápida, consegui ver um vídeo no Netflix numa qualidade decente. A piscina é legal, embora não tenha entrado.
Update: Quando voltamos, estava sendo instalado na pousada vários modens que possibilitariam que a internet sem fio pegasse em todos os quartos. Até fazermos check out, o serviço ainda não estava funcionando completamente, mas com certeza é uma iniciativa louvável que melhorará a estadia dos clientes.
Conforto: 4

O que mais me incomodou foi o quarto. Parece meio velho, não tem ventilador (só ar condicionado), o único interruptor que acende a luz do quarto fica na entrada dele, que é longe das camas (nas outras duas pousadas tinha interruptores bem próximos das camas), o banheiro que já tem um tom escuro tinha uma lâmpada queimada, o jato do chuveiro (elétrico, não gosto) apontava contra a parede em que o chuveiro se encontrava. Se eu quisesse pegar um jato forte tinha que ficar encostado na parede, e mesmo assim não conseguia direito. Essas pequenas coisas acabam incomodando, ainda mais alguém como eu, que presto atenção nessas coisas ou, simplesmente, sou chato (existem muitos como eu). A TV era de tubo e não muito nova. Tinha alguns canais a cabo, mas nenhum realmente chamativo. De filmes tinha apenas FOX e Universal, que são canais especializados em séries. Porém, gostei de algo que os outros não tinham: uma varandinha com rede. Depois de sairmos de tarde, voltávamos para a pousada e eu ia para a rede ler um livro até anoitecer. Eu realmente gostava disso.
Update: Dessa vez ficamos num quarto bem melhor em frente a piscina. Pela localização, percebe-se que é bem mais barulhento, porém mais confortável. O banheiro era menor que o outro, mas também era melhor e um pouco mais claro. Mas o que mais senti falta era a varandinha com a rede, que não tinha nesse quarto. Como vocês podem perceber, nada é perfeito.
Acomodações: Nota 3 (Nota 4 pela 2ª estadia)

Tudo bem que camareiras costumam arrumar e limpar os quartos de manhã, mas nem todos os hóspedes saem de manhã. Eu gosto de dormir de manhã e sair de tarde. E só lá pro terceiro dia uma camareira foi arrumar o quarto, porém não levou toalhas novas (até o quarto dia continuamos usando as do primeiro dia, que já estavam bem úmidas), nem papel higiênico. Se minha tia não tivesse levado um de casa, como sempre faz, teria que ter pedido na recepção, o que poderia ser meio desconfortável. Água tinha que pedir na recepção, e então alguém ia levar no seu quarto. Certo dia pedi de manhã e até a noite não tinham entregado. Aí comecei a comprar água na farmácia ali perto (que é bem mais barato). Uma coisa boa é que na recepção você pode se inscrever em passeios de escuna, jipe e essas coisas. Você não precisa ir nas agências.
Update: Olha, ou o serviço melhorou MUITO num período de 1 mês, ou o problema é com a localização dos quartos (o quarto que ficamos da primeira vez é realmente um pouco mais "isolado" do que os "principais"). Se for a segunda alternativa, é um erro oferecer um bom serviço a alguns quartos e um serviço relaxado a outros, independente da localização. Dessa vez tivemos ótimo serviço de quarto, as camareiras arrumaram e limparam o quarto todo dia, e a tarde — horário que todos nós saíamos. Toalhas limpas também eram sempre deixadas.
Serviço: Nota 2 (Nota 5 pela 2ª estadia)

O café da manhã é muito bom. Assim como na Eclipse, não falta nada (mas na Eclipse ainda tem mais variedades de bolos). Uma coisa boa que não tinha na Eclipse é ovo mexido, que eu gosto muito. Fica bem gostoso colocar dentro do pão, com queijo e presunto.
Café da manhã: Nota 5

Dentre as três, a Canoas é a intermediária. Mais cara que a Eclipse, e mais barata que a do Príncipe. Os preços das refeições oferecidas na cantina são bem em conta (mas eu não as experimentei).
Preço: Nota 4

Site: http://www.redehoteis.com.br/canoas/
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Não tendo gostado muito da Canoas, consegui convencer a minha tia de passar o último dia na Pousada do Príncipe para experimentar. E valeu a pena. Gostamos muito.

A pousada fica praticamente do lado da Canoas, cercada por lojas e restaurantes, então a localização nem muda muito.
Localização: Nota 5

Logo que se entra na pousada, temos a recepção que é tipo um lobby. Dali se sobe para os quartos de cima. Mas, como sempre, ficamos em baixo. Depois do lobby tem uma sala de estar com vários sofás, poltronas, TV — esse ambiente é o melhor dentre as pousadas que fui —, e depois a bela piscina (o wi-fi pega nessa área). Ficamos num quarto bem em frente a ela.
Conforto: Nota 5

O quarto é claro, além de ter três diferenciais: as camas têm dois travesseiros bem confortáveis (nas outras há apenas um), na janela há tela mosquiteira e a TV é LCD, com vários canais bons que não têm nas outras pousadas, como Telecine Premium e Max. Eu não gostei muito do banheiro, pois na verdade ele é apenas uma salinha pequena com o vaso sanitário — se você não é pequeno, pode encontrar dificuldade em se mover. O lavatório e o box são separados do restante do quarto por uma parede, porém não há porta no box (que é em frente ao lavatório). Além de molhar o chão, se alguém passar pelo corredor que existe entra as camas e a porta do quarto, poderá ver a pessoa tomando banho. Tudo bem que quem está com você no quarto irá respeitar sua privacidade, mas não deixa de ser um pouco incômodo.
Acomodações: Nota 4

Eu não posso falar muito do Serviço da Pousada do Príncipe pois só fiquei um dia. Mas eles tem serviço de Bar e Restaurante para quem não quiser comer fora. E uma qualidade da pousada é que ela oferece toalhas para a piscina, enquanto nas outras o hóspede tem que usar a sua (e se não levar, volta molhado pro quarto). Outra coisa legal é que a pousada deu uma cesta de frutas de cortesia pelo aniversário da minha tia. Não sei se as outras fazem isso, mas vale a citação.
Serviço: Nota 5 (avaliação pelas 24 horas que fiquei)

O café da manhã é bem parecido com os das outras pousadas. Muito bom, mas aqui perde um ponto por não ter suco de frutas, apenas refresco. Em todas as outras pousadas há pelo menos dois sabores de sucos.
Café da da manhã: Nota 4

A Pousada do Príncipe é a mais cara dentre as três — em média R$40 a mais que a Canoas. Mas se você quiser mais conforto, a minha opinião é que vale a pena.
Preço: Nota 3

Site: http://www.pousadadoprincipe.com.br/
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Me pediram para falar um pouco sobre os gastos na cidade então vou dar uma resumida, baseado na minha estadia.

Restaurantes: 
Há restaurantes de todos os tipos e preços. Dos que eu fui, como os ótimos Paraty ou Chafariz, um prato para duas pessoas fica em média entre R$35 e R$45. Para uma pessoa, obviamente, é mais barato. Mas não TÃO mais barato. Por isso é bom você ir acompanhado, pois sairá mais em conta. E pratos como o Filet Mignon Oswaldo Aranha (R$ 66,40), do Chafariz, chegam a dar para 3 pessoas, pela quantidade dos acompanhamentos e pelo tamanho das duas carnes (acredite, são grossas e grandes). Para quem prefere peixe, tem o Peixe a Doré (R$24,70).
Há restaurantes self service também, como o Sabor da Terra e o KomaKilo.

Uma coisa que falta nos restaurantes da cidade é sobremesa que, quando é oferecida, é um doce de banana ou outro doce muitas vezes já pronto. Mas há muitas opções para quem quiser comer algo doce, principalmente no Centro Histórico. Desde os famosos vendedores de doces em carrinhos, que vendem a R$ 4 o pedaço (que não é tão grande), a cafeterias com sobremesas mais requintadas — como o Café Tricolore, do Café Pingado, vendido por R$7,50. Há também a Mar e Vi Doceria que vende generosos pedaços de tortas a R$ 5. Vale muito a pena. As tortas são maravilhosas (recomendo a de paçoca).

Como apaixonado por pizza que sou, aproveito para citar algumas pizzarias em Paraty. Há a Pizzaria da Cidade, Viva La Pizza, e a que eu mais gostei: MamaMira. Uma pizza grande, na média de R$32, dá tranquilo para 3 pessoas (eu fui com mais uma e sobrou). Vale a pena visitar outros dois restaurantes também: Esfiharia e Cervejaria Emirados (grande variedade de esfihas e beirutes, com ótimos preços), e o Batata Imperial (vários sabores de batata rostie ou recheada, também com preços bem em conta).

Passeios:
Sendo localizada na Costa Verde, Paraty oferece incontáveis opções de passeios. Várias praias, ilhas, trilhas e cachoeiras, que você pode ir de ônibus, carro, táxi, ou jeep com um grupo de pessoas. Há uma opção de passeio de Jeep que te leva a várias cachoeiras, trilhas, alambiques, uma fazenda histórica e ao orquidário. É um passeio legal, mas como é longo (sai de manhã, volta mais pro fim  da tarde), a pessoa tem que estar bem animada.

Um passeio de escuna com música ao vivo e bar sai a R$40 por pessoa. O passeio para em algumas ilhas, onde é permitido aos passageiros entrarem na água para curtir o lugar. Mas se você quiser algo mais individual, dá para alugar um barco no porto ou perto da ponte que separa o Centro Histórico da Praia do Pontal. Os preços vão de R$50 a R$70/hora. Os barcos perto da ponte costumam ser mais baratos. Não é tão pomposo como o passeio de escuna, mas também é muito bonito e, claro, seguro. Se você tiver mais dinheiro, também pode alugar uma lancha por "meros" R$400. A praia mais perto do Centro Histórico é a do Pontal, que é pequena e apesar de não ser feia, não se compara a outras um pouco mais longes como Jabaquara, São Gonçalo ou as da região de Trindade.
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É isso. Espero ter ajudado. Quem tiver alguma dúvida, pode perguntar nos comentários que respondo se puder.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Mama

★★★☆☆
Bom

Talvez uma das produções de terror mais esperadas do ano, "Mama" provém de um curta feito por Andrés Muschietti em 2008 chamado "Mamá". O assustador vídeo de 3 minutos (pode ser visto aqui), que é basicamente duas irmãs fugindo de um ser amedrontador, chamou a atenção de um dos maiores nomes do gênero de terror dos dias atuais. O roteirista, diretor e produtor Guillermo del Toro resolveu bancar a versão completa da história imaginada por Muschietti, que seria responsável pelo roteiro (junto com sua irmã, Barbara, e Neil Cross) e pela direção.

Mas em vários momentos do filme vemos a mão de Del Toro, inclusive nos créditos iniciais, onde há uma arte que já virou uma marca sua, ou o próprio desdobramento da trama, em que as possibilidades de um final feliz vão diminuindo.

Na trama, depois de matar seus dois sócios e sua ex-mulher num ato de desespero, Jeffrey (Nikolaj Coster-Waldau, o Jaime Lannister de Game Of Thrones) foge sem destino com suas duas filhas, Victoria e Lily, até que eles sofrem um acidente na estrada e vão parar numa cabana abandonada. Cinco anos mais tarde, os detetives contratados por Lucas, irmão gêmeo de Jeffrey, finalmente conseguem encontrar as meninas, que dizem ter sobrevivido com a ajuda de Mama. Elas vão morar com Lucas e sua namorada, Annabel (Jessica Chastain, "A Hora Mais Escura"), mas algo a mais acompanha as meninas ao novo lar.

Foi importante o mesmo roteirista e diretor do curta ser o responsável também pelo longa, mas nota-se a sua falta de experiência — antes de Mama, ele só tinha feito dois curtas. Criar uma história e todo um universo em torno de um curta de 3 minutos, é muito mais complicado. Como exemplo posso citar a super exposição da Mama na 2ª metade do filme, pessoalmente (tentam humanizá-la, ou pelo menos sua figura humana) e visualmente — sim, todos queremos ver a cara de um monstro/espírito, mas se isso é exposto demais, perde o efeito amedrontador, e é o que acontece no filme. Outro exemplo é o personagem Lucas, que parece perdido no filme. Depois que ele vai pro hospital, perde sua relevância na trama. O sonho em que o irmão o manda ir ao lugar onde tudo aconteceu, não tem valor narrativo algum, mesmo que seja uma sequência esteticamente interessante — o sonho de Annabel, sim, serve tanto para fins narrativos quando para estéticos pois, visualmente ainda mais poderoso, vemos por uma câmera subjetiva a história de Mama. Se Lucas não tivesse ido onde a ação se desenrola no terceiro ato do filme, não mudaria nada na história. Só serviu para ele se reunir com a Annabel que iria para lá de qualquer jeito. Se o personagem dele morresse, não faria a mínima diferença.


Mas há muitos prós no filme. A sacada dos óculos de Victoria foi excelente. Eles representam a ligação dela com o universo "material". A primeira vez que ela vê Mama está sem eles (talvez até por isso não tenha ficado assustada). E durante o decorrer do filme, quando ela já mora com Lucas e Annabel e, o mais importante, os aceita, está sempre com eles. Mas quando Mama aparece ela os tira, pois não quer vê-la como realmente é. Lily, que era muito pequena quando conheceu Mama (e mesmo 5 anos depois não entende o perigo), não tem mais essa ligação com o nosso mundo. Quando conhece Mama, a aceita como protetora e a partir daí, não volta atrás.

O filme também tem suas cenas engraçadas, inclusive apostando no elemento sobrenatural. Numa delas, bem inteligente visualmente, o diretor faz quase um Split screen mostrando na mesma tela duas ações diferentes. À esquerda vemos Annabel fazendo seus serviços de casa, enquanto à direita vemos um a parte do quarto das meninas, onde Lily brinca com Mama (que não é vista), que a faz flutuar.

Andrés Muschietti mostra que tem um bom conhecimento em linguagem visual, fazendo um filme com cenas belas e assustadoras onde a atmosfera de suspense (que vem do curta) permanece na maioria do longa, mas que precisa de mais experiência como roteirista, se ele quer seguir na atividade.


No geral, eu confesso que esperava mais de "Mama". O filme se sustenta bem como uma produção de Terror, mas no momento em que tenta levar pro Drama e ser original, falha. O final não irá agradar a todos, mas a verdade é que os problemas começam já na segunda metade do filme, que é onde os problemas no roteiro começam a ficar mais visíveis.
Porém, mesmo com suas falhas, o filme está longe de ser ruim. É muito bem produzido, tem uma boa fotografia e trilha sonora, e dá bons sustos.
Eu recomendo um outro filme que o Guillermo del Toro produziu: O Orfanato (2007). Acho o melhor (ou pelo menos um dos melhores) filme de terror latino dos últimos anos.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

A Caça

★★★★☆
Ótimo


"A Caça", novo trabalho do diretor dinamarquês Thomas Vinterberg, é um belo e forte filme dinamarquês sobre como uma mentira pode destruir a vida de um homem.

Lucas (Mads Mikkelsen, de "Casino Royale" e da série recém estreada "Hannibal") trabalha num jardim de infância e é adorado pelas crianças. Apesar de estar se divorciando, recebe a boa notícia que seu filho quer morar com ele. Além disso, começa a namorar a bela Nadja. Sua vida parece estar melhorando consideralvemente, mas uma acusação de pedofilia vai fazer tudo virar de cabeça para baixo.
A pequena Klara, filha do melhor amigo de Lucas, não recebe muita atenção em sua casa (até a acusação ser feita, a menina nunca é vista recebendo demonstração de afeto de seus pais, que constantemente a perdem) e costuma ir e voltar da escola acompanhada por Lucas. Ela acaba encontrando nele uma figura protetora que não vê em seus pais. Numa brincadeira na escola, ela dá um beijinho na boca de Lucas, que sem saber o que fazer, a repreende gentilmente. Se sentindo rejeitada, ela inventa uma mentira sobre ele para a diretora, Grethe que, a príncipio, acha difícil acreditar, mas acaba aceitando a palavra de Klara, por não ver razão nela estar mentindo. A partir daí as suspeitas em torno de Lucas aumentam e sua vida vira um inferno.

O diretor e co-roteirista Thomas Vinterberg (Tobias Lindholm também assina o roteiro) consegue fazer com que um elo muito forte se crie entre nós, espectadores, e o personagem principal já que, além de nós, só o próprio protagonista e seu filho acreditam em sua inocência. Nos sentimos testemunhas de seu sofrimento, e vítimas da inocência de uma criança.


O pior é que não dá para culpar o agente principal da confusão, pois ele é uma criança que não tem consciência da consequência de seus atos. Nem os pais. Acho que qualquer um de nós ouvindo tal denúncia de um filho, se sentiria inclinado a acreditar nele. O que muda seria a forma como trataria o suposto criminoso — se não o agredissem pelo menos o olhariam "torto". Se fosse para apontar um culpado, talvez seria o irmão mais velho de Klara, que ao mostrar para ela (mesmo por alguns poucos segundos) uma imagem pornográfica, tirou sua inocência (ela ficou com a imagem na cabeça), e indiretamente apertou o gatilho que causou tudo isso.

Discutindo um assunto difícil que sempre causa revolta e comoção, "A Caça" nos permite desde o início enxergar o "quadro completo", como se estivéssemos vendo o filme do alto, cientes da inocência de Lucas. Mas cabe a pergunta: como reagiríamos diante de um caso parecido em que não tivéssemos total consciência dos fatos?
Falar em pré-julgamento quando não é a segurança do seu filho que está em jogo é fácil.
Como muitos, eu tento sempre me manter cauteloso com acusações sem provas (ainda mais em tempos de guerra de palavras na internet), mas em situações "extremas" não posso dizer com certeza qual seria a minha reação. É como reagir a um assalto sabendo que não se deve fazê-lo. Quando algumas situações se tornam pessoais, nem sempre seguimos o que temos como o certo.


Vale destacar as atuações impecáveis do elenco do filme, principalmente de Mads Mikkelsen e da garotinha Annika Wedderkopp. Ela me convenceu em cada momento. O elenco de apoio faz um bom trabalho, especialmente Thomas Bo Larsen (que tem uma curiosa semelhança com John Hurt) e Susse Wold.

"Jagten", no original, já desponta como um dos melhores dramas de 2013. Thomas Vinterberg faz um filme difícil que consegue tocar o espectador e ainda o fazer refletir sobre o que foi visto na tela, até porque, no final, a história de Lucas não é apenas sobre tragédia, mas também sobre perdão.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

[Curtas] O Poder E A Lei

★★★★☆
Ótimo

Filmaço. Algumas pessoas podem achar um pouco chato por se passar muito tempo no tribunal, mas para quem gosta vale muito a pena.

A trama é inteligente e o roteiro consegue facilitar o entendimento das questões legais sem soar didático demais, além de amarrar bem a maioria das pontas da história — [selecionar o texto a seguir para ler o spoiler] (só achei sem sentido nem passar pela cabeça de Mick que outra pessoa, a mando de Roulet, poderia ter matado Levin). .

A direção aposta em planos fechados no rosto dos personagens, coisa que eu não sou muito fã, mas que ajuda a tornar o filme mais "pessoal", aproximando mais (literalmente) os personages do público. Esses primeiríssimos planos também servem para mostrar a mudança no semblante de Mick Haller, o protagonista, no decorrer do filme, com suas olheiras ficando cada vez mais fundas ao passo que ele vai se afundando no caso.
Achei muito interessante também o dilema moral criado no filme. A príncipio o personagem de Mick é retratado como um advogado sem escrúpulos, que faz tudo para ganhar e só pensando no dinheiro. Mas aos poucos vamos vendo que ele realmente tem uma consciência e quer fazer a coisa certa. Como ele mesmo fala, após tantos anos defendendo criminosos, ele não consegue mais acreditar na inocência, mesmo alegando que seus cliente são inocentes. Ele é um personagem em conflito com seus ideais e ações, longe de ser perfeito herói. Apenas humano.
Mick Haller é um ótimo personagem. E Matthew McConaughey o interpreta de maneira competentíssima. Grande atuação.

"O Poder E A Lei" é um dos melhores filmes sobre crimes que vi recentemente.