segunda-feira, 29 de julho de 2013

[Curtas] Only God Forgives / Invasão À Casa Branca

Only God Forgives 
★★☆☆☆
Razoável

Um filme visualmente marcante, mas que falha nas questões mais básicas numa produção cinematográfica. A belíssima fotografia, design de produção e direção de arte não salvam o filme, que tem uma trama desinteressante, personagens sem um pingo de carisma e atuações fracas. O diretor foi de Drive (um filmaço), para isso.

"Only God Forgives" é bonitinho, mas ordinário.
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Invasão À Casa Branca
★★☆☆☆
Razoável

Seria mais legal se fosse um filme da série "Duro de Matar". Os filmes do John McClane são forçados, mas com orgulho. É uma linha de filmes de ação sem compromisso com a realidade, visando apenas o entretenimento. Aí esse "Olympus Has Fallen" quer se levar a sério, forçando a barra, com um tom solene, até épico... Complica.
O McClane no lugar do Mike Banning, e um tom mais leve, faria o filme ser bem melhor.
E de acordo com o filme, os EUA são responsáveis pela paz mundial. Tirando a sua frota do lugar desencadearia um caos nuclear. Menos, né...

Mas, como um filme de ação, é bem decente. O problema mesmo é o complexo americano de Deus e as forçações da história.

domingo, 14 de julho de 2013

O Homem de Aço


★★★★☆
Ótimo

Talvez a maior ironia em relação ao Super Homem, o super herói mais famoso da história, é que sua indestrutibilidade é seu maior ponto fraco na disputa com outros heróis pela preferência do público. Com toda sua força, poderes e praticamente nenhuma fraqueza, o kryptoniano se distancia de heróis mais humanos (no sentido falível da palavra), como o Homem Aranha, um fotógrafo pobre com poderes adquiridos por meios radioativos, e Batman, que, apesar de milionário, é um dos heróis mais humanos, por sua vulnerabilidade física e emocional.

A dificuldade de adaptar o personagem para a telona é percebida só de olhar a carreira de Clark Kent no Cinema. Dos 5 filmes lançados, apenas os dois primeiros, de Richard Donner e Richard Lester, são tidos como relevantes. Portanto, Zack Snyder — diretor com muitos filmes de ação no currículo, como "300", "Sucker Punch" e "Watchmen" (um dos melhores filmes de super heróis já feitos) — sabia do peso da responsabilidade (e das duas centenas de milhões de dólares, diga-se de passagem) que estava em suas mãos. Com o sucesso cada vez maior da Marvel, e com o término da saga do Batman, a Warner Bros. precisava de uma nova "super saga" urgentemente. Falhar não era uma alternativa.

E a boa notícia é que Zack Snyder não decepciona. "Man Of Steel", filme mais sobre Kal-el do que Clark Kent, mesmo com seus defeitos, é um ótimo filme, além de ser diferente de tudo que já vimos em adaptações do Superman para as telas, grandes ou pequenas. Esqueça a famosa trilha sonora de John Williams, o inocente e unidimensional Super Homem de Christopher Reeve, a baboseira de defender o "jeito americano" e tudo referente ao filme de Donner e suas sequências. "O Homem de Aço" é bem mais maduro e sério. E isso já era esperado pela presença de dois grandes nomes envolvidos no projeto: Christopher Nolan e David S. Goyer — ambos vindos da trilogia do Cavaleiro das Trevas. Enquanto Nolan aparece apenas como produtor dessa vez, Goyer é responsável pelo roteiro.


A trama de "O Homem de Aço" apresenta muitos elementos de ficção científica, e essa característica é percebida logo nas primeiras cenas do filme, ambientadas em Krypton. Snyder faz uma remontagem bem curiosa do Planeta natal de Kal-el, com um território aparentemente hostil, visualmente decadente, que contrasta com a tecnologia avançada dos kryptonianos — a própria exploração de recursos naturais condenou o planeta a destruição. Aliás, algo bem interessante no design de Krypton é essa contradição entre o moderno e o arcaico. Ao mesmo tempo em que o povo kryptoniano é muito avançado tecnologicamente, seus habitantes mais importantes usam armaduras de batalhas, como os povos antigos da Terra, e suas máquinas, mesmo com visuais "orgânicos", estranhamente parecem datadas. A concepção de arte e o design de produção do filme parecem ter se inspirado nas obras de H.G. Giger. As armaduras, máquinas e cenários de "O Homem de Aço" remetem às obras do criador do Alien mais temido do cinema.

Possivelmente um dos maiores erros do roteiro de Goyer comece exatamente depois da introdução em Krypton — em que, sabendo que o planeta vivia seus últimos dias, Jor-el manda o seu filho recém-nascido para a Terra, contrariando General Zod, que promete achá-lo de qualquer maneira. De lá, somos apresentados a Clark já adulto, trabalhando num barco pesqueiro, onde pela primeira vez vemos um momento heroico do personagem. O problema é a mudança brusca de ambiente. Das cenas de ação em Krypton, o filme já leva o espectador para uma cena de ação no meio do mar. Não há preparação, naturalidade. A partir daí o filme conta a infância de Clark (Lana marca presença rapidamente) e a descoberta de seus poderes por meio de flashbacks, o que pode não ter sido uma boa escolha, por ser um filme sobre a origem de um herói. Por outro lado, a narrativa sendo linear, implicaria em desenvolver bem mais a infância do menino kryptoniano, e não apenas rápidas sequências. O filme, que já tem 140 minutos, poderia ficar bem maior.


A trama ainda tem outros dois problemas que incomodam: a utilização além do necessário de Jor-el (a sua consciência não serve apenas como guia para Kal-el descobrir sua origem) e o paralelo constante de Kal-el com Jesus Cristo — principalmente na sequência da igreja, onde ele divide um enquadramento com a imagem de Jesus num vitral, de maneira nada sutil.
Entretanto, se o roteiro vacila em alguns momentos, acerta em muitos outros, principalmente na construção de Kal-el como pessoa e herói, mesmo que seja algo diferente do que estávamos acostumados. Como nunca antes, vemos e sentimos Clark como um peixe fora d'água. Sofrendo na sua infância com a descoberta de suas habilidades (a frase "Pessoas têm medo do que não entendem" dita por Jonathan para Clark, vale para o próprio, que não entendia o porquê de ser diferente) e quando adulto, vagando de um lugar para o outro, como um nômade — porém, mais sem identidade do que lar.

Apesar de ser filho de dois mundos, Kal-el é estranho em ambos, já que é um alienígena na Terra e, por ser filho de concepção natural, uma abominação para os Kryptonianos — que nasciam já com uma "classe" e propósito estabelecidos (Jor-el, cientista, e Zod, Guerreiro, por exemplo). Todavia, como tudo no filme, há os dois lados da moeda, pois, ainda que não pertença a nenhum dos dois mundos, ele é o único ser livre de sua raça e um deus na Terra. Até Zod, inimigo mortal do Superman e um dos últimos sobreviventes de Krypton, é escravo de sua predestinação. Ele nasceu para proteger seu planeta e irá até o fim para isso.

E até o fim ele vai. Superman precisa testar toda a sua força para parar Zod e salvar a Terra, nem que para isso leve arranha-céus e todo tipo de construções abaixo. O resultado (meio over, é verdade) são cenas espetaculares de luta e destruição em Smallville, Metropolis e até no Espaço. Sim, se você achou que "Superman Returns" não teve ação o suficiente, já aviso que "Man Of Steel" é um prato cheio. O nível de destruição é capaz de ter levado Michael Bay às lágrimas, de alegria e emoção.


Outra coisa resgatada pelo filme, é o carisma do Superman, graças ao britânico Henry Cavill. Ele consegue passar para o público a solidão e o peso que o kryptoniano tem nas costas, com todas as nuances pedidas pelo personagem. Um exemplo de sua boa atuação é num flashback onde Clark, ainda adolescente, discute com seus pais. Em nada lembra o Clark calado que vemos na maioria do filme. Amy Adams interpreta uma Lois Lane forte e decidida, que foge da donzela que sempre precisa ser salva do vilão. Michael Shannon tem sucesso ao dar a Zod uma aura realmente ameaçadora, já o Jor-el de Russel Crowe representa a figura paterna e sábia. Outra figura paterna muito bem representada é Jonathan Kent. Kevin Costner, o melhor no elenco, não precisa de muitos momentos para brilhar como o pai de Clark Kent. Diane Lane também aproveita seu pouco tempo na tela para esbanjar sensibilidade, especialmente na sequência em que ela precisa confortar o seu filho, assustado com os dons recém-descobertos da super audição e visão de raio x. Os atores Cooper Timberline e Dylan Sprayberry, que fazem Clark com 8 e 14 anos, respectivamente, também fazem ótimos trabalhos.

Outro elemento a se destacar é a belíssima trilha sonora do sempre genial Hans Zimmer. Desde o início com o clima de urgência em Krypton, passando pelos momentos mais dramáticos às lutas de Superman com Zod, a trilha se encaixa perfeitamente e emociona. Percebe-se o tom completamente diferente dos filmes do Batman, por exemplo. Zimmer é um compositor que se adapta muito bem aos diferentes tipos de filmes.
Apesar da trilha ser diferente da trilogia do Cavaleiro das Trevas, Christopher Nolan trouxe para "O Homem de Aço" o mesmo clima sério e épico. Não há espaço para muitas piadas, e as poucas que têm são mais visuais, e até bem inteligentes. Em uma delas, vemos um plano fechado na palavra "ALERT" em vermelho logo depois do Governo Americano descobrir a nave de Zod em direção à Terra. Mas logo a câmera abre o plano e é revelado que é o alerta da falta de papel da impressora que Lois usava. A falta de humor tem sido um dos motivos de críticas ao filme, mas eu acho interessante uma pegada mais séria nos filmes da DC Comics, diferentemente dos filmes da Marvel.


Com todos esses altos e baixos, Zack Snyder faz um filme um pouco problemático, mas divertido e eficiente, conseguindo honrar a grandeza que esse personagem representa para a cultura pop. O diretor desmonta o mito de perfeição do Superman, um herói que precisava se inovar e se adequar ao mundo de hoje — um mundo menos colorido (como sua roupa) e onde fazer o certo pode significar sujar suas mãos (como a decisão que ele toma perto do final). Clark Kent passa a se assemelhar, também, com os dois heróis citados no início da crítica — vivendo com pouco dinheiro e buscando seu lugar no mundo.

Percebe-se que é apenas o primeiro passo para o estabelecimento de uma franquia, pois Kal-el ainda parece não ter chegado à maturidade de seus poderes e de sua personalidade. Esse ainda não é o Superman que daqui a alguns anos veremos liderando a Liga da Justiça. Mas, de qualquer forma, foi um bom primeiro passo, e com o pé direito.