sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

O Artista - Oscar 2012

★★★★☆
Ótimo

Numa época em que os filmes em 3D e cheios de efeitos especiais cada vez ganham mais força (e dinheiro), dominando as salas de cinema, o diretor Michel Hazanavicius nada contra a corrente ao fazer um filme preto e branco e, ainda por cima, mudo. E essa coragem de fazer o diferente pode significar a consagração não só dele, mas de toda sua equipe. "O Artista", além de ser o favorito ao Oscar, recebeu 10 indicações - só fica atrás de "A Invenção de Hugo Cabret", com 11.

O filme segue a trajetória de glória e decadência de George Valentin (Jean Dujardin), um famoso ator do cinema mudo que vê sua carreira fracassar com o começo do cinema falado. Ainda no auge da cerreira, ele conhece a fã Peppy Miller de forma inusitada. Esse "encontro" impulsiona a carreira de Peppy (Bérénice Bejo), que também é atriz. Eles até chegam a fazer um filme juntos, mas quando o som chega ao cinema, os destinos deles se separam (ao menos temporariamente). Enquanto George é muito orgulhoso para entrar nessa nova "onda", Peppy entra de cabeça e acaba virando uma grande estrela.

Desde o primeiro filme com som, em pouco tempo o cinema mudo foi "engolido" pelo cinema falado - em 2 anos a esmagadora maioria dos filmes produzidos em Hollywood tinha som. E muitos atores que não acompanharam essa mudança acabaram ficando pelo meio do caminho. E isso que acontece com George Valentin. Junto com o seu emprego, George também perde sua identidade - dilema muito parecido com o de Norma Desmond, de "Crepúsculo dos Deuses" (1950). Para um artista decadente, o profundo anonimato é o pior dos pesadelos. E esse pesadelo acaba virando realidade. Essa questão é muito bem representada quando George vai ver o novo filme de Peppy e, na saída, uma mulher o para. Mas por causa do cachorro dele e não por tê-lo reconhecido. Esse drama de George também dá origem a uma das cenas mais interessantes do filme; após ter tido contato pela primeira vez com o som num filme, ele parece reagir com descrença, e zomba do que acabara de ver. Mas na verdade isso mexe com ele e o deixa inseguro. E ele sonha com tudo ao seu redor começando a fazer barulho, menos ele, que até tenta gritar, mas nenhum som sai de sua garganta. Simbolismo perfeito para a fase que ele vai viver a partir daquele momento. O mundo que ele fazia parte mudou, e ele acabou ficando obsoleto, ultrapassado, sozinho - em uma cena ele passa por um cinema onde tem escrito "Lonely Star" (estrela solitária), mas um detalhe que ajuda na compreensão do personagem.

A direção de arte do filme capricha bastante nos detalhes para recriar as décadas de 20/30, e todo o charme do cinema mudo. E ver como eram feitas as gravações - como a cena em que vários takes são repetidos, até ficar bom - também é interessante.
Os atores estão muito bem, com destaque para Jean Dujardin, que parece que nasceu para o cinema mudo. As expressões faciais fortes e até seu jeito de se mover casam muito bem com a proposta de "O Artista". É um forte candidato ao Oscar de melhor ator - ele já ganhou o BAFTA, entre outros prêmios.

"O Artista" é o favorito ao Oscar, o que não quer dizer que é o melhor, mas, no geral, é um ótimo filme. Pode parecer estranho por ser algo bem diferente do que estamos acostumados a ver, mas isso é uma coisa boa. Filmes com tiroteios, carros, vampiros, super heróis, robôs, aliens etc temos aos montes. Mas um filme que resgata e homenageia o cinema de quase 100 anos atrás é um raridade, que merece ser vista e prestigiada.

The Artist
França/Bélgica, 2011 - 100 min.
Comédia/Drama

Direção:
Michel Hazanavicius Roteiro: Michel Hazanavicius
Elenco: Jean Dujardin, Bérénice Bejo, John Goodman, James Cromwell, Penelope Ann Miller Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor diretor, Melhor atriz coadjuvante, Melhor roteiro original, Melhor trilha sonora original, Melhor fotografia, Melhor figurino, Melhor direção de arte, Melhor montagem.

4 comentários:

  1. Ah, não sei se é minha recente mania de assistir filme antigo, mas gostei mt desse! Não é perfeito, claro, mas acho que só o fato do cara ter se arriscado a fazer um filme desse tipo hoje em dia já merecia um Oscar! sei lá. mas acho que por isso mesmo é que corre risco de não sair tão vencedor assim.

    detalhe que Dujardin pegou a mania de caras e bocas fora do filme tbém. o cara faz a mesma cara, como se tivesse filmando ainda! rsrs a não ser que isso já seja 'tique' dele mesmo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu acho que O Artista vai levar o prêmio principal e talvez Direção de arte ou figurino, e Hugo vai ficar com a maioria dos prêmios técnicos.

      Eu acho que o Dujardin já é meio assim mesmo. Não sei se foi no Globo de Ouro ou no BAFTA, mas no discurso ele disse que tinham dito que ele não seria um bom ator justamente por ser expressivo demais. E realmente, até esse ano ninguém sabia quem Jean Dujardin era.

      Excluir
  2. Quando combinei com alguns amigos de assistir um filme em preto e branco e mudo, eu achei que não iria gostar. E acontece que eu amei o filme, nunca pensei que ele me cativaria tanto. Não é atoa que coloquei ele entre os meus 5 favoritos de 2012.

    E excelente critica Israel. :)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Não só você. Muita gente vê o filme com esse pensamento. Meu irmão mesmo já falou "eu vou ver filme preto e branco, e mudo ainda por cima? eu hein". Puro preconceito.

      O filme também está na minha lista de melhores.

      Muito obrigado, pelo elogio!

      Excluir