O problema maior de "Sombras da Noite" é o terceiro ato. Os dois
primeiros têm seus problemas, mas até são divertidos. O clímax é
bem fraco, e a cena final, dispensável. O mais legal mesmo do
filme é a adaptação do vampiro Barnabas (Johnny Depp) aos novos tempos e a exploração de seu
lado estranho, como ele dormir em lugares bizarros e até aquela cena em
que ele fica encarando que nem um gato aquela luminária do quarto da
Carolyn (Chloe Grace Moretz) que ele pensava conter sangue.
No geral, o elenco é bom e gostei bastante do Depp. É mais um personagem excêntrico que ele tem sucesso em compor. E as boas falas de Barnabás ajudam na criação dessa figura interessante, para dizer o mínimo.
Se fosse um filme mais centrado na família e que não tivesse a
obrigação de ter cenas de ação, "Sombras da Noite" poderia ter dado mais certo, pois
elas acabam sendo o maior ponto fraco do filme, por 1- não serem
empolgantes; 2- terem revelações que acabam soando ridículas[selecionar o texto a seguir para ler o spoiler] (Carolyn ser lobisomem); 3- e pela própria conclusão com um deus ex machina (o fantasma aparece do nada e vencer a bruxa? Sério???)
Mas, apesar de tudo isso, ainda acho o filme melhor que "Alice". Tim Burton anda vacilando
ultimamente, com uma filmografia irregular. Espero que ele se reencontre.
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Em Transe
★★☆☆☆
Razoável
"Trance" é tecnicamente muito bonito e tem uma estética visual
inteligente (apesar de abusar de certas marcas, como planos inclinados),
mas narrativamente decepciona com uma trama pretensiosa, feita para
enganar, ou melhor, confundir o espectador.
Um filme, mesmo complexo,
precisa dar ao espectador pistas para que ele possa desvendar a
história. "Em Transe" não faz isso (pode até fazer em alguns momentos de
transe, mas não para a descoberta dos pontos chave da história) pois,
não bastasse o grande emaranhado de real e imaginário que o filme faz, o
que é revelado ao final (com dois plot twists) é extremamente difícil
que seja descoberto por alguém.
É um roteiro com um grande ego que, se orgulhando de ser TÃO
inteligente, em vez de nos levar para dentro do filme, nos faz apenas de
espectadores passivos, esperando uma explicação. Até porque, já que
sugestão hipnótica é tão fácil, TUDO que estávamos vendo podia não ser
real.
Porém, mesmo com esses problemas, o filme tem muitas qualidades, como
a já citada estética, a fotografia e o elenco, que está muito bem (principalmente o trio principal formado por James McAvoy, Rosario Dawson e Vincent Cassel).
Para um filme que fala tanto em identidade, acho que faltou um pouco
disso em Em Transe. É um filme que não tem alma. Por ter muitas
qualidades, não chega a ser ruim, mas confesso que Danny Boyle dessa vez
me desapontou.
Quem me acompanha no Twitter ou no Facebook, sabe que "Sons Of Anarchy" é a minha série preferida. Não ouso dizer que é a melhor, claro. Reconheço que em matéria de linguagem audiovisual, por exemplo, "Breaking Bad" é superior. Mas o que me cativa e o que faz a criação de Kurt Sutter ("The Shield") dar tão certo é a qualidade do roteiro, que além de ser muito regular, inclui personagens muito bem escritos e desenvolvidos. O texto de Sutter e o seu elenco muito bem escolhido, consegue criar uma relação de cumplicidade entre personagem e espectador quase tão forte quanto o laço de irmandade (cada vez mais frágil) do clube de motociclistas. Mesmo não concordando com muitas de suas ações, amamos aqueles personagens pois, antes de criminosos, eles são humanos, amigos, família.
Prestes a estrear a sexta temporada lá fora (dia 10/09 lá fora, aqui sem previsões), decidi fazer um apanhado do excelente quinto ano, um ano de muitas mudanças na SAMCRO e na personalidade do protagonista Jax Teller (Charlie Hunnam, de "Círculo de Fogo"), que segue o seu rumo — sem volta? — à escuridão.
Nem preciso citar que haverá spoilers à frente, certo?
Jax se firmou como líder do Clube (no verdadeiro
sentido da palavra, não só como título), mesmo que isso esteja custando
sua "humanidade". A mudança que o personagem sofreu no decorrer da série,
principalmente nas duas últimas temporadas, chega a assustar. Ele faz o
que tem que ser feito (pelo menos em seu julgamento) e o mundo que se dane.
E o pior é que ele, gradativamente, tem se deixado mover pelos
sentimentos, principalmente de vingança — por Clay e pelos responsáveis
pela morte de Opie (ao ponto de jogar fora anos de relacionamento com os Grim Bastards para matar o cara).
Agora, além de redimir o clube, ele precisa redimir a si mesmo.
A perda de controle de Jax vem sido demonstrada pela atuação cada vez mais carregada de Charlie Hunnam.
O personagem, que antes se impunha e se destacava por sua clareza de pensamento e soluções criativas para problemas aparentemente sem soluções, ou ao menos sem soluções não violentas — essa segunda característica ainda permanece —, agora, sempre sem paciência, o faz levantando a voz, tentando ganhar discussões no grito.
Por um tempo até cheguei a pensar que Hunnam estava erraticamente se excedendo em suas atuações, já que em várias vezes na série ele conseguiu se impor ou expressar sua raiva, por exemplo, sem precisa gritar (só com um gesto, olhar, entonação de voz, etc). Entretanto, me convenci que ele usa tal recurso para reforçar a mudança de personalidade de Jax, e como ele ficou arrogante e "selvagem" depois de assumir o martelo ("Opie was right. The gavel corrupts. You can't sit in this chair without being a savage").
Mesmo com sua crescente altivez, continua sendo notável a habilidade de Jax de fazer situações que parecem sem
saída se virarem ao seu favor. O próprio Damon Pope (Harold Perrineau, de "Lost") reconheceu essa habilidade: "Finding the hidden advantage in an
unfortunate circumstance. Using pain to take it to the next level. Those
are the things that turn players into kings." Usar a arma de Clay para
matar Pope (eu gostava dele, descanse em paz) foi um jogada de gênio. Matou 2 coelhos com uma cajadada só.
Para
ser sincero, eu achava que Clay (Ron Perlman) morreria no final da temporada e, até
alguns episódios antes, que ele faria o papel de vilão até o
seu fim. Essa questão talvez tenha sido a única decisão errada de Sutter na temporada. Fazer o vilão se arrepender de tudo que fez e
tentar se redimir é um recurso batido para criar empatia com o público
durante a fase final do personagem, e dificultar a decisão do (anti) herói
sobre qual será o destino — que, no caso de SoA, não há meio termo para
um personagem que vacilou tanto: ou te deixam viver, ou te matam (não acredito que Clay ficará preso por muito tempo).
Porém, a série não chega a perder pontos por causa
disso. Desde o início eu gostava do Clay, apesar de seu lado desumano, e confesso que
foi bom vê-lo se arrepender. Agora ele que está sofrendo. Deu pra sentir
a dor dele ao ser traído por Gemma e Juice (Katey Sagal e Theo Rossi, respectivamente). Falando no Juice, ele foi um dos personagens mais importantes da quarta temporada, mas nesse ano se resumiu a capacho do Clay. Ele sempre
foi um dos mais queridos pelo público, até por ter um lado ingênuo, mas a facilidade com que é
manipulado já está incomodando. Duas temporadas, direto. Fora que a culpa por suas ações continua crescendo. Será que ele tentará cometer suicídio novamente? Tentando ou não, algo me diz que ele não sobreviverá à sexta temporada.
A relação de Gemma e Tara, é outra coisa que se deteriorou na série. Particularmente, eu gostava mais quando as duas eram
amigas (2ª e 3ª temporada). No início da série elas se odiavam, depois aprenderam
a gostar uma da outra e criaram uma bonita amizade, agora voltaram a ser antagonistas, e para sempre, pelo jeito.
Uma das coisas mais legais desse ano
foi a entrada de Jimmy Smits pro elenco. Simpático e com boas tiradas, o
seu personagem, Nero Padilla, ganhou o público logo em sua primeira aparição.
Belíssimo trabalho de Smits. E, ainda no território de relacionamentos, a amizade/parceria criada entre Nero e Jax foi
muito importante para os dois personagens. Reformado de sua vida no crime, Nero funcionava como um conselheiro de Jax. Todavia, não só não conseguiu colocá-lo no caminho certo, como acabou voltando para o mundo criminoso.
Muitas cenas fortes marcaram a quinta temporada. A morte de Opie (Ryan Hurst) foi um dos momentos mais emocionantes de toda a série. Vendo em retrospectiva sua jornada, porém, o seu destino não poderia ser menos dramático. Desde a primeira temporada Opie foi retratado como um personagem infeliz e em conflito, que precisava escolher entre a família e o clube. Acabou acusado de trair o clube, perdeu a esposa, mais tarde se casou de novo (com Lyla), não deu certo e ainda perdeu o pai, Pyne, assassinado por Clay na quarta temporada.
A última temporada ainda teve dois outros momentos de impacto. A filha de Tig (Kim Coates) sendo queimada viva por Pope, logo no primeiro episódio, e a sequência em que Otto (interpretado pelo próprio Kurt Sutter), outro personagem que há anos sofre pelo clube, assassina uma enfermeira da prisão com um crucifixo, mais uma vez provando sua lealdade aos seus irmãos (depois de quase os trair), mas, por outro lado, complicando a vida de Tara, que tinha levado o crucifixo a ele ("Sons live, Redwood bleeds.").
A temporada termina com Tara sendo presa e Gemma, aparentemente, voltando a ser a figura materna (que sempre teve um
grande valor na série) na vida de Jax. A última cena do season finale, por sinal, foi muito bem pensada. Gemma em pé abraçando Jax, sentado, contrasta com a última imagem da quarta temporada, quando era Tara que o abraçava. E, na minha opinião, a quarta temporada deveria ter terminado assim. Não tinha necessidade alguma da foto antiga de John Teller e Gemma surgir na tela "explicando" a referência ao espectador. Lembro que na hora até senti minha inteligência sendo subestimada. Mas esse é um daqueles comuns tropeços que não comprometem o resultado final.
[Foto da Gemma com Jax]
No início do texto comentei sobre a regularidade da série. E é impressionante como "Sons Of Anarchy" não tem uma temporada ruim.
Ainda mais, não tem um episódio ruim. Mesmo na terceira temporada, que considero a "menos boa", não
consigo lembrar de um episódio fraco. Todos desenvolvem bem a história,
os personagens, tem boas cenas, te fazem querer ver logo o seguinte. Nesse ano Kurt Sutter mais uma vez não decepcionou e nos presenteou com
uma temporada sensacional.
Com o fim se aproximando (a série terminará na sétima temporada), o destino de Jax e do clube vai tomando uma forma sombria. O trailer da próxima temporada destaca, além das dificuldades de Tara na prisão e a ameaça representada por Lee Marshal (ex-oficial de justiça que busca vingança contra o clube), o caos que impera no clube, onde o sentimento irmandade parece estar sendo esquecido aos poucos. Além disso, podemos ver que o novo vice-presidente será Chibs (Bobby entregou o cargo por não concordar com as ações de Jax).
A sexta temporada tem tudo para ser uma das melhores. E tudo indica que será.