segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Os Mercenários 2

★★★★☆
Ótimo

Em 2010 Sylvester Stallone reuniu vários astros de filmes de ação em "The Expendables", traduzido aqui no Brasil para "Os Mercenários". O filme fez sucesso e uma continuação foi confirmada para 2012. Stallone, agora com 66 anos, continua desafiando o tempo e a idade, e volta a liderar o seu grupo de Mercenários nessa continuação que, no geral, supera o original.

"Os Mercenários 2" é um filme sem muita frescura — e por frescura eu quero dizer coisas como direção, roteiro, compromisso com a realidade etc — que tem como único objetivo entreter os espectadores. E consegue com sucesso. Até mais do que o primeiro. O filme é capaz de fazer até a menos nostálgica das pessoas sentir saudade daqueles filmes de ação dos anos 80 e 90, principalmente. Ver astros como Sly, Arnold Schwarzenegger, Bruce Willis, Chuck Norris e os mais "novos" Jason Statham e Terry Crews juntos contra Jean-Claude Van Damme é um sonho para os fãs dos filmes de Ação assim como ver "Os Vingadores" foi para os fãs de HQ.


Se em "Os Mercenários" as presenças de figurões como Schwarzenegger e Willis eram apenas brindes, na continuação a presença deles é o carro chefe de divulgação, já que eles realmente entram em ação, e os elementos do filme funcionam em função deles. Se por um lado isso é bom — as piadas cheias de referências às carreiras dos atores são um dos pontos altos do filme — por outro isso é ruim, pois faz o filme se distanciar ainda mais da realidade. Porém essa distância é criada de uma forma divertida, que acaba funcionando a favor do filme. Um momento que comprova isso é quando o Chuck Norris aparece pela primeira vez. A cena é absurdamente engraçada. Não que o primeiro seja um exemplo de filme baseado na realidade, mas forçando bastante a imaginação até era possível pensar "até que isso poderia acontecer". Mas nessa sequência, qualquer base na realidade é divertidamente ignorada. E até dá pra entender. Não é uma coisa normal ver sessentões ou, no caso de Norris, setentões correndo e atirando por aí. Stallone pode estar lutando contra a idade, mas percebe-se que ela já chegou há um bom tempo para Schwarzenegger, por exemplo. Ou se faz um filme de ação menos realista ou coloca os "tiozinhos" apenas para dar ordens, de trás das mesas.


Outro ponto alto do filme é a trilha sonora. Ela já era destaque no original, e continua ótima.
O roteiro não é grande coisa, mas até melhora em relação ao primeiro filme. Os diálogos estão menos infantis e a história e os personagens, mesmo não muito originais, são menos clichês. Van Damme que tinha recusado um papel no original por achar que o personagem oferecido a ele não tinha profundidade, dessa vez entra no elenco pra fazer o vilão, Vilain. Não sei o que fez mudar de ideia, porque seu personagem não tem muita profundidade e nenhum tipo de background. Perguntas como "de onde ele veio?", "Por que ele faz o que faz?" são completamente ignoradas. Mas, ei, estamos vendo o filme dos sonhos de todo fã de Ação, who cares? Pedir profundidade nos personagens é a mesma coisa que querer que os brucutus atuem. E, sinceramente, se trancassem todos esses atores numa sala, com algumas armas, eu já pagaria para ver.
Mas, dentre tantos atores lendários, quem mais se destaca, mais uma vez, é Jason Statham. De longe é o mais carismático e o responsável pelas melhores cenas de luta (a participação de Jet Li nesse filme é pequena, que nem ele). Porém ver Van Damme com seus spinning kicks é sensacional. A luta dele contra Stallone é demais.


Alguns podem pensar "você apontou tantos defeitos no filme e ainda fala que gostou?". SIM! Posso até relevar os defeitos do filme, mas não posso ignorar que eles existem. "Os Mercenários 2" tem muitos problemas. Nem precisa procurar defeitos para achá-los. É um filme sem profundidade (e alcançá-la nem é o objetivo principal) que não dá para se levado a sério. E é exatamente aí que está o segredo: não levar o filme a sério. É para aproveitar a experiência, rir com os amigos, tentar sacar todas as referências. E o filme tem sucesso no que propõe: apresentar boas cenas de ação e lutas, reunindo um elenco espetacular.

Daqui a 10 anos "Os Mercenários 2" não será lembrado por seus defeitos e sim por ter reunido, pela primeira vez, os principais ícones da história do cinema de ação.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A Arte não muda. Nós mudamos.

Você já mudou de ideia em relação a algum filme, música ou qualquer outra expressão de arte? Como se você não gostasse num momento e mais tarde começasse a gostar, ou vice-versa.
Isso acontece comigo com uma certa frequência. Músicas que eu eu não gostava e aprendi a gostar com o tempo. Ou filmes que, antes sem graça, agora parecem algo perto de uma obra prima. O contrário também acontece, claro.

Um exemplo recente disso é o filme "Inverno da Alma", que vi pela primeira vez para comentar aqui no blog, já que era um dos concorrentes ao Oscar de melhor filme de 2011 (a crítica pode ser lida aqui). Era o "underdog" daquela lista que continha filmes como "O Discurso do Rei" (que ganhou a estatueta), "Cisne Negro", "O Vencedor", "A Origem" etc. Foi o filme que "apresentou" Jennifer Lawrence ao mundo. Até então atriz desconhecida, ela foi indicada como Melhor Atriz pela bela atuação como Ree. Apesar da indicação, ela só foi estourar depois com "X-Men: Primeira Classe" e "Jogos Vorazes". O filme ainda contou com outro desconhecido, John Hawkes, que interpretou Teardrop, simplesmente um dos melhores personagens do ano. Mas a disputa na sua categoria (Ator Coadjuvante) era cruel e ele não teve a mínima chance contra Christian Bale (por "O Vencedor") — e ainda tinha Geoffrey Rush.

Por que estou "ressuscitando" "Inverno da Alma" aqui no blog? Porque um dia desses revi o filme e tive uma outra impressão sobre ele. Pelo que eu escrevi sobre o filme ano passado, dá pra perceber que eu achei um bom filme. E só. Nem digno de estar na lista de melhores filmes de 2011. Porém, revendo mais de um ano depois, vi o filme com outros olhos. Se antes eu o achava muito lento e com problemas no desenvolvimento da história, dessa vez achei que o ritmo não poderia ter sido melhor. O filme continua sendo meio lento, porém coeso com o modo de vida daquele lugar, que parece parado no tempo (em nenhum momento você vê uma televisão na casa das pessoas da comunidade, por exemplo).

O que eu quero ilustrar com esse exemplo é como nós mudamos nossa percepção da Arte com o tempo, seja por enxergarmos aspectos técnicos antes não vistos, ou simplesmente relacionarmos o que estamos vendo ou ouvindo à alguma experiência vivida. Algo no meu modo de ver mudou de lá pra cá. Para pior ou para melhor. Pessoalmente eu gosto de pensar que amadureci um pouco o meu "faro" para a 7ª Arte (rs) — algo que venho tentando fazer nos últimos anos. Isso não acontecerá com todos os filmes, é claro, mas existem certos elementos que você vai enxergar de maneira diferente com o passar do tempo. Não porque eles mudarão, mas porque você mudará. A Arte é imutável e independente do tempo. Mas a mente humana não. Por isso tantas obras (filmes, músicas, quadros, poesias etc) que foram subestimadas na época em que foram criadas hoje são adoradas. Van Gogh, que só vendeu um quadro durante sua vida, hoje é reconhecido como um gênio da pintura. O Homem mudou de lá pra cá. Sua ideia de Arte evoluiu — e está em constante evolução.
E a capacidade do Homem, que hoje mais do que nunca vive em função do tempo, criar algo atemporal como a Arte é uma das contradições mais lindas que existem.


"O filme nunca muda. Não pode mudar. Mas cada vez que você vê parece diferente porque você mudou. Você vê coisas diferentes." - James Cole (Os 12 Macacos)