quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi - Oscar 2013

★★★★☆
Ótimo

[Com Spoilers]

A pergunta que ficava no ar após fotos e trailers de "As Aventuras de Pi" serem lançados era: será só um filme esteticamente bonito ou a trama também valerá a pena?
E a minha resposta é que, sim, o filme vale a pena como um todo. Ang Lee não deu atenção apenas ao visual, que é espetacular, mas também nos presenteia com uma bela história de fé, sobrevivência e autoconhecimento. O filme foi indicado a 11 Oscar, e só fica atrás de "Lincoln", com 12 indicações.

O filme é sobre a vida de Piscine Patel, um indiano que desde pequeno mostra um interesse acima do normal por assuntos como religião, matemática e música. Seu pai é dono de um zoológico, o que o ajudou a estar sempre em contato com animais e com a natureza. Em certo momento de dificuldades, seu pai decide levar a família para o Canadá, onde poderá vender os animais do zoológico por um preço melhor do que na Índia. Durante a viagem eles são pegos por um furiosa tempestade, que afunda o navio e só Pi consegue se salvar. Só que, para piorar a situação, ele tem que dividir o bote com uma zebra, um orangotango, uma hiena e um tigre de bengala, que tem o curioso nome de "Richard Parker".
Vale destacar o incrível trabalho feito pela equipe de efeitos especiais. Os animais, digitais, são perfeitos. Principalmente o Tigre, que é o que mais aparece no filme. Em nenhum momento parece artificial.

Apesar da maior parte do filme ser centrada nesse desafio enfrentado por Pi, a sua infância também é apresentada, e com ela os acontecimentos que moldaram o seu caráter e a sua visão do mundo.
Assim como muitos em seu país, Pi cresceu dentro do hinduismo, porém, ainda criança, começa a questionar a "singularidade" de sua religião ao entrar numa igreja católica e aprender sobre Jesus Cristo. Mas, ao contrário do que a maioria faria, Pi não pretere uma religião à outra; ele se acha em todas elas ("Thank you Vishnu, for introducing me to Christ"). Enquanto seu pai, Santosh, homem racional que é, não aceita essa multi-religiosidade do filho, sua mãe, Gita, é compreensiva com suas descobertas religiosas, mesmo concordando com o pai que acreditar em tudo é o mesmo que não acreditar em nada. Mas a verdade é que, enquanto Pi descobria as religiões, ele estava descobrindo e aprendendo sobre si mesmo no processo.


Desde sempre morando próximo a animais, Pi se sente conectado à natureza porém, como o lado mais selvagem dela sempre esteve atrás de grades, ele não a teme como deveria... até o seu primeiro encontro com o tigre Richard Parker, quando o seu pai lhe ensina uma lição que valerá para sempre. É o primeiro grande ensinamento de sua vida.

Com esses dois pontos — sua relação com a religião e natureza — devidamente trabalhados, a história avança para o acontecimento capital da trama. Após o naufrágio do navio, Pi precisa aprender a sobreviver dividindo um bote com quatro animais. Para sua sorte (ou não), os outros animais, um por um, morrem, só sobrando o tigre e ele.

Durante os dias que se seguem, Pi vai lutar pela sua vida e aprender a maior das lições sobre a natureza, sobre Deus e sobre si mesmo. Tendo que conviver com um enorme tigre num espaço pequeno no meio do oceano, ele dá valor a lição que sei pai o ensinou, que os animais não pensam como os humanos, e que há um motivo para eles serem chamados "selvagens". Mesmo assim, é importante notar que o tigre em certos momentos chega a ser quase antropomorfizado, não corporalmente, claro, mas em suas atitudes e em seu olhar bem expressivo, que nos permite saber o que ele está sentindo — provavelmente para criar uma empatia do espectador para com o animal, e não só com Pi. Inclusive, em certo momento (até engraçado) em que os dois estão "disputando" seus lugares no bote, o tigre toma uma atitude claramente provocativa em relação a Pi.
Mas o perigo não se resume a figura de Richard Parker. No mar, há os tubarões que várias vezes aparecem a espreita do bote, a lém das tempestades que Pi e Richard Parker têm que enfrentar. Porém, em todos os momentos, Pi não perde a fé. E em sinais, como o céu sempre refletido na água, percebemos que Deus (ou deuses) sempre esteve ali perto dele.


"As Aventuras de Pi" realmente é um filme que tem um certo cunho religioso, mas o legal é que em nenhum momento ele toma partido de uma religião específica. É uma salada de religiões que acaba funcionando bem tanto para a história quanto para a discussão do assunto, já que até mesmo muitos dos que não tem uma fé, não acreditam num deus, consideram que a fé é algo que dá esperança e um sentido a vida às pessoas. E na situação de Pi, acreditar que Deus sempre esteve com ele foi essencial para não desistir. Essa forte fé, que independe de uma religião específica é algo belo. Porém, ainda mais do que sua crença significar ter algo em que se "segurar", ela funciona mais como uma "ponte" usada por Ang Lee para discutir o auto-conhecimento (em sua busca para entender os mistérios da fé e do mundo, ele descobria sobre si mesmo).
E isso nos leva à parte final do filme, quando Pi finalmente é resgatado e conta tudo o que passou para dois homens mandados pela companhia do navio que naufragou para tentar descobrir o motivo do náufrago. Eles não acreditam na história e falam para Pi que precisam de uma história crível, que a empresa acreditaria. Pi então conta uma história diferente, os homens dessa vez aceitam e partem. Só que na verdade tudo o que ele conta nessa segunda história é uma analogia do que realmente aconteceu.
Muita gente tem criticado o filme por ter mastigado demais essa analogia, mas devo dizer que discordo. Um filme com tantos significados, precisa se conectar com o público médio também. Eu mesmo na hora não fiz ligação da analogia com a história original. Se o escritor não tivesse explicado, eu até poderia vir a compreender o significado, mas depois de muito tempo.

 
No final, Pi se vendo como o Tigre foi uma sacada bem inteligente, e a sua frase "(...)The whole of life becomes an act of letting go, but what always hurts the most is not taking a moment to say goodbye" é ao mesmo tempo linda, e doída (e deve ser ainda mais para quem perdeu alguém próximo). A cena final resume bem isso: ao mesmo tempo em que ele, Pi, fica triste porque vê o Tigre (o seu único companheiro durante essa aventura) partir sem se "despedir", ele se vê como o Tigre, se desprendendo do passado, ou do seu velho "eu", sem olhar para trás.

Uma bela metáfora que coroa uma belo filme.

Life Of Pi
EUA/Tailândia, 2012 - 127 min.  
Drama/Aventura
Direção: Ang Lee

Roteiro: David Magee
Elenco: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Adil Hussain, Tabu, Rafe Spall, Gérard Depardieu
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor diretor, Melhor roteiro adaptado, Melhor trilha sonora original, Melhor canção original (Pi's Lullaby), Melhores efeitos visuais, Melhor fotografia, Melhor direção de arte, Melhor montagem, Melhor edição de som, Melhor mixagem de som

*Em negrito os prêmios ganhos

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

[Curtas] O Resgate

★★☆☆☆
Razoável

Nicolas Cage precisa seriamente pensar no rumo da sua carreira. Ele parece aceitar qualquer roteiro que chega em suas mãos. "O Resgate" é mais um filme fraco na sua carreira recente. Nos últimos 5 anos, quais foram os filmes realmente bons que ele protagonizou? "Vício Frenético" (2009)? O divertido (porém não muito mais que isso) "Fúria Sobre Rodas" (2011)? Até os melhores não são isso tudo... Porém ele escolhe fazer vários filmes por ano (desde 2007 foram nada menos que 17), preterindo qualidade por quantidade.

"O Resgate" parece uma tentativa de Cage de emular um "Busca Implacável" (com Liam Neesom). A trama parte da mesma premissa: pai tem filha raptada e precisa reavê-la usando suas habilidades já "aposentadas". Até os nomes originais são parecidos. O do Liam Neesom é Taken. O do Nicolas Cage é Stolen. Mas as semelhanças acabam aí. Além de "Busca Implacável" ter bem mais ação, com lutas e tiroteios, é MUITO melhor.
O roteirista David Guggennheim e o diretor Simon West não conseguem repetir o sucesso de seus filmes anteriores (Protegendo O Inimigo e Os Mercenários 2, respectivamente) que também têm seus problemas, mas pelo menos divertem.

Até Josh Lucas, que é um ator que eu gosto, não se salva. Sua atuação é "over the top" e seu personagem, meio clichê. A forma como sabemos como ele falsificou sua morte é bem amadora também. Contar os detalhes para um personagem prestes a desmaiar só para o espectador saber é quase tão desajeitado quanto um diálogo expositivo(*). [spoiler] (selecione o texto a seguir com o mouse para ler) E ainda baixa um Jason Voorhees nele no final. O cara se recusa a morrer, o que acaba sendo involuntariamente engraçado, já que provavelmente o diretor tentou criar um clima de tensão com isso. [/spoiler]
No elenco, ainda tem Malin Akerman (Watchmen), Danny Huston (X-Men Origens: Wolverine), M.C. Gainey (Lost) e Sami Gayle, entre outros.

Mas, apesar de tudo, não dá pra falar que o filme é de todo ruim. Tem seus bons momentos. O problema é que, no final da projeção, eles já não são tão bem lembrados como os ruins.

*Diálogo expositivo: diálogo que apresenta informação ao espectador (ex: dois personagens conversam algo que já sabem para explicar ao espectador).

domingo, 27 de janeiro de 2013

[Curtas] Mais uma novidade no Blog.

Hoje eu estava pensando sobre o blog, e minha atual dificuldade em terminar as críticas com uma certa frequência, e resolvi implementar uma novidade aqui no Blog. Ela se chamará "Curtas" e serão comentários menores sobre filmes (novos, mas tambem mais antigos).

As críticas mais completas continuarão presentes, mas, para o blog ter uma quantidade maior e mais frequente de posts, pretendo postar pelo menos uma vez por semana esses comentários da nova seção. Será algo nos moldes dos Melhores Filmes de 2011(como http://www.isduarte.blogspot.com.br/2012/01/outra-terrathe-sunset-limited-melhores.html), quando escrevi comentários de 2 filmes por post.

É isso. Espero que gostem e continuem visitando o Blog. =)

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Indomável Sonhadora - Oscar 2013

★★★★☆
Ótimo

[O texto a seguir contém alguns detalhes sobre a trama do filme]

Dentre vários filmes com orçamentos milionários e diretores e atores famosos, "Beasts Of The Southern Wild", no original, conseguiu entrar na lista de indicados ao Oscar de Melhor filme sem nenhum nome de renome na direção ou no elenco. Com menos de U$2.000.000, Benh Zeitlin fez seu primeiro filme apoiado apenas numa boa história (baseada na peça "Juicy And Delicious", de Lucy Alibar que co-escreve o roteiro junto com o próprio Zeitlin) e excelentes atores desconhecidos, muitos deles naturais da região. Isso lhe valeu uma indicação ao Oscar de Melhor Diretor, assim como uma indicação a Quvenzhané Wallis, que se tornou a atriz mais nova a ser indicada a Melhor Atriz, com 9 anos.

O filme conta a história de Hushpuppy, uma menina de 6 anos que precisa enfrentar as consequências de uma tempestade (provavelmente o Katrina) com seu pai, Wink (Dwight Henry), em Bathtub, uma comunidade ribeirinha, na Louisiana.
Naquele mundo de madeira, a comunidade vive não se importando com o mundo além da represa, que os separa do mundo "exterior". Dinheiro parece ser algo absoleto ali. Os moradores vivem junto com animais de todos os tipos que são, antes de mais nada, a fonte de alimento deles.
Nesse mundo tão "cru", a beleza está em vermos através dos olhos, e da imaginação, de uma criança. Hushpuppy está sempre procurando se conectar com a natureza (ela coloca pequenos animais próximo ao ouvido para ouvir o som de cada um). Entender, e respeitar, o ambiente em que vive é vital.

Apesar de Wink ser a única família que Hushpuppy possui, eles vivem em casas separadas, só se reunindo para comer. Isso ressalta ainda mais a distância entre os dois. Talvez Wink force essa distância para que Hushpuppy amadureça e se torne independente logo, já que a vida naquele lugar não é fácil e ele sabe que não estará ali para cuidar dela por muito tempo. É descoberto no início do filme que Wink sofre de uma doença no coração, que em pouco tempo pode levá-lo a falecer .
Com a chegada da tempestade, os poucos moradores de Bathtub que decidiram ficar têm que lutar pela sobrevivência, pois a chuva provoca uma enchente que deixa toda a comunidade alagada, só podendo se locomover com o uso de barcos. E se a vida naquele lugar já era difícil, agora fica ainda mais. A pobreza e a necessidade de improviso naquele lugar se mostra até no barco de Wink e Hushpuppy, que não nada mais é que uma caçamba de caminhonete adaptada para flutuar.


Passada a tempestade os sobreviventes se reuniem numa das casas flutuantes, e tentam se virar naquela situação. Com o tempo os animais morrem, a comida se torna escassa, e eles enfrentam o dilema de continuar ali na ilha ou tentar a sorte além da represa. Mas para Wink, cabeça dura e orgulhoso que é, deixar Bathtub não é uma possibilidade. Eles bolam um plano que melhora a vida no lugar, fazendo a água baixar, mas ao mesmo tempo os coloca no "radar" do mundo. Um grupo de agentes de saúde chega à comunidade, que precisa ser evacuada. É claro que os moradores não aceitam isso com bons olhos e lutam para ficar. Eles são levados contra a vontade a um centro de ajuda para receber o tratamento necessário.
Nessa momento temos o primeiro "choque" entre esses dois mundos. A primeira coisa que vemos do mundo "civilizado" é um ambiente claro que contrasta fortemente com tudo que vimos no filme até o então. Hushpuppy estranha aquela sala toda branca, mas não a vê como uma prisão, como o seu pai tinha lhe contado — "parece mais com um aquário sem água", ela diz. Wink é operado, mas mesmo assim consegue arrumar um jeito de fugir dali junto com os outros moradores de Bathtub, mesmo sabendo que pode morrer.

Para nós, pode ser difícil entender como alguém pretere uma qualidade de vida melhor para viver (ou morrer) no ambiente caótico em que viveu durante a vida toda. Esse, por sinal, é o principal motivo de queixa de pessoas que têm criticado o filme. Para elas, o filme "romantiza" a pobreza já que, na figura de Wink sobretudo, vemos uma grande resistência em deixar aquela vida para trás. Como todos ali, ele tem orgulho de ser daquela região. Mas o filme não é sobre isso. Aquelas pessoas que resistiam tanto a mudança só conheciam aquele mundo. Sim, a origem é tudo para eles, não só do lugar, mas também da cultura, o modo de vida... Mas essa forma até violenta de agir, é apenas reflexo do medo que eles têm do que não conhecem. E o filme é exatamente sobre isso: o medo do desconhecido.

Se o mundo exterior é a representação do medo de Wink e dos outros moradores, os Aurochs são a da pequena Hushpuppy. Desde que ela aprendeu sobre a soberania desses predadores na Era Glacial, ela constantemente os imagina se aproximando de Bathtub.
A cena em que os Aurochs se "ajoelham" diante da Hushpuppy é sensacional. A partir daquele momento ela aprende a dominar os seus medos, principalmente o de perder o pai.


E durante sua jornada, Hushpuppy cresce, amadurece, aprende sobre a vida, e conhece o mundo em que vive, inclusive além de Bathtub. O mundo aumenta, e deixa de ser apenas uma ilha. Com o conhecimento, vem a perda — ou melhor, dominação — do medo. Enquanto Wink não consegue dominá-lo, Hushpuppy consegue, dando um grande passo para fazer história, como ela mesma tanto queria.

Beasts Of The Southern Wild
EUA, 2012 - 93 min.  
Drama
Direção: Benh Zeitlin

Roteiro: Benh Zeitlin, Lucy Alibar  
Elenco: Quvenzhané Wallis, Dwight Henry, Levy Easterly, Gina Montanam Lowel Landes
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor diretor, Melhor atriz, Melhor roteiro adaptado

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Saldo Cinematográfico de 2012 (e melhores filmes)

O ano de 2012 foi um ano bastante bom para mim, inclusive na área cinematográfica, na qual vou focar. Me comprometi a ver, ou pelo menos tentar ver, um filme por dia. E quase consegui. Se em alguns dias não consegui ver nenhum, em outros cheguei a ver dois ou até três. A média foi quase mantida.
Fiz o incrível curso de Teoria, Linguagem e Crítica Cinematográfica, do crítico Pablo Villaça, que me ajudou a abrir um pouco mais olhos para o que vejo no Cinema. Aprendi muito.

No blog foram 14 críticas (número pequeno, tentarei aumentar em 2013) e mais alguns comentários sobre outros filmes.
Ano passado, também, pela primeira vez, comecei a registrar todos os filmes que eu vi. Seja pela primeira vez ou revistos. Ao total, foram 355 filmes vistos (223 pela 1ª vez +132 revistos).

Embora não tenha sido um ano com filmes nota 10 (que dou apenas para filmes que eu considere que chegaram, pelo menos, próximos da perfeição), foi um ano com bons filmes. A seguir vou fazer uma lista de filmes VISTOS em 2012 que dei as maiores notas. Não é uma lista definitiva com os melhores do ano, já que ainda têm muitos filmes para ver, mas alguns desses certamente entrariam (ou entrarão, se eu vier a fazer tal lista) na lista dos melhores.

Separei 10 filmes de 2012 e 3 filmes de 2011, lançados aqui no Brasil em 2012.
Shall we?

Os Vingadores - 9

Que os cinéfilos mais intelectuais me perdoem mas, sim, a lista é encabeçada por dois filmes baseados em HQ.
"Os Vingadores" é um dos melhores filmes de super herói que já vi, e um blockbuster como deve ser. Muita ação, diálogos interessantes, momentos engraçados... A trama pode deixar um pouco a desejar, mas nem tudo é perfeito. O desenvolvimento dos heróis, como grupo, foi bem trabalhado. No início eles mal conseguem se aguentar, mas o roteiro e a direção de Joss Whedon faz essa aproximação e aceitação não se tornar tão forçada. Não é um filme que te faz sair do cinema refletindo sobre o sentido da vida, mas te faz sair alegre e muito animado com o que acabou de ver.

O Cavaleiro das Trevas Ressurge - 9

Diferente de "Os Vingadores", o último filme da trilogia do Batman feita por Chistopher Nolan é bem mais denso e sério. Apesar de alguns problemas e soluções preguiçosas no roteiro, o filme fecha muito bem a trilogia, fazendo o Cavaleiro de Gotham renascer para enfrentar Bane, um vilão que mostra que uma idealogia distorcida pode ser ainda mais perigosa que a "simples" loucura e psicopatia de Coringa.
Crítica completa aqui: http://www.isduarte.blogspot.com.br/2012/08/batman-o-cavaleiro-das-trevas-ressurge.html

Paradise Lost 3: Purgatory - 9

Terceira, e última, parte de uma série de documentários sobre três adolescentes que foram condenados pelos assassinatos de 3 meninos no Arkansas, EUA. Recentemente, quase 20 anos depois, a inocência deles foi provada. Os primeiros dois documentários da série de certa forma ajudaram para que isso acontecesse, pois, ao questionar se eles eram os verdadeiros assassinos, movimentos se criaram para que o caso fosse investigado mais a fundo. O documentário é emocionante e mostra como a justiça pode não ser tão justa assim.

As Aventuras de Pi - 8,5

Ang Lee usa as religiões (não tomando partido de nenhuma específica) e a luta pela sobrevivência como ponte para o seu belo ensaio sobre a fé e o auto-conhecimento. A jornada de Piscine Patel é retratada com um espetáculo visual que agrada os olhos. Você pode até não gostar do filme, mas com certeza ele vai te fazer pensar antes de decidir se gostou ou não. E a beleza do cinema é essa. Te fazer refletir sobre o filme, e trazer essa reflexão para a vida real.

A Invenção de Hugo Cabret (lançado aqui em 2012) – 8,5

Martin Scorsese larga as suas histórias densas de sangue e mistério para fazer um filme sensível sobre o cinema e o nosso lugar no mundo, essa grande "máquina", como o personagem de Asa Butterfield diz.
Crítica completa aqui: http://www.isduarte.blogspot.com.br/2012/02/invencao-de-hugo-cabret-oscar-2012.html

— Daqui em diante todos com nota 8:

O Artista (lançado aqui em 2012)

O ganhador do Oscar de 2012 teve sucesso ao nadar contra a corrente da indústria cinematográfica atual. O filme, além de ser em preto e branco, é mudo, o que afastou muita gente que não tem paciência de ver um filme assim hoje em dia.
"O Artista" conta a história de George Valentin (Jean Dujardin, que ganhou o Oscar de Melhor Ator), um ator do cinema mudo que não consegue acompanhar a evolução do cinema, com a adição do som, e vê sua carreira afundar. Uma das belezas do filme é, por ser mudo, contar detalhes da trama através de metalinguagem, como o letreiro escrito "Lonely Star", apontando o estado de espírito de Valentin em um momento em que ele se sentia sozinho e ultrapassado.
Crítica completa aqui: http://www.isduarte.blogspot.com.br/2012/02/o-artista-oscar-2012.html

O Segredo da Cabana

Joss Whedon aparece aqui novamente, dessa vez roteirizando e produzindo. Com uma história que você vai pensar que já viu em muitos filmes, e uma dose colossal de referências, "O Segredo da Cabana" homenageia ao mesmo tempo em que reinventa os filmes de terror. Feito mais pra rir do que para assustar, o roteiro acerta ao abusar do humor negro, impedindo que o filme fique muito sério e pretensioso.
Crítica completa aqui: http://www.isduarte.blogspot.com.br/2012/10/o-segredo-da-cabana.html 

The Raid: Redemption

Se você nunca viu um filme indonésio, é bom começar por esse, que é o melhor filme de ação de 2012. O filme aqui no Brasil foi lançado diretamente em vídeo, com o nome não lá muito chamativo "Operação Invasão".
Na trama, uma tropa de policiais de elite precisa invadir um enorme complexo dominado por bandidos. Claro que as coisas não dão certo, o caos se instala e os policiais têm que lutar para sair de lá vivos. O filme, ao contrário dos americanos, não tem só tiroteio. As cenas de luta são excepcionais.
Se eu não tivesse visto esse filme, talvez eu tivesse gostado mais de "Dredd", que é bom, mas parece uma versão futurista de "The Raid: Redemption".

Anjos da Lei

Se "The Raid" foi o melhor filme de ação que vi no ano, "Anjos da Lei" provavelmente foi a melhor comédia. É um filme que eu não dava a mínima. Jonah Hill e Channing Tatum são dois atores que eu não simpatizo, e a premissa parecia boba. Mas é um dos filmes mais divertidos que vi recentemente. Até hoje me pego lembrando da cena do caminhão explodindo e me seguro para não começar a rir do nada.
E ainda tem uma ponta ótima do Johnny Depp!

A Separação (lançado aqui em 2012)

Vencedor do Oscar de Filme Estrangeiro, "A Separação" mostra um Irã que o Ocidente não conhece muito. Um país moderno, em que o casal principal mora bem, tem boa situação financeira e não é fundamentalista. Bem diferente da imagem que a maioria das pessoas tem não só do Irã, mas dos países islâmicos em geral.
A trama acompanha um casal que está em processo de divórcio. Enquanto Simin quer se mudar para outro país, para que sua filha tenha uma melhor educação e mais oportunidades, Termeh quer ficar no País, para cuidar de seu pai que tem Alzheimer. Porém o melhor do filme é não focar na separação em si, e sim nos eventos que ela provoca.
Mesmo a história se passando num curto período de tempo, os personagens são bem desenvolvidos. Sabemos o suficiente de cada um. E nenhum deles é perfeito. Todos têm seus defeitos, tomam atitutes duvidosas, ninguém fala a verdade "completa". Mas, ao mesmo tempo, nenhum deles é mau.
Recentemente vi "Procurando Elly", filme anterior do diretor de "A Separação. Outro filme igualmente ótimo, se não melhor.

Moonrise Kingdom

Não costumo fazer isso, mas fui ver "Moonrise Kingdom" praticamente sem saber nada sobre o filme.
Pra começar, gostei muito da forma como foi gravado. Logo nos primeiros minutos pensei: "Bom, se o filme for ruim, pelo menos é estiloso". As posições e os movimentos da câmera (a fotografia em geral), a edição, o amarelo não apenas presente nos figurinos e nos cenários, mas na própria paleta de cores do filme. Tudo muito agradável aos olhos.
Mas o filme não se resume ao seu bonito visual. A história é bem legal, tem um senso de humor sensível e peculiar (a piada nem sempre está nos diálogos) e tem uma bela trilha sonora. Sem falar no elenco, que é espetacular.
Tanto Kara Hayward como Jared Gilman fazem sua estreia no cinema, e muito bem. Eles passam uma pureza, uma leveza, que, combinada com o humor, são cativantes.

Skyfall

A saga de James Bond volta a ter um filme que faz juz à sua grandeza. Em "007 - Operação Skyfall", Sam Mendes resgata o bom cinema que ficou meio esquecido em "Quantum Of Solace" e faz talvez o filme mais pessoal do Agente Secreto. O filme traz um vilão marcante (Javier Bardem), "novos velhos" personagens, referências a filmes anteriores e uma boa dose de ação, claro.
Crítica completa aqui: http://www.isduarte.blogspot.com.br/2012/11/skyfall-e-nova-saga-do-007-ate-aqui.html

Excision

Fechando a lista, um filme que quase ninguém deve ter ouvido falar, e quem viu pode não ter gostado. "Excision" é sobre Pauline, uma garota perturbada que tem uma mãe controladora, um pai controlado pela mãe e uma irmã que tem uma doença que precisa de um transplante de pulmão.
Pauline, interpretada increvelmente por AnnaLynne McCord, é uma freak. Não tem amigos, tem dificuldade em lidar com as pessoas, não liga para a forma como que se veste, fala coisas chocantes etc. Porém, ela não é uma coitada. Ela provoca, e parece ter orgulho de ser A diferente. Além disso tudo, ela constantemente tem delírios e sonhos doentios, regados a sangue, morte, sexo e, às vezes, tudo junto. E o interessante é que ela só aparece maquiada e produzida durante esses sonhos/delírios. É como se o mundo real não importasse. Ela só acha prazer nas fantasias sanguinolentas.
Apesar de Pauline não acreditar em Deus, ela conversa com Ele em vários momentos do filme. São "orações" cheias de ironia que acabam servindo para mostrar, verbalmente, o que ela sente, já que ela tem dificuldade de expressar seus sentimentos, e até mesmo de sentir.
As participações especiais do filme são um espetáculo à parte. John Water, interpreta um padre-psicólogo que tem a infeliz tarefa de atender Pauline, enquanto Malcolm McDowell é o professor de matemática dela.
O final pode ser um pouco anti climático e divergente com o que foi mostrado durante o filme (Pauline, apesar de suas alucinações, é bem racional), mas analisando em geral, é um ótimo filme.
Tecnicamente, "Excision" pode até não ser um dos melhores filmes do ano, mas com toda certeza é um dos mais interessantes...
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Outros filmes que merecem menção: Precisamos Falar Sobre Kevin (lançado em 2012), God Bless America, Os Infratores, Protegendo o Inimigo, Poder Sem Limites, 50% (lançado em vídeo em 2012), A Mulher de Preto, O Abrigo, Game Change, O Ditador, Frankenweenie, Os Mercenários 2.

Melhores filmes que vi em 2012, independente do ano: Era Uma Vez no Oeste (provavelmente o melhor filme que vi no ano), Um Corpo Que Cai, Janela Indiscreta , Psicose (1960), De Volta Para o Futuro, O Enigma de Outro Mundo (1982), A Sentinela dos Malditos, Além da Linha Vermelha, A Outra História Americana, Star Wars IV: Uma Nova Esperança, Dawn Of The Dead (1978), O Sétimo Selo, A Lista de Schindler, 13º Andar, Conspiração Americana, O Estranho Sem Nome, Confiar, Glória Feita de Sangue, Procurando Elly, Memórias de Um Assassino, No Calor da Noite, Noroi.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

[Esse é Clássico!] Janela Indiscreta

★★★★☆
Ótimo

Um fotógrafo preso a uma cadeira de rodas por ter quebrado a perna durante o trabalho se distrai observando a vida de seus vizinhos. Mas tudo muda quando ele começa a suspeitar que um de seus vizinhos pode ter cometido um assassinato.

Assim como muitos diretores, Alfred Hitchcock, conhecido como "o mestre do suspense", costumava ter seus atores e atrizes preferidos, com os quais fazia vários filmes. James Stewart era um deles e, com quatro filmes, eles fizeram uma das dobradinhas mais conhecidas no cinema. Depois de ser coadjuvante em "Festim Diabólico" (Rope), em "Janela Indiscreta" Stewart protagoniza pela primeira vez um filme de Hitchcock, que tem roteiro de John Michael Hayes.

Uma das coisas que mais chama atenção no filme, é o enorme set que Hitchcock mandou construir no estúdio da Paramount. Todos os apartamentos daquele bairro tinham eletricidade e água corrente — tanto que atriz que interpreta a Srta. Torso (Georgine Darcy) "morou" no apartamento de sua personagem durante o período de filmagem, descansando durante as tomadas. Pedido megalomaníaco de Hitchcock ou não, o fato é que, na época, foi o maior set criado dentro do estúdio.


O filme começa com um "passeio" pela vizinhança, situando o espectador e apresentando o local onde a trama irá se realizar. Num dos apartamentos vive L.B. "Jeff" Jefferies, um fotógrafo que quebrou a perna num trabalho e é obrigado a ficar de molho em casa, se locomovendo apenas com o uso de uma cadeira de rodas.
A direção faz questão de mostrar que na situação de Jeff até pequenas coisas, como conseguir coçar a perna engessada, são satisfações altamente estimadas pelo personagem, e conseguidas com muito esforço. Nada é fácil naquela situação e, sem muito o que fazer, ele passa o dia espiando a vida de seus vizinhos, como se a janela fosse sua TV e cada apartamento um canal diferente — e todos, diga-se de passagem, passando programações bem chatas. Stella, a enfermeira que cuida de Jeff (e um bom escape cômico no filme), o aconselha a parar com esse hábito recém adquirido já que ele pode até ser preso e "não há janelas na prisão", ela diz. Só que ela não percebe que ele, imóvel naquele apartamento, já está na prisão. Ficar confinado num apartamento é a pior coisa que poderia acontecer para alguém que vive viajando, nunca ficando num mesmo lugar por muito tempo.


Num dia as coisas começam a ficar um pouco mais interessantes em sua rotina, quando ele começa a suspeitar que um de seus vizinhos cometeu um assassinato. Mesmo com poucas — ou nenhuma — evidência, seu faro investigativo (aliado à vontade de que algo interessante aconteça em seu dia-a-dia entediante) o leva a investigar esse suposto crime. A partir daí ele deixa de ser apenas um "espectador" passivo.

Apesar do estilo de vida simples e itinerante, Jeff namora Lisa (a linda Grace Kelly), uma rica consultora de moda com quem não tem muito em comum. Ela quer se casar com Jeff, mas, por serem de mundos muito diferentes, ele não sabe se é isso que quer. As investidas de Lisa e as incertezas de Jeff culminam em uma bela sequência em que os dois discutem a relação e seu futuro juntos.
A princípio é uma sequência normal com plano e contraplano, mas é interessante notar que a direita do plano de Lisa tem algumas peças douradas que, junto com sua roupa chique e seu cordão de pérolas, remetem ao mundo de riqueza em que ela vive, enquanto no de Jeff, não há nada que chame atenção em sua volta, apenas escuridão atrás dele. A pouca luz que chega nele vem do grande abajur também ao lado de Lisa. Esses dois detalhes revelam muita coisa sobre o relacionamento deles:
1- Reforça a diferença entre eles. O mundo de Lisa é iluminado, dourado. O de Jeff é sem brilho, escuro; 2- mostra como Jeff se sente em relação a Lisa. Diante daquele mundo brilhante, ele não tem importância, luz própria. Ele se sente menor que Lisa. E isso piora pois ela tenta fazer com que ele mude o seu estilo de trabalho, para se adequar ao mundo dela, além de estar sempre querendo atrair publicidade para ele (ao ponto de plantar notas sobre Jeff nas suas colunas);  3- E, por final, isso também mostra o que eles sentem em relação ao seu futuro juntos. Desde o início sabemos que Jeff está hesitante em relação a um futuro casamento com Lisa, em contrapartida, ela não acha que a diferença entre o modo de vida deles possa significar o fim do relacionamento. Ela ainda está otimista quanto ao futuro deles. Mas, ao fim da discussão, quando ela percebe que o relacionamento realmente pode não ter futuro, é ela quem aparece num plano mais escuro, indo embora do apartamento de Jeff. Enquanto ele, que desde o início não está certo sobre ela, fica no plano mais claro — talvez por, naquele momento, ter sentido um certo alívio.
Uma sequência linda, com pequenos detalhes que revelam bem mais que os próprios diálogos, e que só poderia ter sido realizada por uma direção de arte sensível e competentíssima.


Mais tarde, Jeff e Lisa se encontram novamente e ele conta para ela sobre suas suspeitas, mas ela a princípio não acredita, assim como o seu amigo detetive Thomas Doyle (Wendell Corey). Jeff continua com sua investigação informal, por assim dizer, e, eventualmente, consegue fazer com que Lisa suspeite que algo realmente está errado, a trazendo para o seu lado, junto com Stella. Lisa, que até o momento era apenas uma ricaça alheia ao mundo, ao se tornar um tipo de parceira de Jeff, começa a entrar no mundo dele e experimentar a adrenalina de uma investigação. No momento em que ela se arrisca para conseguir provas, Jeff percebe que a subestimou e, quando ela volta, tendo êxito, vemos um certo orgulho, aceitação no olhar dele.
Essa mudança de Lisa é refletida até no seu modo de vestir. As roupas vão ficando menos "espalhafatosas", mais sóbrias a medida que o personagem começa a participar daquele mundo.

A fotografia, que insiste em passear, principalmente com panorâmicas, pelas janelas dos apartamentos — mas sempre a partir do ponto de vista do apartamento de Jeff nunca nos deixando esquecer onde estamos  — consegue fazer até o menos "bisbilhoteiro" dos espectadores se interessar pelos vizinhos de Jeff. Há um momento durante essas viagens que, só de a câmera passar por uma janela, você percebe que já sabe quem mora ali. A partir daí, você já está envolvido emocionalmente com essas pessoas, seja Srta. Lonelyhearts ou o casal que tem o curioso hábito de dormir na varanda de casa, por exemplo.


Usando a metáfora de alguém espiando seus vizinhos, Hitchcock faz uma crítica a sociedade americana, voyeurista, exibicionista e que cada vez mais ficava "imóvel" diante da tecnologia (como a própria televisão metafórica) e seus efeitos na vida diária. Essa crítica continua valendo — mais do que nunca. Se hoje temos programas, sites e revistas de fofoca é porque há procura. O ser humano sempre teve interesse pela vida alheia. A grama do vizinho sempre foi mais verde. E, se não bastasse isso, cada vez mais nós temos necessidade da exposição. A cada geração temos nos tornado a bailarina Miss Torso, que adora se exibir, dançando com pouquíssima roupa aos olhos de quem quiser ver. Se hoje temos o "stalking" na internet é porque as pessoas oferecem conteúdo para ser "stalkeado". O interesse pela vida alheia sempre existiu mas, com o passar dos anos, a necessidade de nos mostrar parece ter aumentado, principalmente com a internet e com as redes sociais disponíveis na palma da mão. Saímos e ficamos olhando para a tela de um celular, chegamos a um lugar e tiramos foto. Viramos reféns da tecnologia e do exibicionismo, exatamente como Hitchcock previu há quase 60 anos.

Por isso que Janela Indiscreta é um do pouco filmes que sobreviveram tão bem ao tempo. Não apenas por ser um ótimo suspense, mas por trazer questões que ainda valem ser discutidas hoje em dia.

Rear Window
EUA , 1954 - 112 min.  

Suspense
Direção: Alfred Hitchcock

Roteiro: John Michael Hayes
Elenco: James Stewart, Grace Kelly, Wendell Corey, Thelma Ritter, Raymond Burr, Judith Evelyn, Georgine Darcy