domingo, 29 de dezembro de 2013

[Curtas] Especial Woody Allen

Eu não sou um exímio conhecedor da vasta filmografia de Woody Allen. Se vi metade de suas 48 produções, é muito. Mas como admirador de sua arte, decidi fechar 2013 com um especial desse roteirista/diretor, que pode ser pequeno em altura, mas é grande em genialidade. Aqui no blog eu só havia escrito um texto sobre "Meia Noite Em Paris", que, misteriosamente, foi apagado. Escolhi 7 filmes para comentar. O critério da escolha não foi por ordem de preferência ou fase da carreira (apesar da maioria ser da década de 70). Como tenho visto vários dos seus filmes, escolhi os que vi recentemente e, portanto, tenho mais base para comentar.

Bananas (1971)

"Bananas" foi apenas o terceiro filme da carreira de Allen e percebe-se que, mesmo ainda mostrando um pouco de inexperiência, ele já era genial. O humor, bem mais cru que em seus filmes atuais, lembra bastante Monty Python em alguns momentos, e, apesar de não tanto como em "O Dorminhoco", ainda há referências a Charlie Chaplin (a máquina que permite fazer exercícios sem parar de trabalhar remete a "Tempos Modernos", e o seu encontro com Stallone no metrô, junto com a trilha sonora do momento, lembra as caretas que Chaplin fazia em situações controversas). Destaque também para a piada com a trilha sonora — na sequência no quarto do hotel —, que é, na verdade, diegética. E isso tudo ainda fazendo uma crítica política aos EUA, que já chegou a "patrocinar" ditaduras na América Latina (e até no Oriente Médio) naquele tempo.
Mesmo apelando para um humor pastelão demais em alguns momentos, "Bananas" consegue divertir bastante ao trazer momentos hilários e de um humor bem sagaz.


A Última Noite de Boris Grushenko (1975)


Mais um filme do diretor que parece transbordar criatividade. Me impressiona como ele acha cenários tão diferentes e bizarros para fazer suas reflexões, e como elas são acompanhadas de humor de primeira categoria. As piadas com as palavras, com o idiota do vilarejo, as suas experiências com a morte e os momentos de subjetividade mental (quando "entramos" na mente dos personagens, no caso, Boris e Sonja) são alguns pontos altos do filme.
Como em outros filmes, até há vezes que as piadas não funcionam, mas os grandes momentos nos fazem relevar essas partes.
Apesar de ter algumas coisas que me incomodam, "Love And Death" (no original) talvez tenha lugar no meu Top 5 do diretor.

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Meu preferido do Woody Allen até agora. Roteiro criativo e divertido, montagem perfeita, e boa atuação e direção do Allen. A Diana Keaton está demais e mereceu o Oscar.
O recurso da quebra da quarta parede, apesar de ser utilizado várias vezes, não cansa e é bem utilizado, pois funciona bem dentro do propósito do filme. Assim como a imaginação de Alvy o permite "conversar" com figuras do seu passado, ela também o permite conversar conosco.
"Annie Hall" (que recebeu um título bizarro no Brasil), é um filmaço, que não é só bem escrito, mas se utiliza muito bem da linguagem cinematográfica, se transformando num belo estudo sobre Cinema.

Manhattan (1979)


Ao mesmo tempo em que "Manhattan" é uma homenagem à Nova York (quando todos os personagens "abandonam" Isaac, ele ainda tem, e sempre terá, a cidade pela qual é apaixonado), o filme é um belo conto sobre a efemeridade do amor, dos relacionamentos e de nós, humanos. Não à toa Isaac e Yale discutem sobre toda a questão numa sala com vários esqueletos.
Um dos melhores filmes do Woody Allen, na minha opinião. Personagens interessantes, roteiro inteligente (como se isso fosse novidade), e uma ótima fotografia.


Rosa Púrpura do Cairo (1985)


Gosto muito de como o Woody Allen faz esse diálogo recorrente entre realidade e fantasia nos seus filmes — sendo a fantasia quase sempre mais interessante que a realidade. Apesar de eu não gostar tanto de "Meia Noite em Paris" (podem me chamar de insensível), curti bastante esse "A Rosa Púrpura do Cairo" e, ainda mais, "Desconstruindo Harry", por exemplo.
No geral, achei um bom filme, apesar de um pouco meloso e inocente demais em alguns momentos.

Desconstruindo Harry (1997)


Um dos filmes mais criativos e um dos melhores que vi até agora. Mais uma vez Woody Allen mistura realidade e ficção, mas dessa vez de uma forma bem mais eficiente e divertida que em "Rosa Púrpura do Cairo", por exemplo. É bem interessante a forma como o protagonista Harry pegava características de conhecidos para criar personagens.
E nesse filme vemos um Woody Allen mais "sujo", com um humor mais pesado. O sexo, por exemplo, sempre esteve presente em seus filmes, mas se você pegar obras mais recentes como "Vicky Cristina Barcelona", ou até "Match Point", nota que esse elemento é usado mais com um teor sensual do que sexual mesmo. Em "Desconstruindo" — como em outros filmes antigos de sua fase mais antiga —, Allen, aborda o tema sem frescura, não tão visualmente, mas na maioria dos diálogos, até porque o sexo faz bastante parte da vida do protagonista.
Gostei também da forma como o diretor brinca com elementos da linguagem cinematográfica, como o ator fora de foco (que funciona como metalinguagem), os vários cortes numa só sequência (que funcionam como pequenas elipses), etc.
Um grande filme.

Tudo Pode Dar Certo  (2009)


Um filme que já começa quebrando a 4ª parede (em "Annie Hall", o recurso é usado mais para frente) do jeito que o personagem de Larry David faz, ou será um filme descompromissadamente divertido ou vai acabar caindo na sua própria pretensão. Porém, vindo do Woody Allen, é mais provável que seja a primeira opção. E ele não decepciona.
O filme é cheio de diálogos geniais (principalmente por parte do Larry David, que interpreta uma versão do próprio Allen em filmes anteriores) e personagens que, a princípio, podem nem ser tão interessantes, mas que tomam rumos super inesperados, justificando a presença deles ali, e somam muito na história.
No elenco, Larry David e a sempre ótima Patricia Clarkson se destacam. Já Evan Rachel Wood não consegue convencer como "a menina sulista inocente". Até porque já faz um tempo que ela não tem cara de menina. Muito menos inocente. Achei que o personagem dela ficou muito caricato.
Depois de dois filmes mais sérios ("O Sonho de Cassandra" e "Vicky Cristina Barcelona"), Woody Allen volta para a Comédia, e para Nova York — quase como um retorno às suas origens. E ele volta inspirado. "Whatever Works" é um ótimo filme.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

[Curtas] É o Fim / VHS 2

É o Fim 

★★★★★
Excelente

Quem gosta de comédias escrachadas, que ignoram solenemente o politicamente correto vai adorar "This Is The End". É a melhor comédia do ano até agora e dificilmente será superada por outra. É aquele tipo de filme para ver com os amigos e dar muitas risadas.

A forma como os atores interpretam a si mesmos e zoam os estereótipos criados em torno deles e os seus próprios filmes é sensacional. Enquanto alguns, como James Franco, dão corda para eventuais rumores sobre sua sexualidade (os seus sentimentos por Seth Rogen caminham na linha da ambiguidade), outros vão completamente contra a imagem criada durante os anos. Michael Cera é o exemplo mais forte e tem, provavelmente, a melhor atuação de sua carreira. Ele está doidão, sem limites. Impagável!

O roteiro escrito pelo próprio Seth Rogen e Evan Goldberg não poupa ninguém e é bastante absurdo, mas no bom sentido — na trama, o apocalipse bíblico (pero no mucho) acontece enquanto vários artistas estão reunidos na casa de James Franco. É um filme non-sense que funciona muito bem. Fora que desde "Rebobine, Por Favor" não vemos a criação de um filme com tão poucos recursos. Explico: com o inferno solto na Terra, os atores se refugiam na casa de Franco. Eles, então, decidem fazer uma continuação de "Segurando As Pontas". O resultado é hilário. A referência a esse filme é apenas uma das muitas outras feitas durante os 107 minutos do longa.

O final é meio bobo, é verdade, mas não consegue comprometer a experiência e o resultado final, que é excelente.

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V/H/S/2

★★★★☆
Ótimo

Em 2012 foi lançado "V/H/S", uma antologia com 6 curtas (de 20 a 30 minutos) com histórias variadas de terror. O filme não é tão bom (a não ser se comparado com "The ABCs Of Death"), mas tem alguns bons momentos, como a primeira história, "Amateur Night".

Um ano depois saiu a continuação, "V/H/S/2", que é melhor que o original. Só o 3º segmento ("Safe Haven") já vale o filme. A tensão é construída com incrível destreza até culminar numa sequência de cenas bem sinistras e até perturbadoras. Essa parte é dirigida por Gareth Evans, que fez "Operação Invasão" ("The Raid"), um dos melhores filmes de ação dos últimos anos. Não à toa é a melhor! Mas mesmo assim, o segmento não é perfeito. Até vai um pouco longe demais, terminando de uma maneira um tanto... divertida, talvez? Mas, de qualquer modo, por todo seu desenvolvimento, é um dos melhores momentos do Terror de 2013, para mim.

Quanto aos outros segmentos, são legais. Alguns bons momentos, mas nada de sensacional também. "A Ride in the Park" (do zumbi) foi o que eu menos gostei. O "Phase I Clinical Trials" (do "olho biônico") e o "Slumber Party Alien Abduction" (da abdução) ficam no meio termo.
A trama "principal", que conecta os vários vídeos, parece estar lá apenas como desculpa para os curtas e é talvez o maior ponto fraco dos dois filmes. Por ser pouco explorada, falta informação e não dá para se envolver (ou entender) muito.

Recomendo "V/H/S/2" para quem gostou e até pra quem não gostou do primeiro.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Gravidade


★★★★★
Excelente


Alfonso Cuarón é um diretor que prima pela qualidade sobre a quantidade. Em quase 20 anos de carreira cinematográfica, ele tem apenas 6 longas em sua filmografia (e um segmento em "Paris, Eu Te Amo"), onde "E Sua Mãe Também", "Harry Potter E O Prisioneiro de Azkaban" e, principalmente, o seu último filme, "Filhos da Esperança", se destacam. Sete anos depois de "Filhos", o diretor mexicano reaparece com a que pode ser a obra prima de sua carreira.

"Gravity", no original, conta a história de Dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) e Matt Kowalsky (George Clooney), dois astronautas que, ao fazerem uma operação de rotina fora da nave, são surpreendidos por uma chuva de lixo espacial que destrói a nave e os deixa à deriva no espaço ligados apenas um ao outro por um cabo. Correndo contra o tempo, os dois terão que fazer de tudo para conseguir chegar à outra estação espacial e conseguir se salvar.

Eu nunca estive e, provavelmente, nunca irei ao Espaço, mas o que experimentei durante os 90 minutos de projeção de "Gravidade" deve ser a coisa mais próxima da experiência que é estar a centenas de quilômetros acima da Terra. O filme é de um primor técnico impressionante. A edição e mixagem de som, combinados com a fotografia de Emmanuel Lubezksi ("Árvore da Vida") imergem o espectador nesse "mundo" escuro e sem som. O design de produção recria o interior das naves e estações espaciais com detalhes impressionantes.


Esses elementos ainda são somados à câmera de Cuarón, que, num lugar onde é impossível a vida, parece viva ao passear pelo espaço, como numa bela dança, enquanto nos mostra a imensidão de um lugar tão hostil.
Em "Filhos da Esperança", já pudemos ver o apreço que o diretor tem por longos takes e planos-sequência, com dois planos de tirar o fôlego — um passado todo dentro de um carro e o outro seguindo o protagonista interpretado por Clive Owen em meio a uma revolta de rebeldes. Em seu novo trabalho, Cuarón mais uma vez cria com maestria planos que duram minutos, sejam apresentando os personagens, no início do filme, ou os seguindo em seus momentos de tensão.

É muito bonito, também, a forma como o diretor utiliza por várias vezes a câmera subjetiva, se aproximando do capacete do personagem, "entrando" pelo vidro e, enfim, assumindo o seu olhar. Outras vezes, querendo mostrar o que os personagens veem e suas reações, Cuarón usa um primeiríssimo plano, inteligentemente focando nos seus rostos e, pelo reflexo do vidro do capacete, exibindo o que acontece.


Essa subjetividade é importantíssima para nos fazer entrar na mente do personagem e sentir na pele o que ele passa. Porém, isso não teria efeito se não fosse o roteiro escrito pelo próprio Cuarón e seu filho, Jonas, a precisa montagem e as atuações maravilhosas de George Clooney e, principalmente, Sandra Bullock. Seis meses foi o tempo que sua personagem passou em treinamento para a missão no espaço e foi também o tempo que Bullock levou se preparando fisicamente para o papel, enquanto estudava cada detalhe do roteiro e de sua atuação junto com o diretor. O resultado é uma das melhores atuações do ano.

Dentro do limite de tempo, os dois personagens principais são bem desenvolvidos. Matt Kowaski é um astronauta prestes a se aposentar, boa pinta e bem humorado, que ajuda a aliviar a tensão em alguns momentos. Ryan Stone é uma médica em sua primeira missão espacial. Logo sabemos que ela recentemente sofreu uma tragédia pessoal e entendemos o motivo (ou um deles) que a levou a ir trabalhar no espaço. Apesar de continuar com seus deveres, depois do trauma ela para de viver. Esse elemento do seu passado a faz ficar a vontade com o silêncio oferecido pelo espaço.

[Desse ponto em diante, haverão spoilers sobre momentos-chave da trama do filme]


A partir desse momento, o verdadeiro significado do filme começa a se desenhar e podemos aos poucos perceber do que a história contada se trata. Já não estamos mais assistindo a um filme sobre uma astronauta em perigo, e sim, estamos testemunhando o renascer de uma pessoa. Isso é muito bem ilustrado com o belíssimo plano em que Stone, após conseguir entrar na estação russa e tirar seu equipamento, é enquadrada flutuando por alguns segundos em posição fetal enquanto descansa, remetendo a um bebê no útero.

Uma vez que o sentido principal é entendido, o filme deixa de ser apenas uma obra bonita, para se tornar algo intenso, uma experiência autêntica. Não há nada mais lindo do que o renascimento da vida numa pessoa — a vida como um sentimento, e não como um período de tempo. Interiormente, Ryan morre junto com sua filha. Não havendo mais pelo que viver, ainda na Terra, ela vivia o resto dos seus dias dirigindo, sem rumo, pois era assim que ela se sentia. Todavia, quando ela olha nos olhos da morte, várias vezes (sim, os obstáculos do filme parecem ser um pouco excessivos), ela descobre uma força que nunca imaginou ter. Se revela, então, um do maiores conceitos do filme: do ambiente mais estéril conhecido, nasce uma vida.


Mas Cuarón não para por aí. A última sequência, além de reafirmar a ideia do renascimento com Ryan "reaprendendo" a andar — no espaço, ela estava em gestação, como o plano já citado apresentou, enquanto seu nascimento se deu com sua chegada à Terra —, guarda um significado ainda mais profundo. Depois de quase se afogar, a personagem nada em direção a superfície, mas, alguns segundos antes disso, uma rã é vista também emergindo. A rã, que, como todos sabem, é o estado evoluído do girino após sofrer metamorfose, é inteligentemente posta nessa sequência em particular para indicar que Ryan evoluiu. Ela é um novo ser. E não só isso. Notem como a personagem, da água, vai lentamente se arrastando até a margem, até conseguir se levantar — como a vida terrestre teve início. A câmera ainda a enquadra de baixo para cima, a fazendo ficar maior e apontando sua mudança. Nesses segundos o diretor recria, ou melhor, personifica os milhões de anos de evolução na figura de Ryan Stone.

Por ser um filme quase todo passado no espaço e com muitas metáforas, comparações com o clássico "2001 - Uma Odisseia no Espaço" já foram feitas. Mas os dois diferem muito entre si. A obra de Stanley Kubrick se encaixa muito mais no gênero ficção científica que a de Cuarón, que pode ser classificado como um suspense dramático. Enquanto "2001" aborda a evolução numa maneira muito mais extensa (e ainda influenciada por terceiros), "Gravidade" é um filme muito mais pessoal, onde a evolução é intrínseca.


Com seu novo trabalho, Cuarón mostra que, para um filme ser genial, não precisa ter uma trama complicada. Mesmo quem não conseguir ler nas entrelinhas, poderá gostar do longa por sua simples história de superação da personagem de Sandra Bullock ante uma catástrofe e vários empecilhos. Algo muito diferente do próprio "2001", que é um filme tão comprometido com sua mitologia que não permite ao espectador que não entender a trama curtir o filme.

Há muito tempo eu não saía do cinema tão satisfeito. "Gravidade" vai muito mais além do "filme-catástrofe" — é um belo conto sobre renascimento e, mais que isso, evolução. Os méritos da obra vão muito além dos aspectos técnicos. A produção beira a perfeição, graças especialmente ao roteiro dos Cuarón e a atuação iluminada de Sandra Bullock. A metáfora do renascimento de Ryan Stone como uma pessoa evoluída é linda e muito bem apresentada. O filme, sem dúvida, já é um dos melhores do ano e será lembrado por muito tempo.

"It's time to stop driving. It's time to go home."

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

[Curtas] Invocação do Mal / Elysium / Guerra Mundial Z

Invocação do Mal

★★★★☆
Ótimo

Filme tenso do início ao fim. James Wan ("Sobrenatural", "Jogos Mortais") sabe criar o suspense como poucos diretores atuais. Quando ele cria o clima e o susto vem, você fica com raiva por ter tomado o susto. E quando ele cria o clima e o susto não vem, você fica com raiva porque queria ter tomado o susto. Ele te tem na mão o tempo todo. Sabe brincar com as expectativas dos espectadores e com os clichês do gênero, que, sim, tem em abundância.
Outra coisa que o diretor acertou foi não expor muito os espíritos, que raramente são vistos de corpo inteiro. Aliás, num momento em especial, não vemos NADA do espírito, que só é visto por uma personagem. E a sequência é aterrorizante. Essa sensação de não sabermos muito bem com o que estamos lidando, cria uma tensão maior ainda. Por sinal, um dos grandes defeitos de "Mama", outro filme de terror bem esperado esse ano, foi a super exposição do espírito.

Além disso tudo, o filme é esteticamente inteligente. Os movimentos de câmera e enquadramentos são bem legais e auxiliam na criação tanto das sequências mais leves (como a família conhecendo a casa nova), quanto das mais pesadas (as de assombração). As atuações também são ótimas, inclusive do elenco infantil.

Enfim, James Wan sabe o que faz. "Sobrenatural: Capítulo 2" vem aí. Que seja tão bom quanto o primeiro.

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Elysium


★★★☆☆
Bom

"Elysium" tem uma boa premissa, mas é prejudicado por alguns problemas sérios, como personagens unidimensionais e clichês, e o ritmo corrido, que não dá espaço para o desenvolvimento dos próprios personagens e de certos pontos da trama.

Mas, no geral, até que gostei do filme, mesmo com suas perceptíveis falhas.
E se Neill Blomkamp usa "Distrito 9" (que acho bom, mas não isso tudo que falam) como uma alegoria para discutir o Apartheid, "Elysium" pode ser interpretado como uma metáfora da situação da fronteira entre México e Estados Unidos.
Se Blomkamp tivesse trabalhado um pouco mais no roteiro, "Elysium" poderia ter sido um filmaço. Mas com suas falhas, ele consegue fazer "apenas" um bom filme.

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Guerra Mundial Z


★★★☆☆
Bom

Desde que vi o trailer pensei que eu não ia gostar do filme. Sou fã dos zumbis lentos e maquiados de George Romero, que realmente parecem mortos vivos. Pelo trailer já tinha dado pra perceber que os zumbis de “World War Z” pareciam super humanos, com incrível velocidade, capazes de dar longos pulos e, ainda por cima, criados por computação gráfica, os fazendo artificiais. Mas devo dizer que me surpreendi com o filme.

Essas questões realmente me incomodaram (os efeitos digitais são fracos para uma produção desse tamanho, e não só os zumbis são notadamente artificiais, mas outras coisas, como helicópteros e até pessoas “normais”), mas o filme tem vários pontos fortes que me fizeram relevar tais problemas. Um deles é a narrativa, que é legal por ser quase dividida em fases ou missões, parecendo um jogo. Mesmo assim, essas “fases” são bem amarradas, dando um ritmo fluido ao filme. O roteiro, que passou por 6 mãos até parar nas de Damon Lindelof (Prometheus, Star Trek) e Drew Goddard (O Segredo da Cabana), que tiveram que reescrever todo o terceiro ato, é bem eficiente e ainda apresenta uma solução original para, se não a cura da pandemia zumbi, que a humanidade ainda tenha uma chance. Fora outros elementos que foram adicionados por eles, como a asma de uma das filhas de Gerry (Brad Pitt), que poderia ser usada apenas como fator dramático ou de suspense em alguma cena, mas é inteligentemente usada para desenvolver a figura paterna de Gerry, que ajuda a filha
a superar uma crise da doença.

Por fim, Guerra Mundial Z não é um “filme de zumbi”, expressão que já virou praticamente um sub gênero. Não é uma produção em que um grupo de sobreviventes passa o tempo todo fugindo e se escondendo dos zumbis. Mas sim um suspense de investigação da origem de uma epidemia. Para ilustrar melhor, é uma mistura de “Contágio” com “Extermínio 2″. Há uma praga que transforma pessoas em mortos vivos, e a cura precisa ser encontrada antes que tudo seja perdido. Portanto, os zumbis movem a história, mas não são a história.
Mesmo com seus problemas, é um filme que funciona.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

[Fora de Série] Arrow - 1ª Temporada



Quando soube que iam fazer uma série do Arqueiro Verde, não levei fé nenhuma. Eu "previ" que seria cancelada logo na primeira temporada. Mas também, a única referência do Arqueiro que eu tinha na TV era em "Smallville", que era também a minha única referência de série de super herói. Se a pegada do Arqueiro e de "Arrow" fosse a mesma de Smallville, acho que não teria feito sucesso mesmo.

Mas eles inovaram. "Arrow" não tem o clima juvenil de "Smallville". É uma série mais densa e madura. Inclusive, dá pra perceber muito da trilogia do Batman, de Christopher Nolan, na série — dada as suas devidas proporções, é claro. A própria Starling City, que lembra muito Gotham, o realismo das cenas de ação (com lutas bem coreografadas), o senso de justiça que move personagem, o Arqueiro mudar sua voz, e até quando ele diz que o verdadeiro motivo de esconder seu rosto é para proteger as pessoas que ele ama.

Ainda tem duas outras coisas que gostei na série. Uma é o Arqueiro — ou "Capuz", como ele é chamado — não ser aquele herói 100% bonzinho, que praticamente prefere morrer do que matar alguém. Se tiver que matar bandidos, ele mata mesmo. Isso mostra como "Arrow" não é uma série inocente (assim como o mundo em que ele vive), onde valores podem ser facilmente separados por uma linha.
E a outra coisa é a forma narrativa escolhida para a série. Além do que acontece no presente, temos uma trama que nos conta por meio de flashbacks (que muitas vezes dialogam com o os acontecimentos do presente) o que aconteceu na ilha em que Oliver Queen ficou por 5 anos. É um excelente trabalho de roteiro e montagem. Acho até a trama da ilha mais interessante que a de Starling City. Por isso eu fiquei feliz por não terem terminado essa parte da história no season finale, que foi um dos melhores episódios de séries que assisti no ano — pareceu a própria versão do Cavaleiro das Trevas do Arqueiro Verde, pelo clima épico, com a cidade em perigo real, o embate final entre o herói e o vilão, e sacrifícios sendo feitos.


Vale destacar a atuação do Stephen Amell, que é muito reveladora, apesar de contida na maioria das vezes. Percebe-se a diferença no trabalho de voz e nos maneirismos do ator interpretando o Oliver de antes e de depois da Ilha. Pois realmente são dois personagens completamente diferentes. Um mauricinho e mimado, o outro sofrido e maduro, pelo peso do que ele viveu na Ilha e da responsabilidade atual.

A série tem outros personagens bem desenvolvidos, porém é nesse quesito que habita um dos principais problemas da produção, pois todos os clichês possíveis estão ali. Os personagens, como indivíduos, não são caricatos e tem, sim, uma certa complexidade, inclusive moral. Mas quando os observamos um pouco de longe, como "grupo", podemos perceber a formação de um padrão já utilizado incontáveis vezes em filmes e séries de heróis. Laurel (Katie Cassidy, "Gossip Girl") representa a paixão que o herói precisa abrir mão por causa de seu alter ego vigilante, Tommy (Colin Donnel) é o melhor amigo do herói que durante sua ausência, começa a ter um relacionamento com a ex-namorada do protagonista, John Diggle (David Ramsey, "Dexter") é o side kick que é a consciência de Oliver, o ajudando a se manter na linha, e Felicity Smoak (Emily Bett Rickards) é a hacker engraçadinha e atrapalhada, que costuma servir de escape cômico ("It feels really good having you inside me. And by 'you', I mean your voice. And by 'me', I mean my ear.").
Outros personagens importantes são Thea (Willa Holland, "The OC") e Moira Queen (Susanna Thompsom), irmã e mãe de Oliver, respectivamente, Walter Steele (Colin Salmon, de "Resident Evil), Tommy Merlin (John Barrowman) e o detetive Quentin Lance (Paul Blackthorne), pai de Laurel, que caça e eventualmente ajudar o Arqueiro ao longo da temporada.


Quando se coloca os prós e contras em comparação, todavia, esse tipo de problema não chega a ser tão incômodo, até porque nesse meio de produções baseadas em HQ, originalidade não é algo frequente de se ver. E "Arrow" não veio para inovar nesse quesito, e sim no sentido de trazer para a TV o que tem dado muito certo no Cinema: fazer com que o herói e o universo em que vive seja crível. Oliver Queen pode ser um mestre do arco e das artes marciais, mas ele apanha e sangra como qualquer ser humano. Outros personagens conhecidos da DC, como a Huntress (Jessica De Gouw) e o Deathstroke (Manu Bennett, de "Spartacus"), também aparecem, mas nunca como seres invencíveis, com habilidades sobre humanas. A série é toda construída levando em conta a verossimilhança.


Por todas essas qualidades, "Arrow" me surpreendeu, e muito. É uma excelente série que não subestima o espectador e merece ser vista não apenas por quem gosta de heróis. O roteiro mescla bem ação, drama, suspense e comédia, conseguindo agradar a todos os públicos.

A 2ª temporada começa dia 8 de outubro lá fora, e no trailer divulgado, Oliver não quer mais ser chamado de Capuz, e Canário Negro aparece. E o vídeo ainda dá a entender que o Capuz vai ficar um tempo sem aparecer (provavelmente pela perda sofrida no final da 1ª temporada). Provavelmente não será uma ausência de 8 anos, mas não deixa de ser mais uma semelhança com o Batman de Nolan.



terça-feira, 17 de setembro de 2013

[Curtas] Sombras da Noite / Em Transe

Sombras da Noite

★★☆☆☆
Razoável

O problema maior de "Sombras da Noite" é o terceiro ato. Os dois primeiros têm seus problemas, mas até são divertidos. O clímax é bem fraco, e a cena final, dispensável. O mais legal mesmo do filme é a adaptação do vampiro Barnabas (Johnny Depp) aos novos tempos e a exploração de seu lado estranho, como ele dormir em lugares bizarros e até aquela cena em que ele fica encarando que nem um gato aquela luminária do quarto da Carolyn (Chloe Grace Moretz) que ele pensava conter sangue.
No geral, o elenco é bom e gostei bastante do Depp. É mais um personagem excêntrico que ele tem sucesso em compor. E as boas falas de Barnabás ajudam na criação dessa figura interessante, para dizer o mínimo.

Se fosse um filme mais centrado na família e que não tivesse a obrigação de ter cenas de ação, "Sombras da Noite" poderia ter dado mais certo, pois elas acabam sendo o maior ponto fraco do filme, por 1- não serem empolgantes; 2- terem revelações que acabam soando ridículas [selecionar o texto a seguir para ler o spoiler] (Carolyn ser lobisomem); 3- e pela própria conclusão com um deus ex machina (o fantasma aparece do nada e vencer a bruxa? Sério???)

Mas, apesar de tudo isso, ainda acho o filme melhor que "Alice". Tim Burton anda vacilando ultimamente, com uma filmografia irregular. Espero que ele se reencontre.
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Em Transe

★★☆☆☆
Razoável

"Trance" é tecnicamente muito bonito e tem uma estética visual inteligente (apesar de abusar de certas marcas, como planos inclinados), mas narrativamente decepciona com uma trama pretensiosa, feita para enganar, ou melhor, confundir o espectador.

Um filme, mesmo complexo, precisa dar ao espectador pistas para que ele possa desvendar a história. "Em Transe" não faz isso (pode até fazer em alguns momentos de transe, mas não para a descoberta dos pontos chave da história) pois, não bastasse o grande emaranhado de real e imaginário que o filme faz, o que é revelado ao final (com dois plot twists) é extremamente difícil que seja descoberto por alguém.

É um roteiro com um grande ego que, se orgulhando de ser TÃO inteligente, em vez de nos levar para dentro do filme, nos faz apenas de espectadores passivos, esperando uma explicação. Até porque, já que sugestão hipnótica é tão fácil, TUDO que estávamos vendo podia não ser real.
Porém, mesmo com esses problemas, o filme tem muitas qualidades, como a já citada estética, a fotografia e o elenco, que está muito bem (principalmente o trio principal formado por James McAvoy, Rosario Dawson e Vincent Cassel).

Para um filme que fala tanto em identidade, acho que faltou um pouco disso em Em Transe. É um filme que não tem alma. Por ter muitas qualidades, não chega a ser ruim, mas confesso que Danny Boyle dessa vez me desapontou.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

[Fora de Série] Sons Of Anarchy - 5ª temporada



Quem me acompanha no Twitter ou no Facebook, sabe que "Sons Of Anarchy" é a minha série preferida. Não ouso dizer que é a melhor, claro. Reconheço que em matéria de linguagem audiovisual, por exemplo, "Breaking Bad" é superior. Mas o que me cativa e o que faz a criação de Kurt Sutter ("The Shield") dar tão certo é a qualidade do roteiro, que além de ser muito regular, inclui personagens muito bem escritos e desenvolvidos. O texto de Sutter e o seu elenco muito bem escolhido, consegue criar uma relação de cumplicidade entre personagem e espectador quase tão forte quanto o laço de irmandade (cada vez mais frágil) do clube de motociclistas. Mesmo não concordando com muitas de suas ações, amamos aqueles personagens pois, antes de criminosos, eles são humanos, amigos, família.

Prestes a estrear a sexta temporada lá fora (dia 10/09 lá fora, aqui sem previsões), decidi fazer um apanhado do excelente quinto ano, um ano de muitas mudanças na SAMCRO e na personalidade do protagonista Jax Teller (Charlie Hunnam, de "Círculo de Fogo"), que segue o seu rumo — sem volta? — à escuridão.

Nem preciso citar que haverá spoilers à frente, certo?

Jax se firmou como líder do Clube (no verdadeiro sentido da palavra, não só como título), mesmo que isso esteja custando sua "humanidade". A mudança que o personagem sofreu no decorrer da série, principalmente nas duas últimas temporadas, chega a assustar. Ele faz o que tem que ser feito (pelo menos em seu julgamento) e o mundo que se dane. E o pior é que ele, gradativamente, tem se deixado mover pelos sentimentos, principalmente de vingança — por Clay e pelos responsáveis pela morte de Opie (ao ponto de jogar fora anos de relacionamento com os Grim Bastards para matar o cara).


Agora, além de redimir o clube, ele precisa redimir a si mesmo. A perda de controle de Jax vem sido demonstrada pela atuação cada vez mais carregada de Charlie Hunnam. O personagem, que antes se impunha e se destacava por sua clareza de pensamento e soluções criativas para problemas aparentemente sem soluções, ou ao menos sem soluções não violentas — essa segunda característica ainda permanece —, agora, sempre sem paciência, o faz levantando a voz, tentando ganhar discussões no grito.
Por um tempo até cheguei a pensar que Hunnam estava erraticamente se excedendo em suas atuações, já que em várias vezes na série ele conseguiu se impor ou expressar sua raiva, por exemplo, sem precisa gritar (só com um gesto, olhar, entonação de voz, etc). Entretanto, me convenci que ele usa tal recurso para reforçar a mudança de personalidade de Jax, e como ele ficou arrogante e "selvagem" depois de assumir o martelo ("Opie was right. The gavel corrupts. You can't sit in this chair without being a savage").

Mesmo com sua crescente altivez, continua sendo notável a habilidade de Jax de fazer situações que parecem sem saída se virarem ao seu favor. O próprio Damon Pope (Harold Perrineau, de "Lost") reconheceu essa habilidade: "Finding the hidden advantage in an unfortunate circumstance. Using pain to take it to the next level. Those are the things that turn players into kings." Usar a arma de Clay para matar Pope (eu gostava dele, descanse em paz) foi um jogada de gênio. Matou 2 coelhos com uma cajadada só.


Para ser sincero, eu achava que Clay (Ron Perlman) morreria no final da temporada e, até alguns episódios antes, que ele faria o papel de vilão até o seu fim. Essa questão talvez tenha sido a única decisão errada de Sutter na temporada. Fazer o vilão se arrepender de tudo que fez e tentar se redimir é um recurso batido para criar empatia com o público durante a fase final do personagem, e dificultar a decisão do (anti) herói sobre qual será o destino — que, no caso de SoA, não há meio termo para um personagem que vacilou tanto: ou te deixam viver, ou te matam (não acredito que Clay ficará preso por muito tempo).

Porém, a série não chega a perder pontos por causa disso. Desde o início eu gostava do Clay, apesar de seu lado desumano, e confesso que foi bom vê-lo se arrepender. Agora ele que está sofrendo. Deu pra sentir a dor dele ao ser traído por Gemma e Juice (Katey Sagal e Theo Rossi, respectivamente). Falando no Juice, ele foi um dos personagens mais importantes da quarta temporada, mas nesse ano se resumiu a capacho do Clay. Ele sempre foi um dos mais queridos pelo público, até por ter um lado ingênuo, mas a facilidade com que é manipulado já está incomodando. Duas temporadas, direto. Fora que a culpa por suas ações continua crescendo. Será que ele tentará cometer suicídio novamente? Tentando ou não, algo me diz que ele não sobreviverá à sexta temporada.


A relação de Gemma e Tara, é outra coisa que se deteriorou na série. Particularmente, eu gostava mais quando as duas eram amigas (2ª e 3ª temporada). No início da série elas se odiavam, depois aprenderam a gostar uma da outra e criaram uma bonita amizade, agora voltaram a ser antagonistas, e para sempre, pelo jeito.
Uma das coisas mais legais desse ano foi a entrada de Jimmy Smits pro elenco. Simpático e com boas tiradas, o seu personagem, Nero Padilla, ganhou o público logo em sua primeira aparição. Belíssimo trabalho de Smits. E, ainda no território de relacionamentos, a amizade/parceria criada entre Nero e Jax foi muito importante para os dois personagens. Reformado de sua vida no crime, Nero funcionava como um conselheiro de Jax. Todavia, não só não conseguiu colocá-lo no caminho certo, como acabou voltando para o mundo criminoso.

Muitas cenas fortes marcaram a quinta temporada. A morte de Opie (Ryan Hurst) foi um dos momentos mais emocionantes de toda a série. Vendo em retrospectiva sua jornada, porém, o seu destino não poderia ser menos dramático. Desde a primeira temporada Opie foi retratado como um personagem infeliz e em conflito, que precisava escolher entre a família e o clube. Acabou acusado de trair o clube, perdeu a esposa, mais tarde se casou de novo (com Lyla), não deu certo e ainda perdeu o pai, Pyne, assassinado por Clay na quarta temporada.
A última temporada ainda teve dois outros momentos de impacto. A filha de Tig (Kim Coates) sendo queimada viva por Pope, logo no primeiro episódio, e a sequência em que Otto (interpretado pelo próprio Kurt Sutter), outro personagem que há anos sofre pelo clube, assassina uma enfermeira da prisão com um crucifixo, mais uma vez provando sua lealdade aos seus irmãos (depois de quase os trair), mas, por outro lado, complicando a vida de Tara, que tinha levado o crucifixo a ele ("Sons live, Redwood bleeds.").


A temporada termina com Tara sendo presa e Gemma, aparentemente, voltando a ser a figura materna (que sempre teve um grande valor na série) na vida de Jax. A última cena do season finale, por sinal, foi muito bem pensada. Gemma em pé abraçando Jax, sentado, contrasta com a última imagem da quarta temporada, quando era Tara que o abraçava. E, na minha opinião, a quarta temporada deveria ter terminado assim. Não tinha necessidade alguma da foto antiga de John Teller e Gemma surgir na tela "explicando" a referência ao espectador. Lembro que na hora até senti minha inteligência sendo subestimada. Mas esse é um daqueles comuns tropeços que não comprometem o resultado final.

[Foto da Gemma com Jax]


No início do texto comentei sobre a regularidade da série. E é impressionante como "Sons Of Anarchy" não tem uma temporada ruim. Ainda mais, não tem um episódio ruim. Mesmo na terceira temporada, que considero a "menos boa", não consigo lembrar de um episódio fraco. Todos desenvolvem bem a história, os personagens, tem boas cenas, te fazem querer ver logo o seguinte. Nesse ano Kurt Sutter mais uma vez não decepcionou e nos presenteou com uma temporada sensacional.

Com o fim se aproximando (a série terminará na sétima temporada), o destino de Jax e do clube vai tomando uma forma sombria. O trailer da próxima temporada destaca, além das dificuldades de Tara na prisão e a ameaça representada por Lee Marshal (ex-oficial de justiça que busca vingança contra o clube), o caos que impera no clube, onde o sentimento irmandade parece estar sendo esquecido aos poucos. Além disso, podemos ver que o novo vice-presidente será Chibs (Bobby entregou o cargo por não concordar com as ações de Jax).
A sexta temporada tem tudo para ser uma das melhores. E tudo indica que será.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Círculo de Fogo


★★★★★
Excelente

Conhecido por seus filmes de terror e fantasia, como "O Labirinto do Fauno", "A Espinha do Diabo" e "Hellboy", o multitarefa Guillermo Del Toro — que já havia produzido "Mama" esse ano — dessa vez se joga de cabeça num sonho antigo seu (e de 90% dos jovens que cresceram  principalmente nos anos 80 e 90): um filme sobre monstros contra robôs gigantes.

Na trama, legiões de monstruosas criaturas, conhecidas como Kaiju, começam a emergir do Oceano (mais precisamente do Círculo de Fogo do Pacífico) e destruir cidades ao redor do mundo, matando milhões de pessoas. Quando as armas convencionais não se mostram o bastante para deter os monstros, a Pan Pacific Defense Corp começa a criar enormes robôs controlados por dois pilotos para defender as cidades. Nasce o Programa Jaeger. A princípio um sucesso, os Jaegers não conseguem resistir por muito tempo devido às aparições cada vez mais frequentes dos Kaijus e ao custo e demora na fabricação e reparo dos robôs.
A PPDC, então, decide suspender os fundos do Programa e dar prioridade à construção de muros em volta das cidades. Contrariado com a decisão, Stacker Pentecost, o responsável pelo Programa Jaeger, decide levar os quatro Jaegers remanescentes para o último post de batalha em Hong Kong, onde pretende liderar um ataque final.


Uma das coisas mais legais do filme é subverter a máxima do herói de ação, na maioria das vezes, americano. Em "Pacific Rim" (título original), a Pan Pacific Defense Corp, organização criada para defender a humanidade dos Kaijus é transnacional. Pentecost, o comandante do Programa Jaeger, é britânico e as equipes que pilotam os quatro robôs principais são da China, Rússia, Austrália e, no caso do Gipsy Danger, um americano e uma japonesa. Raleigh Becket (Charlie Hunnam, da série "Sons Of Anarchy"), um piloto aposentado e traumatizado por um evento do passado, e a inexperiente Mako Mori (Rinko Kikuchi, de Babel) são os personagens principais que se levantam como heróis quando tudo dá errado. E, apesar de Becket ser o óbvio protagonista, uma vez que a personagem de Mori é apresentada, a trama começa a girar em torno dela. Vemos a história através dos olhos de Becket, mas é Mori quem se torna a protagonista do filme.


Se um filme de ação/ficção científica com uma heroína já não é comum em Hollywood, um filme em que a heroína não seja sexualizada, é raridade. Del Toro queria que os personagens e seus dramas fossem o foco do longa, e não seus físicos (ainda assim ele presenteia as mulheres com um Charlie Hunnam sem camisa por alguns segundos) ou, ainda vou mais longe, os robôs. Sim, os robôs são as coisas mais divertidas no filme, mas sem os humanos, eles são milhares de toneladas de metal inanimado. A "alma" desses seres gigantes é o que os move, assim como a alma dos personagens é o que move o filme. Um elemento bem inteligente (e legal, vai!) que mostra isso é a conexão neural que os pilotos precisam fazer para pilotar os Jaegers. Duas pessoas (ou três, no caso dos chineses) compartilharem as mentes quer dizer compartilhar alegrias, tristezas, virtudes, defeitos, medos, decepções, fraquezas, traumas, e tudo o que nos faz humanos. Dentro de um Jaeger os pilotos — e o robô — se tornam um.

O significado disso é muito mais profundo e interessante do que qualquer embate entre um Jaeger e um Kaiju. E devo dizer que as batalhas são excepcionais. Apesar de serem feitas completamente com computação gráfica, não há uma cena em que os movimentos — seja dos seres gigantes, do mar, ou dos ambientes destruídos — soem artificiais. Del Toro e o supervisor de efeitos especiais, John Knoll, passaram semanas discutindo a física dos Jaegers e Kaijus e até os detalhes da reação que eles causariam nos ambientes (como o tremor das janelas de prédios causados pelo deslocamento de ar quando um Jaeger passa por eles). O resultado são efeitos visuais muito reais e impressionantes.


Um elemento que chama atenção na fotografia do filme é as cores, que são bem fortes. Pela primeira vez, Guillermo del Toro e Guillermo Navarro (diretor de fotografia com quem já trabalhou várias vezes) optaram pelas câmeras Red Epic, que tem uma saturação bem intensa de cores — muito maior do que uma câmera analógica. Essa intensidade das cores dá ainda mais vida aos planos que sempre buscam ostentar o tamanho das imensas criações do diretor, frequentemente os mostrando de baixo e os comparando com outros objetos e construições enormes, como arranha-céus, pontes, e até a própria profundidade do mar, onde os Jaegers raramente ficam submersos. Um momento que ilustra bastante essa ideia de proporção e que, particulamente, eu esperava muito desde que vi o trailer, é quando Gipsy Danger usa um navio cargueiro como espada, na batalha contra um Kaiju em Hong Kong (cidade onde a maioria da ação acontece). É um daqueles raros momentos em filmes pipoca em que penso "gostaria ter tido essa ideia" — a sequência da explosão do gramado enquanto um jogador faz um touchdown, em "Batman - O Cavaleiros das Trevas Ressurge", é outro momento desses.

Apesar de suas muitas qualidades, porém, o filme tem seus pontos fracos. A maioria deles mora no roteiro escrito por Travis Beacham e pelo próprio del Toro, que abusa de personagens, situações e diálogos clichês. Temos o comandante casca grossa (o sempre ótimo Idris Elba, de "Prometheus"), o piloto arrogante que rivaliza com o mocinho e o cientista maluco que funciona como escape cômico. Aliás, em "Círculo de Fogo" é uma dupla de cientistas — Newt Geiszler e Gottlieb, irritantemente interpretados por Charlie Day e Burn Gorman, respectivamente. Outro personagem responsável pelo humor é Hannibal Chau, um vendedor de partes de Kaijus no mercado negro, interpretado por Ron Pealman (também de "Sons Of Anarchy", e "Hellboy").
Há ainda situações que soam artificiais, como quando Becket e Mori "checam o pulso" de um Kaiju já morto. Percebe-se claramente que é uma cena apenas com o objetivo de impactar visualmente. Provavelmente na cabeça de Del Toro a cena teria um efeito empolgante ou até cômico quando, na verdade, soa bobo.


Entretanto, os visíveis defeitos e tropeços no roteiro não tiram o mérito do diretor e de seu filme excelente, que não só funciona como bom entretenimento, mas também é capaz de despertar a criança interior de muitos marmanjos, que certamente sentirão uma sensação de nostalgia vendo as batalhas colossais.
E, mesmo sendo cheio de metal e monstros, "Círculo de Fogo" não é um filme bruto, artificial, mas sensível, que envolve o espectador, principalmente pela força de seus personagens. O elo que Guillermo del Toro cria entre Raleigh e Mako é muito bonito. É emocionante quando, perto do final do filme, Raleigh diz à ela "All I have to do is fall, Mako. Anyone can fall". É verdade que a fala teria ainda mais peso se o destino de seu personagem fosse diferente, mas, por tudo o que significa, pela construção da cena, e interpretação de Charlie Hunnam (que merece ser mais conhecido) é um momento comovente e importantíssimo para a história do filme.

"Círculo de Fogo" é um dos melhores filmes do ano, mas com um texto mais cuidadoso seria ainda melhor do que já é. Não é uma produção que visa premiações, ainda assim é capaz de tocar e envolver o público de uma forma que muitos filmes oscarizados não conseguem.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

[Fora de Série] Hannibal - 1ª Temporada


Acho que "Hannibal" é uma boa escolha para começar essa nova seção do blog. A série terminou de ser exibida recentemente no AXN, portanto não precisarei me preocupar com spoilers. Mas, de qualquer forma, já aviso que terá alguns detalhes sobre a primeira temporada.

2013 parece ter sido o ano escolhido para levar o cinema para o mundo das séries. Além de "Hannibal", ainda tivemos "Bates Motel" (que ainda escreverei sobre). Ambas estrearam sob olhares duvidosos, pois explorariam o passado de dois ícones do cinema: Hannibal Lecter (de "Dragão Vermelho" e "O Silêncio dos Inocentes") e Norman Bates (de "Psicose"). Porém, para alegria dos fãs de suspense, as séries foram sucesso de crítica. Apesar de "Hannibal" ter lutado contra a baixa audiência (dificuldade não encontrada por "Bates Motel"), a série conseguiu ser renovada para a segunda temporada, que promete ser muito boa.

Sem mais delongas, desde o início gostei muito da proposta de "Hannibal", que aposta numa mistura de série criminal (com casos semanais), com suspense e drama psicológico. Mesmo quando os casos não tem a ver com o arco principal, a trama evolui através dos personagens. Mas algo que, passada a primeira temporada, ainda não consegui me acostumar, é a retratação completamente diferente de Will Graham (interpretado pelo ator britânico Hugh Dancy, de "The Big C"), que, aqui, tem um "quê" de esquizofrênico — no episódio 10, "Buffet Froid", descobrimos o motivo de seus problemas. Porém, com o tempo, aprendi a ao menos aceitar essa nova abordagem para o personagem. Já o Hannibal Lecter de Mads Mikkelsen (de "Casino Royale" e "A Caça"), mesmo bastante diferente do de Anthony Hopkins, foi do meu agrado. É um personagem misterioso e inteligente que sempre está a um passo a frente dos heróis e, quando não está, consegue virar o jogo ao seu favor. E ver a sua evolução como vilão é algo bem interessante. O jeito como Hannibal vai fazendo de todos os seus cúmplices (de assassinatos e/ou mentiras) é sensacional.


A estética visual de "Hannibal" também chama atenção pela inteligência em elementos como design de produção, direção de arte e fotografia, e pela falta de censura nas cenas de violência, que são bem gráficas. — difícil acreditar que a série é exibida num canal aberto, tamanha violência mostrada. O nível de gore é notável. Um prato cheio pra quem gosta (expressão bem pontual numa história sobre um canibal, aliás). E quando a violência gráfica dialoga com um bom roteiro, o resultado é melhor ainda. Como no início do episódio 9 ("Trou Normand"), quando uma paisagem paradisíaca é seguida por um totem de corpos mutilados, resultando numa bizarra ironia visual. Michael Haneke abre o seu último filme "Amor" com algo parecido, mostrando um corpo morto na cama, no momento em que aparece o título do filme. Algo sutil, mas que funciona muito bem e tem um significado forte na história.
Vale citar a referência a "O Iluminado" feita logo no primeiro episódio e o modo como a série apresenta a forma como Will observa e descobre detalhes da cena do crime, recriando o assassinato, com um tipo de flashback, mas em camadas. Algo bem legal de se ver.

Um detalhe interessante da fotografia da série é a profundidade de campo mínima que é usada na grande maioria das cenas, deixando só os atores focados e "embaçando" o resto do ambiente. Pessoalmente, isso me incomoda. Porém, talvez esse seja o objetivo: causar desconforto. Uma profundidade de campo pequena tende a fazer com que o ambiente pareça menor, causando até uma certa sensação claustrofóbica. Não sei se isso acontece com mais alguém, mas é exatamente isso que eu sentia vendo os episódios. E sendo "Hannibal" uma série psicológica, com um clima quase opressivo (algo bem explorado pela direção de arte), acho que esse detalhe foi fundamental para a construção desse mundo, e mais do que isso, para emular o que os personagens sentem (principalmente Will). Mesmo ainda me incomodando, reconheço que é um recurso genial.


Finalizando, com uma trama interessante, inteligente, violenta e assustadora (para nenhum fã de filmes de terror botar defeito), e poucos pontos fracos (o descuido com alguns personagens, como Bella Crawford e Freddie Lounds, que somem), "Hannibal" teve uma ótima temporada de estreia. O atual triunfo de Hannibal sobre Will, e como o herói irá reverter essa situação e provar sua inocência, já deixa uma alta expectativa para a próxima temporada, que só voltará em 2014. E esse combate entre duas mentes geniais — uma, especialista em prever passos, a outra em refazê-los — provavelmente durará um bom tempo. Isso se a audiência não atrapalhar.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Novidade no blog: [Fora de Série]

Já faz um tempo que penso em ampliar o horizonte das críticas e escrever sobre séries. Tenho adiado pois, além de gostar mais de Cinema (e de escrever sobre), se o improvável dia em que eu serei conhecido pelos meus textos vier, eu quero que seja pelas críticas de Cinema, e não de séries. Porém, como eu tenho tido dificuldade em produzir conteúdo sobre filmes (não é sempre que vejo um que desperte em mim a vontade de escrever sobre e, como esse espaço é pessoal e o tenho como hobby, não me esforço tanto para escrever quando não sinto vontade), acho que com um leque de assuntos maior e mais flexível, o blog ganhará no próprio conteúdo e, principalmente, qualidade. Possivelmente, até em público.

Nas próximas semanas e meses, postarei aqui comentários sobre temporadas de séries como Hannibal, Arrow, Orphan Black e Bates Motel (quando terminar de ser exibida pelo Universal Channel), entre outras. Quem é meu amigo no Filmow, sabe que de vez em quando gosto de comentar sobre vários episódios que acabei de ver, mas não o farei aqui. Prefiro juntar o conteúdo e resumi-lo numa avaliação sobre a temporada. Ainda não decidi, mas talvez, eu poste também algumas notícias e trailers sobre novas temporadas de séries que eu mais gosto.

Mas gostaria de lembrar que o foco do blog continuará sendo as críticas de filmes.

É isso aí. Espero que vocês gostem da novidade.
E não deixem de explorar as outras seções "Esse É Clássico!" e "Curtas".

PS: Quanto ao nome da nova seção, será temporariamente "Fora de Série", mas pensei em "Na TV" que até gosto mais, mesmo sendo mais simples. Se alguém quiser dar sugestões, fique a vontade!

segunda-feira, 29 de julho de 2013

[Curtas] Only God Forgives / Invasão À Casa Branca

Only God Forgives 
★★☆☆☆
Razoável

Um filme visualmente marcante, mas que falha nas questões mais básicas numa produção cinematográfica. A belíssima fotografia, design de produção e direção de arte não salvam o filme, que tem uma trama desinteressante, personagens sem um pingo de carisma e atuações fracas. O diretor foi de Drive (um filmaço), para isso.

"Only God Forgives" é bonitinho, mas ordinário.
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Invasão À Casa Branca
★★☆☆☆
Razoável

Seria mais legal se fosse um filme da série "Duro de Matar". Os filmes do John McClane são forçados, mas com orgulho. É uma linha de filmes de ação sem compromisso com a realidade, visando apenas o entretenimento. Aí esse "Olympus Has Fallen" quer se levar a sério, forçando a barra, com um tom solene, até épico... Complica.
O McClane no lugar do Mike Banning, e um tom mais leve, faria o filme ser bem melhor.
E de acordo com o filme, os EUA são responsáveis pela paz mundial. Tirando a sua frota do lugar desencadearia um caos nuclear. Menos, né...

Mas, como um filme de ação, é bem decente. O problema mesmo é o complexo americano de Deus e as forçações da história.

domingo, 14 de julho de 2013

O Homem de Aço


★★★★☆
Ótimo

Talvez a maior ironia em relação ao Super Homem, o super herói mais famoso da história, é que sua indestrutibilidade é seu maior ponto fraco na disputa com outros heróis pela preferência do público. Com toda sua força, poderes e praticamente nenhuma fraqueza, o kryptoniano se distancia de heróis mais humanos (no sentido falível da palavra), como o Homem Aranha, um fotógrafo pobre com poderes adquiridos por meios radioativos, e Batman, que, apesar de milionário, é um dos heróis mais humanos, por sua vulnerabilidade física e emocional.

A dificuldade de adaptar o personagem para a telona é percebida só de olhar a carreira de Clark Kent no Cinema. Dos 5 filmes lançados, apenas os dois primeiros, de Richard Donner e Richard Lester, são tidos como relevantes. Portanto, Zack Snyder — diretor com muitos filmes de ação no currículo, como "300", "Sucker Punch" e "Watchmen" (um dos melhores filmes de super heróis já feitos) — sabia do peso da responsabilidade (e das duas centenas de milhões de dólares, diga-se de passagem) que estava em suas mãos. Com o sucesso cada vez maior da Marvel, e com o término da saga do Batman, a Warner Bros. precisava de uma nova "super saga" urgentemente. Falhar não era uma alternativa.

E a boa notícia é que Zack Snyder não decepciona. "Man Of Steel", filme mais sobre Kal-el do que Clark Kent, mesmo com seus defeitos, é um ótimo filme, além de ser diferente de tudo que já vimos em adaptações do Superman para as telas, grandes ou pequenas. Esqueça a famosa trilha sonora de John Williams, o inocente e unidimensional Super Homem de Christopher Reeve, a baboseira de defender o "jeito americano" e tudo referente ao filme de Donner e suas sequências. "O Homem de Aço" é bem mais maduro e sério. E isso já era esperado pela presença de dois grandes nomes envolvidos no projeto: Christopher Nolan e David S. Goyer — ambos vindos da trilogia do Cavaleiro das Trevas. Enquanto Nolan aparece apenas como produtor dessa vez, Goyer é responsável pelo roteiro.


A trama de "O Homem de Aço" apresenta muitos elementos de ficção científica, e essa característica é percebida logo nas primeiras cenas do filme, ambientadas em Krypton. Snyder faz uma remontagem bem curiosa do Planeta natal de Kal-el, com um território aparentemente hostil, visualmente decadente, que contrasta com a tecnologia avançada dos kryptonianos — a própria exploração de recursos naturais condenou o planeta a destruição. Aliás, algo bem interessante no design de Krypton é essa contradição entre o moderno e o arcaico. Ao mesmo tempo em que o povo kryptoniano é muito avançado tecnologicamente, seus habitantes mais importantes usam armaduras de batalhas, como os povos antigos da Terra, e suas máquinas, mesmo com visuais "orgânicos", estranhamente parecem datadas. A concepção de arte e o design de produção do filme parecem ter se inspirado nas obras de H.G. Giger. As armaduras, máquinas e cenários de "O Homem de Aço" remetem às obras do criador do Alien mais temido do cinema.

Possivelmente um dos maiores erros do roteiro de Goyer comece exatamente depois da introdução em Krypton — em que, sabendo que o planeta vivia seus últimos dias, Jor-el manda o seu filho recém-nascido para a Terra, contrariando General Zod, que promete achá-lo de qualquer maneira. De lá, somos apresentados a Clark já adulto, trabalhando num barco pesqueiro, onde pela primeira vez vemos um momento heroico do personagem. O problema é a mudança brusca de ambiente. Das cenas de ação em Krypton, o filme já leva o espectador para uma cena de ação no meio do mar. Não há preparação, naturalidade. A partir daí o filme conta a infância de Clark (Lana marca presença rapidamente) e a descoberta de seus poderes por meio de flashbacks, o que pode não ter sido uma boa escolha, por ser um filme sobre a origem de um herói. Por outro lado, a narrativa sendo linear, implicaria em desenvolver bem mais a infância do menino kryptoniano, e não apenas rápidas sequências. O filme, que já tem 140 minutos, poderia ficar bem maior.


A trama ainda tem outros dois problemas que incomodam: a utilização além do necessário de Jor-el (a sua consciência não serve apenas como guia para Kal-el descobrir sua origem) e o paralelo constante de Kal-el com Jesus Cristo — principalmente na sequência da igreja, onde ele divide um enquadramento com a imagem de Jesus num vitral, de maneira nada sutil.
Entretanto, se o roteiro vacila em alguns momentos, acerta em muitos outros, principalmente na construção de Kal-el como pessoa e herói, mesmo que seja algo diferente do que estávamos acostumados. Como nunca antes, vemos e sentimos Clark como um peixe fora d'água. Sofrendo na sua infância com a descoberta de suas habilidades (a frase "Pessoas têm medo do que não entendem" dita por Jonathan para Clark, vale para o próprio, que não entendia o porquê de ser diferente) e quando adulto, vagando de um lugar para o outro, como um nômade — porém, mais sem identidade do que lar.

Apesar de ser filho de dois mundos, Kal-el é estranho em ambos, já que é um alienígena na Terra e, por ser filho de concepção natural, uma abominação para os Kryptonianos — que nasciam já com uma "classe" e propósito estabelecidos (Jor-el, cientista, e Zod, Guerreiro, por exemplo). Todavia, como tudo no filme, há os dois lados da moeda, pois, ainda que não pertença a nenhum dos dois mundos, ele é o único ser livre de sua raça e um deus na Terra. Até Zod, inimigo mortal do Superman e um dos últimos sobreviventes de Krypton, é escravo de sua predestinação. Ele nasceu para proteger seu planeta e irá até o fim para isso.

E até o fim ele vai. Superman precisa testar toda a sua força para parar Zod e salvar a Terra, nem que para isso leve arranha-céus e todo tipo de construções abaixo. O resultado (meio over, é verdade) são cenas espetaculares de luta e destruição em Smallville, Metropolis e até no Espaço. Sim, se você achou que "Superman Returns" não teve ação o suficiente, já aviso que "Man Of Steel" é um prato cheio. O nível de destruição é capaz de ter levado Michael Bay às lágrimas, de alegria e emoção.


Outra coisa resgatada pelo filme, é o carisma do Superman, graças ao britânico Henry Cavill. Ele consegue passar para o público a solidão e o peso que o kryptoniano tem nas costas, com todas as nuances pedidas pelo personagem. Um exemplo de sua boa atuação é num flashback onde Clark, ainda adolescente, discute com seus pais. Em nada lembra o Clark calado que vemos na maioria do filme. Amy Adams interpreta uma Lois Lane forte e decidida, que foge da donzela que sempre precisa ser salva do vilão. Michael Shannon tem sucesso ao dar a Zod uma aura realmente ameaçadora, já o Jor-el de Russel Crowe representa a figura paterna e sábia. Outra figura paterna muito bem representada é Jonathan Kent. Kevin Costner, o melhor no elenco, não precisa de muitos momentos para brilhar como o pai de Clark Kent. Diane Lane também aproveita seu pouco tempo na tela para esbanjar sensibilidade, especialmente na sequência em que ela precisa confortar o seu filho, assustado com os dons recém-descobertos da super audição e visão de raio x. Os atores Cooper Timberline e Dylan Sprayberry, que fazem Clark com 8 e 14 anos, respectivamente, também fazem ótimos trabalhos.

Outro elemento a se destacar é a belíssima trilha sonora do sempre genial Hans Zimmer. Desde o início com o clima de urgência em Krypton, passando pelos momentos mais dramáticos às lutas de Superman com Zod, a trilha se encaixa perfeitamente e emociona. Percebe-se o tom completamente diferente dos filmes do Batman, por exemplo. Zimmer é um compositor que se adapta muito bem aos diferentes tipos de filmes.
Apesar da trilha ser diferente da trilogia do Cavaleiro das Trevas, Christopher Nolan trouxe para "O Homem de Aço" o mesmo clima sério e épico. Não há espaço para muitas piadas, e as poucas que têm são mais visuais, e até bem inteligentes. Em uma delas, vemos um plano fechado na palavra "ALERT" em vermelho logo depois do Governo Americano descobrir a nave de Zod em direção à Terra. Mas logo a câmera abre o plano e é revelado que é o alerta da falta de papel da impressora que Lois usava. A falta de humor tem sido um dos motivos de críticas ao filme, mas eu acho interessante uma pegada mais séria nos filmes da DC Comics, diferentemente dos filmes da Marvel.


Com todos esses altos e baixos, Zack Snyder faz um filme um pouco problemático, mas divertido e eficiente, conseguindo honrar a grandeza que esse personagem representa para a cultura pop. O diretor desmonta o mito de perfeição do Superman, um herói que precisava se inovar e se adequar ao mundo de hoje — um mundo menos colorido (como sua roupa) e onde fazer o certo pode significar sujar suas mãos (como a decisão que ele toma perto do final). Clark Kent passa a se assemelhar, também, com os dois heróis citados no início da crítica — vivendo com pouco dinheiro e buscando seu lugar no mundo.

Percebe-se que é apenas o primeiro passo para o estabelecimento de uma franquia, pois Kal-el ainda parece não ter chegado à maturidade de seus poderes e de sua personalidade. Esse ainda não é o Superman que daqui a alguns anos veremos liderando a Liga da Justiça. Mas, de qualquer forma, foi um bom primeiro passo, e com o pé direito.