quinta-feira, 5 de setembro de 2013

[Fora de Série] Sons Of Anarchy - 5ª temporada



Quem me acompanha no Twitter ou no Facebook, sabe que "Sons Of Anarchy" é a minha série preferida. Não ouso dizer que é a melhor, claro. Reconheço que em matéria de linguagem audiovisual, por exemplo, "Breaking Bad" é superior. Mas o que me cativa e o que faz a criação de Kurt Sutter ("The Shield") dar tão certo é a qualidade do roteiro, que além de ser muito regular, inclui personagens muito bem escritos e desenvolvidos. O texto de Sutter e o seu elenco muito bem escolhido, consegue criar uma relação de cumplicidade entre personagem e espectador quase tão forte quanto o laço de irmandade (cada vez mais frágil) do clube de motociclistas. Mesmo não concordando com muitas de suas ações, amamos aqueles personagens pois, antes de criminosos, eles são humanos, amigos, família.

Prestes a estrear a sexta temporada lá fora (dia 10/09 lá fora, aqui sem previsões), decidi fazer um apanhado do excelente quinto ano, um ano de muitas mudanças na SAMCRO e na personalidade do protagonista Jax Teller (Charlie Hunnam, de "Círculo de Fogo"), que segue o seu rumo — sem volta? — à escuridão.

Nem preciso citar que haverá spoilers à frente, certo?

Jax se firmou como líder do Clube (no verdadeiro sentido da palavra, não só como título), mesmo que isso esteja custando sua "humanidade". A mudança que o personagem sofreu no decorrer da série, principalmente nas duas últimas temporadas, chega a assustar. Ele faz o que tem que ser feito (pelo menos em seu julgamento) e o mundo que se dane. E o pior é que ele, gradativamente, tem se deixado mover pelos sentimentos, principalmente de vingança — por Clay e pelos responsáveis pela morte de Opie (ao ponto de jogar fora anos de relacionamento com os Grim Bastards para matar o cara).


Agora, além de redimir o clube, ele precisa redimir a si mesmo. A perda de controle de Jax vem sido demonstrada pela atuação cada vez mais carregada de Charlie Hunnam. O personagem, que antes se impunha e se destacava por sua clareza de pensamento e soluções criativas para problemas aparentemente sem soluções, ou ao menos sem soluções não violentas — essa segunda característica ainda permanece —, agora, sempre sem paciência, o faz levantando a voz, tentando ganhar discussões no grito.
Por um tempo até cheguei a pensar que Hunnam estava erraticamente se excedendo em suas atuações, já que em várias vezes na série ele conseguiu se impor ou expressar sua raiva, por exemplo, sem precisa gritar (só com um gesto, olhar, entonação de voz, etc). Entretanto, me convenci que ele usa tal recurso para reforçar a mudança de personalidade de Jax, e como ele ficou arrogante e "selvagem" depois de assumir o martelo ("Opie was right. The gavel corrupts. You can't sit in this chair without being a savage").

Mesmo com sua crescente altivez, continua sendo notável a habilidade de Jax de fazer situações que parecem sem saída se virarem ao seu favor. O próprio Damon Pope (Harold Perrineau, de "Lost") reconheceu essa habilidade: "Finding the hidden advantage in an unfortunate circumstance. Using pain to take it to the next level. Those are the things that turn players into kings." Usar a arma de Clay para matar Pope (eu gostava dele, descanse em paz) foi um jogada de gênio. Matou 2 coelhos com uma cajadada só.


Para ser sincero, eu achava que Clay (Ron Perlman) morreria no final da temporada e, até alguns episódios antes, que ele faria o papel de vilão até o seu fim. Essa questão talvez tenha sido a única decisão errada de Sutter na temporada. Fazer o vilão se arrepender de tudo que fez e tentar se redimir é um recurso batido para criar empatia com o público durante a fase final do personagem, e dificultar a decisão do (anti) herói sobre qual será o destino — que, no caso de SoA, não há meio termo para um personagem que vacilou tanto: ou te deixam viver, ou te matam (não acredito que Clay ficará preso por muito tempo).

Porém, a série não chega a perder pontos por causa disso. Desde o início eu gostava do Clay, apesar de seu lado desumano, e confesso que foi bom vê-lo se arrepender. Agora ele que está sofrendo. Deu pra sentir a dor dele ao ser traído por Gemma e Juice (Katey Sagal e Theo Rossi, respectivamente). Falando no Juice, ele foi um dos personagens mais importantes da quarta temporada, mas nesse ano se resumiu a capacho do Clay. Ele sempre foi um dos mais queridos pelo público, até por ter um lado ingênuo, mas a facilidade com que é manipulado já está incomodando. Duas temporadas, direto. Fora que a culpa por suas ações continua crescendo. Será que ele tentará cometer suicídio novamente? Tentando ou não, algo me diz que ele não sobreviverá à sexta temporada.


A relação de Gemma e Tara, é outra coisa que se deteriorou na série. Particularmente, eu gostava mais quando as duas eram amigas (2ª e 3ª temporada). No início da série elas se odiavam, depois aprenderam a gostar uma da outra e criaram uma bonita amizade, agora voltaram a ser antagonistas, e para sempre, pelo jeito.
Uma das coisas mais legais desse ano foi a entrada de Jimmy Smits pro elenco. Simpático e com boas tiradas, o seu personagem, Nero Padilla, ganhou o público logo em sua primeira aparição. Belíssimo trabalho de Smits. E, ainda no território de relacionamentos, a amizade/parceria criada entre Nero e Jax foi muito importante para os dois personagens. Reformado de sua vida no crime, Nero funcionava como um conselheiro de Jax. Todavia, não só não conseguiu colocá-lo no caminho certo, como acabou voltando para o mundo criminoso.

Muitas cenas fortes marcaram a quinta temporada. A morte de Opie (Ryan Hurst) foi um dos momentos mais emocionantes de toda a série. Vendo em retrospectiva sua jornada, porém, o seu destino não poderia ser menos dramático. Desde a primeira temporada Opie foi retratado como um personagem infeliz e em conflito, que precisava escolher entre a família e o clube. Acabou acusado de trair o clube, perdeu a esposa, mais tarde se casou de novo (com Lyla), não deu certo e ainda perdeu o pai, Pyne, assassinado por Clay na quarta temporada.
A última temporada ainda teve dois outros momentos de impacto. A filha de Tig (Kim Coates) sendo queimada viva por Pope, logo no primeiro episódio, e a sequência em que Otto (interpretado pelo próprio Kurt Sutter), outro personagem que há anos sofre pelo clube, assassina uma enfermeira da prisão com um crucifixo, mais uma vez provando sua lealdade aos seus irmãos (depois de quase os trair), mas, por outro lado, complicando a vida de Tara, que tinha levado o crucifixo a ele ("Sons live, Redwood bleeds.").


A temporada termina com Tara sendo presa e Gemma, aparentemente, voltando a ser a figura materna (que sempre teve um grande valor na série) na vida de Jax. A última cena do season finale, por sinal, foi muito bem pensada. Gemma em pé abraçando Jax, sentado, contrasta com a última imagem da quarta temporada, quando era Tara que o abraçava. E, na minha opinião, a quarta temporada deveria ter terminado assim. Não tinha necessidade alguma da foto antiga de John Teller e Gemma surgir na tela "explicando" a referência ao espectador. Lembro que na hora até senti minha inteligência sendo subestimada. Mas esse é um daqueles comuns tropeços que não comprometem o resultado final.

[Foto da Gemma com Jax]


No início do texto comentei sobre a regularidade da série. E é impressionante como "Sons Of Anarchy" não tem uma temporada ruim. Ainda mais, não tem um episódio ruim. Mesmo na terceira temporada, que considero a "menos boa", não consigo lembrar de um episódio fraco. Todos desenvolvem bem a história, os personagens, tem boas cenas, te fazem querer ver logo o seguinte. Nesse ano Kurt Sutter mais uma vez não decepcionou e nos presenteou com uma temporada sensacional.

Com o fim se aproximando (a série terminará na sétima temporada), o destino de Jax e do clube vai tomando uma forma sombria. O trailer da próxima temporada destaca, além das dificuldades de Tara na prisão e a ameaça representada por Lee Marshal (ex-oficial de justiça que busca vingança contra o clube), o caos que impera no clube, onde o sentimento irmandade parece estar sendo esquecido aos poucos. Além disso, podemos ver que o novo vice-presidente será Chibs (Bobby entregou o cargo por não concordar com as ações de Jax).
A sexta temporada tem tudo para ser uma das melhores. E tudo indica que será.

5 comentários:

  1. Israel, belíssimo texto!
    Olha, eu estava precisando mesmo de uma retrospectiva para a estreia de hoje, viu. Valeu por indicar o link no Twitter.
    Adorei o texto todo e concordo com todos os elogios, porém tenho que fazer uma ressalva sobre o Clay.
    Eu era uma que também JURAVA que ele ia morrer, e fiquei puta demais quando vi o cara sair vivo da história. Mas depois concluí que sua sobrevivência foi mais acerto do que erro. No caso, com ele vivo o "chapéu de vilão maior" passa para Gemma, que é a verdadeira causa de todas as desgraças causadas por ele. Pode parecer estúpido, mas é como o próprio Clay disse: ele fez tudo por uma vagina.
    Ela o manipula ao seu bel prazer desde o começo, desde quando John Teller estava vivo. E ela vem manipulando Jax, Tara, Unser, Nero... e todo mundo que vive ao redor dela. Para mim, este pode ser o maior trunfo da série, uma vez que não temos ideia de como Jax, o agora "rei selvagem", lidará com sua mãe quando descobrir que ela é o demônio por trás da maioria das desgraças de sua vida. Deus, como eu quero ver isso!
    E numa coisa você está mais que certo: a sexta temporada tem tudo pra ser uma das melhores.
    Boa sexta temporada de SOA pra você!

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    1. Obrigado, Arlane! E desculpa por só responder o seu comentário agora.

      Eu tenho que concordar com vc em relação à Gemma. Isso que vc falou é verdade. Pior que, mesmo assim, eu não consigo não gostar dela! Do jeito que o Jax tem mudado eu acho que, quando descobrir tudo, ele não vai ter muito conflito em matá-la. E eu vou ficar muito triste com isso! Hehehe.
      Eu acho ela um excelente personagem, que errou muito no passado, mas que durante os últimos anos tem feito tudo para corrigir os erros (ou ao menos escondê-los), mesmo cometendo outros erros no caminho. Atualmente eu não a vejo como vilã, mas o seu passado como tal, a compromete. Com o clube e com o seu próprio filho.
      E eu não acho que o Clay fez tudo por uma "pussy". Certas coisas sim, mas um tanto de maldade que ele fez ultimamente, não. Ele querer acreditar nisso já é outra história.

      Essa sexta temporada começou boa, e parece que a partir do episódio 4 vai ficar melhor ainda!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Alguém tem o link para baixar a nova temporada?

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