quarta-feira, 14 de agosto de 2013

[Fora de Série] Hannibal - 1ª Temporada


Acho que "Hannibal" é uma boa escolha para começar essa nova seção do blog. A série terminou de ser exibida recentemente no AXN, portanto não precisarei me preocupar com spoilers. Mas, de qualquer forma, já aviso que terá alguns detalhes sobre a primeira temporada.

2013 parece ter sido o ano escolhido para levar o cinema para o mundo das séries. Além de "Hannibal", ainda tivemos "Bates Motel" (que ainda escreverei sobre). Ambas estrearam sob olhares duvidosos, pois explorariam o passado de dois ícones do cinema: Hannibal Lecter (de "Dragão Vermelho" e "O Silêncio dos Inocentes") e Norman Bates (de "Psicose"). Porém, para alegria dos fãs de suspense, as séries foram sucesso de crítica. Apesar de "Hannibal" ter lutado contra a baixa audiência (dificuldade não encontrada por "Bates Motel"), a série conseguiu ser renovada para a segunda temporada, que promete ser muito boa.

Sem mais delongas, desde o início gostei muito da proposta de "Hannibal", que aposta numa mistura de série criminal (com casos semanais), com suspense e drama psicológico. Mesmo quando os casos não tem a ver com o arco principal, a trama evolui através dos personagens. Mas algo que, passada a primeira temporada, ainda não consegui me acostumar, é a retratação completamente diferente de Will Graham (interpretado pelo ator britânico Hugh Dancy, de "The Big C"), que, aqui, tem um "quê" de esquizofrênico — no episódio 10, "Buffet Froid", descobrimos o motivo de seus problemas. Porém, com o tempo, aprendi a ao menos aceitar essa nova abordagem para o personagem. Já o Hannibal Lecter de Mads Mikkelsen (de "Casino Royale" e "A Caça"), mesmo bastante diferente do de Anthony Hopkins, foi do meu agrado. É um personagem misterioso e inteligente que sempre está a um passo a frente dos heróis e, quando não está, consegue virar o jogo ao seu favor. E ver a sua evolução como vilão é algo bem interessante. O jeito como Hannibal vai fazendo de todos os seus cúmplices (de assassinatos e/ou mentiras) é sensacional.


A estética visual de "Hannibal" também chama atenção pela inteligência em elementos como design de produção, direção de arte e fotografia, e pela falta de censura nas cenas de violência, que são bem gráficas. — difícil acreditar que a série é exibida num canal aberto, tamanha violência mostrada. O nível de gore é notável. Um prato cheio pra quem gosta (expressão bem pontual numa história sobre um canibal, aliás). E quando a violência gráfica dialoga com um bom roteiro, o resultado é melhor ainda. Como no início do episódio 9 ("Trou Normand"), quando uma paisagem paradisíaca é seguida por um totem de corpos mutilados, resultando numa bizarra ironia visual. Michael Haneke abre o seu último filme "Amor" com algo parecido, mostrando um corpo morto na cama, no momento em que aparece o título do filme. Algo sutil, mas que funciona muito bem e tem um significado forte na história.
Vale citar a referência a "O Iluminado" feita logo no primeiro episódio e o modo como a série apresenta a forma como Will observa e descobre detalhes da cena do crime, recriando o assassinato, com um tipo de flashback, mas em camadas. Algo bem legal de se ver.

Um detalhe interessante da fotografia da série é a profundidade de campo mínima que é usada na grande maioria das cenas, deixando só os atores focados e "embaçando" o resto do ambiente. Pessoalmente, isso me incomoda. Porém, talvez esse seja o objetivo: causar desconforto. Uma profundidade de campo pequena tende a fazer com que o ambiente pareça menor, causando até uma certa sensação claustrofóbica. Não sei se isso acontece com mais alguém, mas é exatamente isso que eu sentia vendo os episódios. E sendo "Hannibal" uma série psicológica, com um clima quase opressivo (algo bem explorado pela direção de arte), acho que esse detalhe foi fundamental para a construção desse mundo, e mais do que isso, para emular o que os personagens sentem (principalmente Will). Mesmo ainda me incomodando, reconheço que é um recurso genial.


Finalizando, com uma trama interessante, inteligente, violenta e assustadora (para nenhum fã de filmes de terror botar defeito), e poucos pontos fracos (o descuido com alguns personagens, como Bella Crawford e Freddie Lounds, que somem), "Hannibal" teve uma ótima temporada de estreia. O atual triunfo de Hannibal sobre Will, e como o herói irá reverter essa situação e provar sua inocência, já deixa uma alta expectativa para a próxima temporada, que só voltará em 2014. E esse combate entre duas mentes geniais — uma, especialista em prever passos, a outra em refazê-los — provavelmente durará um bom tempo. Isso se a audiência não atrapalhar.

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