domingo, 29 de dezembro de 2013

[Curtas] Especial Woody Allen

Eu não sou um exímio conhecedor da vasta filmografia de Woody Allen. Se vi metade de suas 48 produções, é muito. Mas como admirador de sua arte, decidi fechar 2013 com um especial desse roteirista/diretor, que pode ser pequeno em altura, mas é grande em genialidade. Aqui no blog eu só havia escrito um texto sobre "Meia Noite Em Paris", que, misteriosamente, foi apagado. Escolhi 7 filmes para comentar. O critério da escolha não foi por ordem de preferência ou fase da carreira (apesar da maioria ser da década de 70). Como tenho visto vários dos seus filmes, escolhi os que vi recentemente e, portanto, tenho mais base para comentar.

Bananas (1971)

"Bananas" foi apenas o terceiro filme da carreira de Allen e percebe-se que, mesmo ainda mostrando um pouco de inexperiência, ele já era genial. O humor, bem mais cru que em seus filmes atuais, lembra bastante Monty Python em alguns momentos, e, apesar de não tanto como em "O Dorminhoco", ainda há referências a Charlie Chaplin (a máquina que permite fazer exercícios sem parar de trabalhar remete a "Tempos Modernos", e o seu encontro com Stallone no metrô, junto com a trilha sonora do momento, lembra as caretas que Chaplin fazia em situações controversas). Destaque também para a piada com a trilha sonora — na sequência no quarto do hotel —, que é, na verdade, diegética. E isso tudo ainda fazendo uma crítica política aos EUA, que já chegou a "patrocinar" ditaduras na América Latina (e até no Oriente Médio) naquele tempo.
Mesmo apelando para um humor pastelão demais em alguns momentos, "Bananas" consegue divertir bastante ao trazer momentos hilários e de um humor bem sagaz.


A Última Noite de Boris Grushenko (1975)


Mais um filme do diretor que parece transbordar criatividade. Me impressiona como ele acha cenários tão diferentes e bizarros para fazer suas reflexões, e como elas são acompanhadas de humor de primeira categoria. As piadas com as palavras, com o idiota do vilarejo, as suas experiências com a morte e os momentos de subjetividade mental (quando "entramos" na mente dos personagens, no caso, Boris e Sonja) são alguns pontos altos do filme.
Como em outros filmes, até há vezes que as piadas não funcionam, mas os grandes momentos nos fazem relevar essas partes.
Apesar de ter algumas coisas que me incomodam, "Love And Death" (no original) talvez tenha lugar no meu Top 5 do diretor.

Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)

Meu preferido do Woody Allen até agora. Roteiro criativo e divertido, montagem perfeita, e boa atuação e direção do Allen. A Diana Keaton está demais e mereceu o Oscar.
O recurso da quebra da quarta parede, apesar de ser utilizado várias vezes, não cansa e é bem utilizado, pois funciona bem dentro do propósito do filme. Assim como a imaginação de Alvy o permite "conversar" com figuras do seu passado, ela também o permite conversar conosco.
"Annie Hall" (que recebeu um título bizarro no Brasil), é um filmaço, que não é só bem escrito, mas se utiliza muito bem da linguagem cinematográfica, se transformando num belo estudo sobre Cinema.

Manhattan (1979)


Ao mesmo tempo em que "Manhattan" é uma homenagem à Nova York (quando todos os personagens "abandonam" Isaac, ele ainda tem, e sempre terá, a cidade pela qual é apaixonado), o filme é um belo conto sobre a efemeridade do amor, dos relacionamentos e de nós, humanos. Não à toa Isaac e Yale discutem sobre toda a questão numa sala com vários esqueletos.
Um dos melhores filmes do Woody Allen, na minha opinião. Personagens interessantes, roteiro inteligente (como se isso fosse novidade), e uma ótima fotografia.


Rosa Púrpura do Cairo (1985)


Gosto muito de como o Woody Allen faz esse diálogo recorrente entre realidade e fantasia nos seus filmes — sendo a fantasia quase sempre mais interessante que a realidade. Apesar de eu não gostar tanto de "Meia Noite em Paris" (podem me chamar de insensível), curti bastante esse "A Rosa Púrpura do Cairo" e, ainda mais, "Desconstruindo Harry", por exemplo.
No geral, achei um bom filme, apesar de um pouco meloso e inocente demais em alguns momentos.

Desconstruindo Harry (1997)


Um dos filmes mais criativos e um dos melhores que vi até agora. Mais uma vez Woody Allen mistura realidade e ficção, mas dessa vez de uma forma bem mais eficiente e divertida que em "Rosa Púrpura do Cairo", por exemplo. É bem interessante a forma como o protagonista Harry pegava características de conhecidos para criar personagens.
E nesse filme vemos um Woody Allen mais "sujo", com um humor mais pesado. O sexo, por exemplo, sempre esteve presente em seus filmes, mas se você pegar obras mais recentes como "Vicky Cristina Barcelona", ou até "Match Point", nota que esse elemento é usado mais com um teor sensual do que sexual mesmo. Em "Desconstruindo" — como em outros filmes antigos de sua fase mais antiga —, Allen, aborda o tema sem frescura, não tão visualmente, mas na maioria dos diálogos, até porque o sexo faz bastante parte da vida do protagonista.
Gostei também da forma como o diretor brinca com elementos da linguagem cinematográfica, como o ator fora de foco (que funciona como metalinguagem), os vários cortes numa só sequência (que funcionam como pequenas elipses), etc.
Um grande filme.

Tudo Pode Dar Certo  (2009)


Um filme que já começa quebrando a 4ª parede (em "Annie Hall", o recurso é usado mais para frente) do jeito que o personagem de Larry David faz, ou será um filme descompromissadamente divertido ou vai acabar caindo na sua própria pretensão. Porém, vindo do Woody Allen, é mais provável que seja a primeira opção. E ele não decepciona.
O filme é cheio de diálogos geniais (principalmente por parte do Larry David, que interpreta uma versão do próprio Allen em filmes anteriores) e personagens que, a princípio, podem nem ser tão interessantes, mas que tomam rumos super inesperados, justificando a presença deles ali, e somam muito na história.
No elenco, Larry David e a sempre ótima Patricia Clarkson se destacam. Já Evan Rachel Wood não consegue convencer como "a menina sulista inocente". Até porque já faz um tempo que ela não tem cara de menina. Muito menos inocente. Achei que o personagem dela ficou muito caricato.
Depois de dois filmes mais sérios ("O Sonho de Cassandra" e "Vicky Cristina Barcelona"), Woody Allen volta para a Comédia, e para Nova York — quase como um retorno às suas origens. E ele volta inspirado. "Whatever Works" é um ótimo filme.

2 comentários:

  1. Chegou a ver Blue Jasmine?
    Gostei bastante; pra mim, é um dos melhores filmes do Woody Allen.

    Preciso ver mais filmes dele. Mas são tantos, que fica difícil escolher, haha.
    Vou procurar alguns citados por você.

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    1. Recentemente vi um ótimo dele também: Zelig. Entrou no meu Top 5.
      Vi Blue Jasmine e achei legal, mas nada sensacional. Se não fosse a Cate Blanchet (que merece o Oscar) o filme nem seria tão bom. Eu não curto tanto essa fase atual do Woody Allen.

      Mas achei bem interessante a paleta de cor usada no filme. Muito amarelo/dourado. Em toda cena tem alguma coisa amarela ou dourada, seja no figurino, direção de arte ou até a fotografia, que parece manipular o tom da imagem às vezes.

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