segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Argo - Oscar 2013

★★★★☆
Ótimo

Apesar de já atuar desde 1981, Ben Affleck entrou definitivamente no radar de Hollywood em outra profissão: como roteirista. Junto com seu amigo Matt Damon, ele escreveu o longa "Gênio Indomável" em que também ambos atuaram. A estreia da dupla foi tão boa que eles foram reconhecidos com o Oscar de melhor roteiro em 1998. Até então Affleck só tinha atuado em papéis menores. De uma certa maneira, a sua carreira como ator se deve muito a sua de roteirista (o mesmo caso vale para Matt Damon).

A partir dali, Affleck se dedicou apenas a atuação, passando 10 anos sem se envolver com o que acontece por trás das câmeras. Porém, em 2007 ele voltou à atividade que catapultou sua carreira e roteirizou o filme "Medo da Verdade", que também foi sua estreia na direção. Três anos depois ele voltou a roteirizar e dirigir, com o filme "Atração Perigosa". Ambos os filmes foram muito bem recebidos pela crítica, colocando o seu nome entre os melhores diretores novatos.

Em "Argo", Ben Affleck dá mais um passo para se firmar no seleto grupo dos bons atores/roteiristas/diretores atuais. Dessa vez só dirigindo (o roteiro é de Chris Terrio), ele tem sido lembrado e premiado em várias premiações, porém foi "esnobado" no Oscar — seu nome, para a surpresa de muitos, não apareceu na lista de indicados a Melhor diretor. Em compensação, depois de ganhar premiações como o SAG e PDA, o filme desponta como favorito à estatueta de Melhor Filme.

O filme, baseado em fatos, conta a história de uma operação secreta da CIA para resgatar um grupo de americanos refugiados na casa do Embaixador do Canadá, no Irã, durante a revolução no País. O plano criado por Tony Mendez (Ben Affleck, que também protagoniza o filme) foi bem curioso e tinha tudo para dar errado: criar um falso filme do zero, entrar no Irã como desculpa de filmar lá e resgatar o grupo, que receberiam novas identidades com cidadania canadense, e seriam parte da equipe de filmagem do filme.


Uma das coisas mais legais em "Argo", é mostrar todo o processo de criação de um filme. Vemos a escolha de um roteiro, a burocracia na área ("Preocupado com o Aiatolá? Não conhece o Sindicato dos Roteiristas."), a produção, como os cartazes e storyboards, figurinos, e a divulgação na imprensa, inclusive com uma grande festa onde acontece um table-read (onde atores lêem o roteiro do início ao fim)tudo bancado pela CIA, vale dizer. Com 2 horas de duração e uma história que aborda um tema maior, obviamente não dá para entrar nos mínimos detalhes mas, mesmo assim, é divertido ver como o mundo Holywoodiano funciona.

Affleck tem uma atuação sóbria e contida, parecendo não querer que seu Tony Mendez apareça mais do que os outros personagens (afinal não há apenas um herói no filme, e sim vários) e a própria história. O seu elenco de apoio é de primeiro escalão. Os sempre excelentes Alan Arkin e Bryan Cranston estão ótimos, assim como John Goodman. O núcleo dos refugiados, embora composto por atores não tão conhecidos do grande público, também está muito bem, passando o clima de tensão e o estado de espírito dos personagens com perfeição.

Assim como em "Atração Perigosa" (nem tanto em "Medo da Verdade"), Ben Affleck tem sucesso em criar uma conexão entre os personagens e o público. O público consegue se importar até mesmo com personagens de menor expressão e entender o que eles sentem — mérito também dos atores, sem dúvida.
Numa sensível demonstração de ironia e olhar crítico, o diretor faz questão de mostrar rapidamente uma iraniana comendo no KFC, uma das redes americanas de fast food mais conhecidas, constrastando fortemente com o clima de perseguição a americanos. Porém, logo em seguida ele mostra uma pessoa enforcada em público, para lembar-nos que realmente ali realmente não é um dos melhores lugares para se estar.

Aliás, se há uma coisa que Affleck tem aprimorado em sua carreira como diretor é a forma como ele cria tensão em suas produções. A própria escolha por usar imagens de arquivo reais, para situar o espectador a cada desdobramento da história ajuda nisso, criando um clima de urgência, alarmismo. Esse recurso, quando bem utilizado, sempre dá mais credibilidade ao filme. E essa tensão impera durante todo o filme, desde seus primeiros minutos, atingindo o auge na sequência do aeroporto. Assim como os personagens, sabemos que cada minuto a mais que o grupo passa no Irã, eles estão mais próximos de um final não muito feliz. É claro que o filme provavelmente tem mais obstáculos que de fato ocorreu (a reserva da passagem que não aparece no sistema da companhia aérea na primeira vez, soa forçado), mas numa produção cinematográfica, isso é muitas vezes preciso. E ele cria esse clima como poucos. Mesmo já sabendo como o filme irá terminar, ficamos com o "coração na mão" ao testemunhar o que os personagens têm que passar até chegar aos seus conhecidos destinos na história.


Embora não ache que "Argo" seja o melhor entre os nove indicados a melhor filme, eu ficaria muito satisfeito se o filme levasse a estatueta. O filme é interessante, inteligente, tenso, tem seus momentos engraçados e, sem dúvida alguma, se conecta mais com o público do que o outro favorito, "Lincoln", que é um filme político, mais difícil.
A vitória de "Argo" significaria a quebra desse costume da Academia de premiar filmes mais artísticos, que não se conectam tanto com o público. Não seria a primeira vez que um filme popular ganharia, mas seria uma das poucas vezes. E numa premiação que cada vez perde mais audiência, a aproximação com o público é necessária. A Academia, que tem fama de ser conservadora, já começou a tentar falar a mesma linguagem da audiência ao aumentar a lista de indicados a melhor filme de 5 para até 10, tendo espaço para filmes mais populares. Porém, mesmo assim, continua coroando na maioria das vezes filmes "frios", que, muitas vezes, nem são os melhores.

Mesmo não tendo sido indicado a Melhor diretor, a vitória de "Argo" na maior premiação do Cinema seria um justo reconhecimento da ainda curta porém ascencional carreira de Ben Affleck.

Argo
EUA, 2012 - 120 min.
Suspense/Drama
Direção: Ben Affleck

Roteiro: Chris Terrio
Elenco: Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arking, John Goodman, Victor Garber, Tate Donovan, Clea DuVall, Zeljko Ivanek
Indicações ao Oscar: Melhor filme, Melhor ator coadjuvante, Melhor roteiro adaptado, Melhor trilha sonora original, Melhor montagem, Melhor edição de som, Melhor mixagem de som

*Em negrito os prêmios ganhos 

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