sábado, 15 de dezembro de 2012

Armas matam pessoas, sim.

Vamos chegando no final de 2012 e somos surpreendidos, mais uma vez, por um atentado com armas de fogo nos Estados Unidos (mais uma vez). O sétimo só nesse ano. Se já não fosse terror o suficiente o último em que um maluco vestido de Coringa entrou atirando num cinema, matando 12 pessoas e ferindo 38, agora temos um atirador, numa escola primária, que matou 20 crianças e 6 adultos. Foi o segundo ataque com mais vítimas na história dos Estados Unidos (em 2007 um estudando coreano deixou 33 mortos numa universidade na Virginia), mas que choca ainda mais por ter sido cometido contra crianças.

Ataques como esse sempre levantam a questão da regulamentação das armas no país, que é próximo a 0. Obama comentou, emocionado, sobre o atentado de hoje, mas falou que não é hora de discutir o assunto. Na verdade, é o momento perfeito. As pessoas precisam falar sobre isso. A cada vez que o assunto não é discutido, é tarde demais. Às vezes é melhor discutir no calor do momento do que adiar indefinidamente a discussão enquanto inocentes morrem. E mais difícil do que entender como uma pessoa é capaz de matar crianças a sangue frio, é entender como, após tantos massacres como o de hoje, tem gente que consegue não defender um controle rigoroso de armas nos EUA. Desde Columbine, em 1999, estima-se que aconteceram 14 ataques a escolas em todo o mundo. Nos Estados Unidos, nada menos que 31. Mais que o dobro.

"Mas é um problema cultural lá, eles sempre tiveram armas". Já passou da hora dessas pessoas (a Direita, principalmente) pararem de pensar no próprio nariz. A mesma lei que as permite ter um monte de armas, incluindo armamentos militares, para "se defender" permite que esses psicopatas cometam esse tipo de atentato todo ano. Sempre têm aqueles que vão dizer: "Armas não matam pessoas. Pessoas matam pessoas". É como se quisessem tirar a responsabilidade da arma de fogo, quando o próprio objetivo dela é ferir ou matar — daí o nome, arma. Fora que é a mesma lógica que dizer que aviões não voam. Pessoas voam. Um é meio para o outro. Ok, pessoas matam com outros tipos de arma, mas não tem como comparar a letalidade. Hoje mesmo na China um homem foi preso depois de ferir 22 crianças com uma faca. Quantos mortos? NENHUM. Em 2010 teve uma série de atentatos com facas a escolas, também na China, com o total de 20 mortos. O número de vítimas fatais num atentado com armas de fogo é massivamente superior ao com facas, por exemplo. E o que a China fez: obrigou pessoas que compravam facas grandes a se registrar com suas carteiras de identidade. Não foi uma medida extrema (até porque facas não tem como o único objetivo matar), mas ajudou a controlar a situação na época.
E se alguém me responder por que um cidadão normal precisa desse tipo de arma para se defender, ajudaria nessa discussão:


Sim. Essa foi uma das armas usadas no Massacre na escola de Connecticut.

Aí vem um americano no twitter me perguntar: "Então você acredita que criminosos seguem leis de armas (no caso, de controle de armas)? Se uma lei para desarmar cidadãos fosse aprovada, apenas criminosos estariam armados. O quão seguro é isso?"

O que eu penso, e que foi mais ou menos a minha resposta: Aham, todo mundo portando armas é MUITO mais seguro... Quantos desses atiradores, foram parados por cidadãos comuns armados? Geralmente eles têm três fins: são presos (o mais raro), se matam, ou são mortos por policiais. Muitos criminosos nos EUA compram armas legalmente. Tendo um controle, criminosos não parariam de comprar armas, mas pelo menos dificultaria o processo de conseguí-las, e o Estado não estaria "patrocinando" essas tragédias. Como morador de um país violenta, onde cidadãos comuns não compram armas, tenho certeza absoluta que se tivéssemos armas, não adiantaria nada. E que uso teria pra mim um rifle automático com mira e o escambau?

Não só nos Estados Unidos é permitido que cidadãos comprem armas, mas é lá que a maior incidência de eventos violentos como o de hoje ocorre. Meu objetivo não é entrar na discussão do porquê que tantas pessoas fazem isso. Mas sim o porquê de tantas pessoas terem ferramentas para fazer isso.
Quando você tem um paciente suicida, a primeira coisa a fazer é tirar a faca (ou qualquer coisa que ele possa usar contra si mesmo) de perto. E então ele será tratado psicologicamente. Talvez esse seja o caminho a se tomar. Tirar, ou controlar, a ferramenta que causa a destruição, para então tratar a sanidade mental de uma nação onde pessoas têm sofrido tanto com guerras e tragédias.

2 comentários:

  1. Lá, diferente de cá, não há controle sobre armas, que podem ser conseguidas muito facilmente, até como brinde (vide o documentário de Michael More, "Tiros em Columbine"). Aqui, mais que lá, morrem mais pessoas (jovens principalmente) por conta de arma de fogo. Mas é lá que massacres como esse acontecem com mais frequência. Ou seja, são duas realidades distintas mas com o mesmo peso. Então, com controle ou sem controle, é inerente ao ser humano querer destruir o próximo. Claro, nem todos somos assim, mas malucos existem por todo o canto. É bom ficar de olho...

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    1. É verdade. Concordo com você, Rafael. O desdém pela vida humana existe em tudo quanto é lugar.
      O chato é muitas pessoas falarem que, pelo fato de aqui morrerem mais pessoas por armas, a gente não pode falar sobre isso. O sentimento de impotência é o mesmo. Eu sinto pelas vítimas de lá, como sinto pelas vítimas daqui. Eu vejo jornais hoje em dia pensando "Onde chegamos? Como alguém consegue matar alguém tão facilmente?". E é ainda pior por vivermos numa cidade onde somos reféns, dia após dia, de bandidos que não pensam duas vezes antes de matar. Porém, o que me choca AINDA MAIS são pessoas que PENSAM duas vezes antes de matar. Pessoas que passam dias, meses tramando um massacre desse. Pô, eu fiquei chocado com esse massacre em Connecticut assim como fiquei com o cara que matou 11 naquela escola aqui do Rio ano passado. A diferença é que ataques desse tipo, tramados, não acontecem com frequência aqui. E não conseguimos comprar arma em qualquer loja na esquina de casa.

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